sábado, 1 de junho de 2013

Portugal - Silva Pereira. "Não devemos esperar nada do Presidente da República"

 

Pedro Rainho – Jornal i
 
O ex-ministro da Presidência de José Sócrates diz que Cavaco Silva "não tem estado à altura do juramento que fez da Constituição" e "daquilo que se espera das funções presidenciais"
 
O ex-ministro Pedro Silva Pereira participou no encontro promovido por Mário Soares com o lema "Libertar Portugal da Austeridade" e defende que "a prioridade número um do país" deve ser demitir o governo liderado por Passos Coelho. Numa entrevista ao i no final da iniciativa que reuniu o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda na Aula Magna, o ex- -ministro e braço-direito de José Sócrates faz duras críticas ao governo, mas também ao Presidente da República, que "patrocinou esta obsessão governativa desde o início" e "antes mesmo de ela existir". Já em relação a António José Seguro, Pedro Silva Pereira, que desencadeou o processo de antecipação do congresso do PS, diz que o actual secretário-geral tem hoje "uma liderança consolidada".
 
Foi possível reunir na mesma sala o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda. Como encara a possibilidade de um governo alargado de esquerda?
 
Creio que esta sessão serviu sobretudo para sublinhar uma convergência a propósito da necessidade de parar a política de austeridade. E esse é o começo de tudo, porque realmente o país chegou a uma situação em que a prioridade número um é realmente demitir o governo. O governo está a fazer mal ao país. Quanto a soluções governativas, não foi uma sessão de debate de soluções. E creio que nesse domínio há um caminho a fazer. Julgo que há vontade de convergências, mas uma convergência depende sempre de um compromisso. E esse compromisso tem de ser exteriorizado por uma disponibilidade dos partidos políticos.
 
Há espaço para ir além dos debates públicos e conseguir uma coligação, que até hoje nunca foi possível entre os partidos de esquerda?
 
O que creio é que esta sessão sublinhou uma dinâmica de oposição ao governo. Construir uma alternativa é muito mais do que isto. Construir uma alternativa e um consenso governativo é mais do que isto. É preciso um compromisso, uma agenda governativa. E esse não era o objectivo deste encontro, mas creio que se a esquerda compreender esta urgência percebe também que tem de oferecer ao país uma alternativa e não apenas protesto.
 
O diálogo à esquerda tem sempre sido difícil de manter. O facto de ser difícil conseguir consensos entre o PS e o governo está a contribuir para a aproximação entre os partidos de esquerda que estão na Assembleia da República"?
 
O governo tem fomentado todas as oposições. As oposições à esquerda e as oposições à direita dentro dos partidos da maioria, dentro do próprio governo. Portanto, o isolamento do governo, neste momento, refere-se ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças - ao núcleo duro da governação. E o próprio governo é o primeiro responsável pelas dinâmicas de convergência das oposições.
 
Falou na necessidade de demissão deste governo. O Presidente da República tem servido de trave de sustentação da coligação?
 
O Presidente da República patrocinou esta obsessão governativa desde o início. Antes mesmo de ela existir. Foi ele que promoveu a crise política que deu lugar e oportunidade a esta maioria de direita. Tem protegido o governo usando de dois pesos e duas medidas a propósito daquilo que fez com o governo anterior. E portanto acho que está tudo dito. Julgo que não devemos esperar nada do Presidente da República.
 
Temos um Presidente da República e um governo que já não representam os portugueses. É isso?
 
Creio que o Presidente da República não tem estado à altura do juramento que fez da Constituição e daquilo que se espera do exercício das funções presidenciais. Com certeza que o governo, desde o início, faltou ao seu compromisso eleitoral para com os portugueses. Não se tratou apenas de o governo executar esta ou aquela medida que não estava no seu programa eleitoral. O governo o que está é a executar uma agenda, uma estratégia governativa totalmente oposta àquilo que prometeu. E isso faz dele um governo sem legitimidade, sem mandato.
 
A agenda a que alguns chamam neoliberal não é mero reflexo da necessidade de ajustar gastos à capacidade produtiva do país?
 
Não, esta agenda é bastante mais do que isso. O próprio ministro das Finanças explicou que a austeridade que aplicou nos dois primeiros anos em Portugal foi o dobro da austeridade que estava prevista no Memorando inicial. Isto significa que não se trata apenas de cumprir aquilo que é necessário para o ajustamento. Trata-se de ir além da troika para cumprir uma agenda ideológica neoliberal contra o Estado. É isso que naturalmente não pode ter nem o assentimento do Partido Socialista, nem qualquer concordância do país, e está a suscitar estes movimentos de oposição alargados.
 
Fala-se na necessidade de apresentar uma alternativa. António José Seguro tem sabido materializar essa alternativa em nome do PS?
 
O António José Seguro tem hoje uma liderança consolidada. Viu-se recentemente no congresso do PS. Afirma-se nas sondagens de uma forma que é cada vez mais clara. E portanto está a fazer o seu caminho de liderança de uma oposição e de uma alternativa política.
 

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