Jorge Nascimento
Rodrigues - Expresso
Desde o início da
crise governamental, os juros da dívida a dez anos subiram um ponto percentual
no mercado secundário e a probabilidade de incumprimento agravou-se quase oito
pontos percentuais.
Portugal subiu para
a sétima posição no grupo das 10 economias com mais alta probabilidade de
incumprimento da dívida soberana num horizonte de cinco anos, segundo dados do
indicador da CMA S&P Capital IQ. O país havia saído deste grupo a 21 de
maio e regressou três dias depois ao nono lugar, tendo estado na 8ª posição na
semana do início da crise governamental.
A subida de hoje
para a sétima posição deriva do disparo no custo dos credit default swaps (cds),
derivados financeiros que funcionam como seguros contra o risco de
incumprimento. O custo dos cds fechou hoje em 545 pontos base, uma subida de 55
pontos em relação ao fecho de ontem.
A semana encerrou
com as yields das obrigações do Tesouro a dez anos a fecharem no
mercado secundário em 7,52%, um valor superior ao registado a 3 de julho, o dia
do auge do efeito das demissões ministeriais que iniciaram a atual crise
governamental. O dia abriu com as yields em 7% e teve um pico pelas
14h30 em 7,78%, segundo dados da investing.com.
Fecharam hoje acima
de 7% as yields nos prazos a três, quatro, cinco, seis, sete, oito,
dez e 30 anos. Nos prazos a seis e sete anos - que se encontram no intervalo do
prazo residual médio da dívida portuguesa -, as yields atingiram
picos durante o dia superiores a 8%.
O prémio de risco
da dívida portuguesa em relação à dívida alemã subiu hoje para 5,96 pontos
percentuais, o diferencial mais alto desde o início desta crise governamental,
segundo dados da datosmacro.com.
No decurso de uma
semana, todos estes indicadores subiram: 37 pontos base (0,37 pontos
percentuais) para as yields no prazo a dez anos; 64,18 pontos base
para o custo dos cds; 3,38 pontos percentuais para a probabilidade de
incumprimento; mais de meio ponto percentual para o prémio de risco.
A volatilidade de
hoje nestes mercados da dívida foi considerada como resultante do facto do
"caos político continuar", segundo a agência financeira Markit.
O agravamento
destes indicadores não se repercute diretamente nos juros que vencem sobre a
dívida soberana existente quer a credores privados como a credores oficiais (a troika)
que totalizava em 31 de maio cerca de 203,5 mil milhões de euros. Mas são
indicativos das dificuldades que se colocam a emissões obrigacionistas pelo
Estado (no mercado primário, o que se tem designado de "regresso aos
mercados") e do encarecimento dos seguros contra o risco de incumprimento
dessa dívida.
Balanço dos efeitos
da crise governamental
Comparando os dados
do fecho de hoje com 28 de junho, antes da emergência da atual crise governamental,
as yields das OT a dez anos subiram no mercado secundário um pouco
mais de um ponto percentual (106 pontos base), de 6,46% para 7,52%. O limiar
dos 7% regressou, algo que já não sucedia desde o final do ano passado.
Como refere o
analista Marc Chandler,vice-presidente sénior da Brown Brothers Harriman, em
Nova Iorque, "a crise política em Portugal roubou o lugar de para-raios
ocupado pela Grécia na zona euro". Desde 28 de junho, as yields das
obrigações portuguesas a dez anos subiram 106 pontos base, enquanto no caso das
obrigações espanholas no mesmo prazo subiram apenas um ponto, apesar da
gravidade do caso Bárcenas. Em contraste, na mesma maturidade, desceram seis
pontos para os títulos italianos, apesar da incerteza sobre a manutenção do
governo de Enrico Letta a partir do final do mês, e dois pontos para as
obrigações gregas reestruturadas. O foco de "nervosismo" esteve
centrado em Portugal.
O prémio de risco,
naquele período, subiu de 4,73 para 5,96 pontos percentuais. Alargou-se, deste
modo, o diferencial em relação ao custo de financiamento da dívida alemã, que
serve de referência na zona euro.
Impacto muito forte
ocorreu no custo dos credit default swaps - entre 28 de junho e 12 de
julho, subiu 143,6 pontos base, o que implicou um "salto" de quase
oito pontos percentuais na probabilidade de incumprimento da dívida. De um
nível de risco no patamar dos 30%, antes da crise governamental, subiu para o
patamar dos 38%, nível que já não se observava desde novembro de 2012.
Durante esta crise,
a posição portuguesa no "clube da bancarrota" subiu do 9º para o 7º
lugar, posição em que estávamos no final do ano passado.
Esse grupo é
formado pelos seguintes países, segundo dados de fecho de hoje fornecidos pela
CMA S&P Capital IQ: Argentina (84,69% de risco); Chipre (61,29%); Grécia
(52,8%); Venezuela (51,12%); Ucrânia (45,38%); Paquistão (42,49%); Portugal
(38,23%); Egito (36,85%); Estado do Illinois (32,74%); e Líbano (27,56%).
Sem comentários:
Enviar um comentário