Filipe Paiva
Cardoso – Jornal i
Portugal não é a
Grécia, a não ser que falemos de poder de compra. Aí sim, somos não só a Grécia
mas também a Eslováquia, três dos quatro países dos 17 que compõem a zona euro
com os habitantes mais pobres (com 75% do poder de compra do europeu médio). O
Eurostat revelou ontem os dados sobre o PIB per capita de cada estado
europeu em 2012, valores que, cruzados com o cenário em 2009, mostram que os
últimos anos serviram para enriquecer os países já antes ricos, empobrecendo os
estados-membros que já antes da crise tinham os cidadãos mais pobres.
Assim, e olhando
para a evolução dos diferentes poderes de compra dos europeus de 2009 até 2012,
os dados mostram que o Norte e o Centro da moeda única enriqueceram nestes
anos, ao passo que os menos ricos, sobretudo situados no Sul, ficaram ainda
mais longe dos padrões de vida a norte. O resultado choca com os discursos de
solidariedade entre estados, mas resulta em parte dessa suposta solidariedade
de Bruxelas, Berlim e demais instituições.
Segundo os dados de
ontem do Eurostat, a zona euro fechou 2012 com um PIB per capita equivalente
a 108% da média da UE27. Em 2009, a zona euro apresentava uma média de 109%
face à média dos 27. Contudo, olhando em detalhe para cada um dos países da
moeda única, notam-se evoluções completamente opostas: os países afogados em
austeridade e em juros impostos pelos pacotes de "ajuda" estão em
queda livre em termos de PIB per capita, ao passo que os países que
"ajudam" estão a enriquecer.
Os portugueses, por
exemplo, passaram de um PIB per capita de 80% da média da UE27 em
2009 para 75% em 2012; na Grécia a queda foi ainda mais abrupta, com um recuo
de 94% para 75%, estando agora ao nível português. Em Itália e Espanha, sem
pacotes de ajuda mas entre os "maus da fita" do Sul, as quedas foram
idênticas: de 104% e 103% para 98% e 97%, respectivamente. Já fora do Sul, os
alemães reforçaram o poder de compra de 115% da média da UE27 para 121%; os
austríacos de 125% para 131%; os holandeses recuaram ligeiramente mas persistem
acima dos valores alemães; na Finlândia o PIB per capita cresceu de
114% para 115% e no Luxemburgo o valor subiu para 271%.
Se é certo que
opções, erros e más políticas dos governos dos últimos anos de Portugal ou
Grécia, por exemplo, são os grandes responsáveis pela queda destes países em
recessão, também é cada vez mais evidente que os países ricos da zona euro
souberam pôr a desgraça alheia a render em seu proveito: os pacotes de
"ajuda" impostos aos países em dificuldades asseguraram uma enorme
margem de lucro para estes, através dos juros cobrados aos países
"irmãos" do euro, que, não fossem os elevadíssimos custos dos juros
suportados pelos empréstimos "solidários", estariam já mais longe do
caos: Portugal gasta por ano 4,4% do seu PIB em juros - 7,2 mil milhões de euros
-, valor que sai directamente dos bolsos dos contribuintes e dos trabalhadores
portugueses para dezenas de cofres de Estados e bancos europeus.
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