terça-feira, 16 de julho de 2013

“Ukusa” e “Echelon”, ou a base da capacidade “inteligente” do poder hegemónico - II



Martinho Júnior, Luanda

A 12 de Março de 2000, o jornalista investigador Duncan Campbell, no artigo subordinado ao tema “Um antigo Director da CIA confirma que os Estados Unidos espiam alvos Europeus”, corroborava:

“O antigo Director da Central Intelligence Agency dos Estados Unidos, James Woolsey, confirmou em Washington, esta semana, que os Estados Unidos pesquisam segredos económicos, pela via da espionagem com a utilização de comunicações de inteligência e de satélites de reconhecimento, havendo no momento uma ênfase sobre as pesquisas relativas a inteligência económica”.

Essa comunicação foi feita em resposta a um conjunto de pesquisas elaboradas pelo Parlamento Europeu em curso nessa altura, (“Interception Capabilities 2000”) que viria a produzir um relatório conclusivo a 11 de Julho de 2001.

James Woolsey, perante uma audiência de jornalistas, considerava o trabalho apresentado pelo Comité dos Direitos de Cidadania do Parlamento Europeu, com data de 23 de Fevereiro de 2001, de “intelectualmente honesto”.

O Relatório sobre o ECHELON do Parlamento Europeu de 11 de Julho de 2001 referia entre muitas conclusões:

- A comprovação da existência do ECHELON a partir do desenvolvimento do acordo de aliança UKUSA.

- A possibilidade técnica de intercepção de mensagens, seja qual for o processo técnico de comunicação, apesar dos métodos de exploração serem relativamente caros e complexos, assim como serem reduzidas as possibilidades exaustivas de se chegar ao detalhe em toda a extensão das redes de comunicações.

- O facto de haver, na generalidade, compatibilidade do sistema ECHELON com as Leis da União Europeia, apesar da existência de dois cenários – um, aquele que se referia a propósitos estritos de inteligência para efeitos de segurança dos Estados, (completamente legal), o outro providenciando propósitos competitivos de inteligência, contrariando a lealdade e os conceitos de mercado comum (que contraria as Leis da União Europeia).

- Nos aspectos que contrariam as Leis, no caso do propósito dos seus operadores não seguirem o primeiro cenário, o ECHELON pode chocar com os critérios de protecção inscritos no âmbito dos direitos do cidadão em relação à actuação dos Serviços Secretos, ou chocar com o direito fundamental de respeito pela vida privada assim como estabelecer quadros avançados de espionagem industrial e influir negativamente na cooperação dos Serviços de Inteligência no interior da União Europeia.

O Relatório fazia um conjunto de 36 Recomendações que incidiam fundamentalmente sobre as Leis e as medidas legais – institucionais.

A propósito da polémica que se foi levantando ao longo nos anos que marcaram o final do século passado e o início do presente, a BBC foi elaborando um conjunto de artigos, (escolhemos propositadamente a BBC a fim de procurar mais credibilidade em relação às questões de abordagem do ECHELON), com assinaturas várias de especialistas:

- A 3 de Novembro de 1999, Andrew Bomford subscrevia o tema sobre a “Revelação do sistema de espionagem ECHELON”, confirmando a sua existência com base em vozes autorizadas do Governo Australiano, muito embora quer os Britânicos, quer os Americanos continuassem a nega-lo – “o homem que superintendeu os Serviços Secretos da Austrália, Inspector Geral de Inteligência e de Segurança Bill Blick, confirmou à BBC que o Defence Signals Directorate (DSD) faz parte do sistema”.

- A 23 de Fevereiro de 2000 a BBC confirmava que “O sistema de espionagem Americano estava sob ataque”, sendo o órgão mais interessado no inventário das suas implicações, o Parlamento Europeu, aquela Instituição que estava encarregue de apurar sobre as possibilidades de espionagem electrónica sobre Companhias Europeias, para além de outras individualidades – “o Ministro da Justiça Francês, Elisabeth Guigou, disse que o ECHELON tinha aparentemente sido utilizado para observar rivais comerciais, chegando a descodificar informação encriptada de Companhias Francesas”. Nessa altura, para além do Governo Australiano, já as autoridades Americanas haviam confirmado a existência do ECHELON.

- A 30 de Março de 2000, o jornalista Colin Blane, sob o tema “Iniciativa de investigação do sistema Americano de espionagem”, referia-se aos avanços do inquérito do Parlamento Europeu.

- A 5 de Abril do mesmo ano, o Correspondente de Defesa Jonathan Marcus referia em Análise que “Os mestres espiões mudavam de foco”, tendo em conta o fim da Guerra Fria e o desanuviamento Internacional que imediatamente se lhe seguiu, apesar do risco, considerado por vários Países Europeus de que “o sistema de intercepção electrónico das mensagens electrónicas e com a utilização de telefone poderiam estar a ser usados pelos Estados Unidos para obter vantagens comerciais”.

- No dia 5 de Julho de 2000, confirmava-se que a “França comprova o sistema de espionagem dos Estados Unidos”, após uma investigação sobre o ECHELON levada a cabo pelo Procurador Jean-Pierre Dintillac, que temia que esse facto viesse a contribuir para um incremento de tensões entre Americanos e Europeus. Nesse mesmo dia a União Europeia confirmava a existência do ECHELON e criava uma Comissão de 36 “experts” chefiada pelo Português Carlos Coelho, a fim de fazer o inventário das implicações, levando em consideração os interesses e as Leis Europeias.

- No dia 6 de Julho, motivado pela oportunidade do tema, o jornalista Martin Asser, seguindo o tema “ECHELON – big brother sem causa”, considerava que o sistema podia provocar uma nova Guerra Fria no caso de ele estar a ser usado conforme o que o especialista Duncan Campbell prognosticava, ou seja espionagem económica. Em reforço desse argumento era citado o “Baltimore Sun” que havia referido “que o Consórcio Europeu Airbus havia perdido um contrato de 6 biliões de USD com a Arábia Saudita pelo facto da NSA ter conhecimento disso e ter possibilitado a oferta de comissões vantajosas a Funcionários Sauditas”. Um outro caso similar é também citado de seguida – “a Firma Americana Raytheon usou informação colectada pela NSA para conseguir um contrato no valor de 1,4 biliões de USD para o fornecimento dum sistema de radares ao Brasil em prejuízo da Empresa Francesa Thomson – CSF”, o que corroborava a confirmação de James Woolsey, já citado Director da CIA, que em Março, num artigo seu no Wall Street Journal, afirmou que os Americanos faziam espionagem económica em relação aos Europeus pela via do ECHELON.

- A 11 de Maio de 2001 foi referido o fim da investigação do Parlamento Europeu que falhou nas tentativas da Comissão poder encontrar representantes da CIA, do Departamento de Estado e do Departamento do Comércio dos Estados Unidos, muito embora o tivesse conseguido em relação a alguns membros do Congresso Americano e em relação a Funcionários do Departamento de Justiça.

- A 29 de Maio de 2001, segundo o artigo subordinado ao tema “Pessoas que fazem uso dos email estão preocupados com o sistema de espionagem”, era feito um pequeno balanço entre as possibilidades de codificação das mensagens e as enormes possibilidades do ECHELON as descodificar, abordando-se de seguida o uso dos satélites de forma a tornar o ECHELON um sistema de cobertura electrónica e rádio Global.

- A 2 de Junho desse ano confirmava-se que “Os Estados Unidos fechavam uma estação de espionagem componente do sistema ECHELON” no Sul da Alemanha, em Bad Aibling, (uma das 20 estações inventariadas que compunham esse sistema), prevendo-se o facto para Setembro de 2002, de acordo com declarações do Vice Presidente do Parlamento Alemão, Gerhard Schmid. A estação deveria voltar à posse da Alemanha “sem o equipamento de espionagem”, segundo Shirley Startzman, um porta-voz dos Serviços de Inteligência do Exército Americano e do Comando de Segurança, 12 anos após o fim da Guerra Fria.

Por seu turno o prestigioso “Le Monde Diplomatique”, com base em dois artigos de Phillipe Rivière e num de James Woolsey, esclarecia, a partir de Março de 1999:

- Que a Europa se preparava também para estabelecer um sistema de vigilância electrónica de forma a, por um lado defender os seus interesses na INTERNET e nas redes de telefone com utilização de satélites, por outro em função das preocupações que assistem aos aspectos legais da utilização da electrónica, em defesa dos cidadãos e do respeito devido à vida privada. Essa preocupação Europeia respondia também aos problemas que se levantavam perante a internacionalização dos tráficos e de autênticas redes de criminosos actuando à margem dos Estados e das sociedades.

- Que o ECHELON possuía um “budget anual de 26,7 mil milhões de USD, tanto quanto os valores de referência durante a Guerra Fria, pelo que os Serviços Secretos e de Investigação Americanos são os melhor dotados do Planeta”, fazendo um inventário das capacidades genéricas desse sistema, incluindo a decifragem de matérias criptadas, ou a pesquisa de informações fazendo a triagem e selecção de palavras-chave.

- Que através do ECHELON “A América espiona os seus aliados”, mas serem cada vez menos as tecnologias Europeias que se encontram ao nível do avanço das tecnologias Americanas e porque os Europeus, com tecnologias menos avançadas, procuram através de corrupção com pagamento de comissões vender o mais caro possível tecnologias menos avançadas a outros Países que não as possuem. Por outro lado, os Estados Unidos, segundo James Woolsey, viam-se obrigados a fazer espionagem particularmente em relação a itens que poderiam ser utilizados para outros fins, (como super computadores, ou produtos químicos), que não os fins oficialmente declarados, podendo dar azo à fabricação, por exemplo, de armas de destruição massiva (abrindo assim em proveito dos Estados Unidos a capacidade de se virem a tornar na Potência Hegemónica “iluminada” pela responsabilidade de se poder prevenir a Humanidade contra aqueles que, no entender dos Estados Unidos, podem manipular essas armas, com riscos evidentes para todo o Mundo).

A evolução do UKUSA para o ECHELON, em conclusão, contribuiu no nosso entender para que os Estados Unidos dessem o salto tecnológico que confirmou o seu poder económico, político e militar, enquanto Potência Hegemónica e segundo os interesses da aristocracia financeira Mundial, sem que isso pudesse significar o apuramento das filosofias de que se rege esse poder, muito pelo contrário, particularmente com o fim da Administração Clinton e os acontecimentos terríveis do 11 de Setembro, no mínimo um retrocesso no processo de desanuviamento Internacional e o risco de se estar a iniciar uma “2ª GUERRA FRIA” … o petróleo obriga!

Foto: Instalação das “grandes orelhas” ao serviço do império e da hegemonia unilateral anglo-saxónica, na muito discreta Ilha de Ascensão, uma plataforma situada a meia distância entre Luanda, capital de Angola e São Salvador da Baía, no Brasil –

(Continua)

Artigo elaborado a 15 de Março de 2003 e publicado, na altura, no semanário Actual.

Leia mais relacionados no PG em MARTINHO JÚNIOR

1 comentário:

Anónimo disse...

CONSTATE-SE NO PÁGINA UM:

O ECHELON ACTUA EM PLENA ONU - http://pagina--um.blogspot.com/2010/09/o-echelon-actua-em-plena-onu.html

13 de Setembro de 2013.

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