Pedro Rainho – Jornal
i
O ex-ministro da
Presidência de José Sócrates diz que Cavaco Silva "não tem estado à altura
do juramento que fez da Constituição" e "daquilo que se espera das
funções presidenciais"
O ex-ministro Pedro
Silva Pereira participou no encontro promovido por Mário Soares com o lema
"Libertar Portugal da Austeridade" e defende que "a prioridade
número um do país" deve ser demitir o governo liderado por Passos Coelho.
Numa entrevista ao i no final da iniciativa que reuniu o PS, o PCP e o Bloco de
Esquerda na Aula Magna, o ex- -ministro e braço-direito de José Sócrates faz
duras críticas ao governo, mas também ao Presidente da República, que
"patrocinou esta obsessão governativa desde o início" e "antes
mesmo de ela existir". Já em relação a António José Seguro, Pedro Silva
Pereira, que desencadeou o processo de antecipação do congresso do PS, diz que
o actual secretário-geral tem hoje "uma liderança consolidada".
Foi possível reunir
na mesma sala o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda. Como encara a possibilidade de
um governo alargado de esquerda?
Creio que esta
sessão serviu sobretudo para sublinhar uma convergência a propósito da
necessidade de parar a política de austeridade. E esse é o começo de tudo,
porque realmente o país chegou a uma situação em que a prioridade número um é
realmente demitir o governo. O governo está a fazer mal ao país. Quanto a
soluções governativas, não foi uma sessão de debate de soluções. E creio que
nesse domínio há um caminho a fazer. Julgo que há vontade de convergências, mas
uma convergência depende sempre de um compromisso. E esse compromisso tem de
ser exteriorizado por uma disponibilidade dos partidos políticos.
Há espaço para ir
além dos debates públicos e conseguir uma coligação, que até hoje nunca foi
possível entre os partidos de esquerda?
O que creio é que
esta sessão sublinhou uma dinâmica de oposição ao governo. Construir uma
alternativa é muito mais do que isto. Construir uma alternativa e um consenso
governativo é mais do que isto. É preciso um compromisso, uma agenda
governativa. E esse não era o objectivo deste encontro, mas creio que se a
esquerda compreender esta urgência percebe também que tem de oferecer ao país
uma alternativa e não apenas protesto.
O diálogo à
esquerda tem sempre sido difícil de manter. O facto de ser difícil conseguir
consensos entre o PS e o governo está a contribuir para a aproximação entre os
partidos de esquerda que estão na Assembleia da República"?
O governo tem
fomentado todas as oposições. As oposições à esquerda e as oposições à direita
dentro dos partidos da maioria, dentro do próprio governo. Portanto, o
isolamento do governo, neste momento, refere-se ao primeiro-ministro e ao
ministro das Finanças - ao núcleo duro da governação. E o próprio governo é o
primeiro responsável pelas dinâmicas de convergência das oposições.
Falou na
necessidade de demissão deste governo. O Presidente da República tem servido de
trave de sustentação da coligação?
O Presidente da
República patrocinou esta obsessão governativa desde o início. Antes mesmo de
ela existir. Foi ele que promoveu a crise política que deu lugar e oportunidade
a esta maioria de direita. Tem protegido o governo usando de dois pesos e duas
medidas a propósito daquilo que fez com o governo anterior. E portanto acho que
está tudo dito. Julgo que não devemos esperar nada do Presidente da República.
Temos um Presidente
da República e um governo que já não representam os portugueses. É isso?
Creio que o
Presidente da República não tem estado à altura do juramento que fez da
Constituição e daquilo que se espera do exercício das funções presidenciais.
Com certeza que o governo, desde o início, faltou ao seu compromisso eleitoral
para com os portugueses. Não se tratou apenas de o governo executar esta ou
aquela medida que não estava no seu programa eleitoral. O governo o que está é
a executar uma agenda, uma estratégia governativa totalmente oposta àquilo que
prometeu. E isso faz dele um governo sem legitimidade, sem mandato.
A agenda a que
alguns chamam neoliberal não é mero reflexo da necessidade de ajustar gastos à
capacidade produtiva do país?
Não, esta agenda é
bastante mais do que isso. O próprio ministro das Finanças explicou que a
austeridade que aplicou nos dois primeiros anos em Portugal foi o dobro da
austeridade que estava prevista no Memorando inicial. Isto significa que não se
trata apenas de cumprir aquilo que é necessário para o ajustamento. Trata-se de
ir além da troika para cumprir uma agenda ideológica neoliberal contra o
Estado. É isso que naturalmente não pode ter nem o assentimento do Partido
Socialista, nem qualquer concordância do país, e está a suscitar estes
movimentos de oposição alargados.
Fala-se na
necessidade de apresentar uma alternativa. António José Seguro tem sabido
materializar essa alternativa em nome do PS?
O António José
Seguro tem hoje uma liderança consolidada. Viu-se recentemente no congresso do
PS. Afirma-se nas sondagens de uma forma que é cada vez mais clara. E portanto
está a fazer o seu caminho de liderança de uma oposição e de uma alternativa
política.
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