José Ribamar Bessa
Freire – Pátria Latina
Diga lá: quem
informou aos americanos que Edward Snowden estava no avião de Evo Morales?
Descobrimos, enfim, o mistério que tanto intrigou a opinião pública
internacional. Mora em Manaus, no bairro D. Pedro, o blogueiro que fez essa
denúncia. Esse é um furo que dou aqui no Diário do Amazonas, passando a perna
no The Guardian e no The New York Times.
Tudo começou no Brasil, quando Glenn Greenwald, jornalista americano, residente
na Gávea, Rio de Janeiro, entrevistou Edward Snowden, que revelou como a CIA
controla diretamente a internet e as redes sociais em todo o planeta. A
entrevista, feita há um mês em Hong Kong, teve repercussão na mídia do mundo
inteiro.
Edward Snowden, 29 anos, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA)
subordinada ao Pentágono e vinculada à CIA, é hoje o homem mais caçado do
planeta. Ele denunciou corajosamente o governo americano, que criou um programa
chamado PRISM para bisbilhotar a vida de qualquer cidadão em todos os recantos
da terra. Esse esquema de vigilância monitora, além das contas telefônicas,
informações do Yahoo, Microsoft, Google, AOL, YouTube, Apple, Skype, PalTakl,
Facebook e The devil on four, ou seja, o diabo a quatro.
Foi justamente xeretando uma mensagem no facebook que os serviços de espionagem
dos EUA tomaram conhecimento de que Snowden, estava no avião do Evo. Conto como
foi. A coisa funciona assim. Uma simples mensagem familiar, como a que postei
ontem, pode ser lida pelo Obama na Casa Branca. Escrevi: "Pão Molhado, não
faz terrorismo com a Giza". A palavra "terrorismo" foi o
suficiente para alertar os espiões que capturaram a postagem e, em um milionésimo
de segundo, sabiam o que meu sobrinho, conhecido pela CIA como Wet Bread, fazia
com sua esposa.
Um micropaís
Foi uma dessas mensagens, postada no facebook pelo paraense de Santarém, Onildo
Elias Castro Lima, ex-Secretário Municipal de Finanças de Manaus, que alertou a
CIA sobre a presença de Snowden. Ele escreveu:
"A Bolívia com seus "cocaleros" têm suas ações internacionais
sob suspeição há muito tempo! Um país que exerce práticas produtivas à margem
da legalidade pode exigir respeito de alguém?"
Os espiões americanos desconfiaram. Eles descobriram, bisbilhotando, que o
economista Onildo é sócio proprietário na empresa Instituto de Consultoria e
Pesquisa S/C Ltda - CEAG. Oferece consultoria na área de gestão empresarial
como ele mesmo diz no seu perfil do face:
"Coloco-me à disposição dos organismos nacionais e internacionais com
minha experiência profissional com mais de 30 anos na área da Micro e Pequena
Empresa".
Ora, a CIA acredita que a Bolívia é um micropaís e, portanto, que Onildo tem legitimidade
para opinar sobre o tema. Aproveitou a consultoria oferecida por Onildo, com
mais de trinta anos de experiência, cruzando-a com outra informação
proporcionada por Vicente Pinheiro, também do Amazonas, que postou colocando a
mãe de Deus no meio da história:
"Mas não adianta. O Brasil não é, e nem NUNCA VAI SER mais uma
republiqueta bolivariana, como a pobre Venezuela chavista, a Bolivia do índio
cocalero e o Equador, assim que Deus e Nossa Senhora Aparecida continuem nos
protegendo e livrando das garras desse pessoal.
A CIA matou a charada. O "índio cocalero" Evo Morales estava na
Rússia, em uma reunião para celebrar um acordo bilateral com o presidente
Vladimir Putin. Acontece que Snowden, caçado como ratazana pela CIA, por
"pura coincidência" estava também no aeroporto de Moscou. Depois da
reunião, o avião de Evo Morales decolou para a Bolívia. É evidente que Snowden
entrou no avião do "cocalero à margem da legalidade".
Opinião hedionda
A partir daí aconteceu o que foi noticiado. Os americanos deram a ordem e os
governos europeus, apesar de serem também vítimas da espionagem, botaram o
rabinho entre as pernas e obedeceram. O avião de Evo, que precisava reabastecer
para cruzar o Atlântico, não teve a permissão para aterrissar na França, em Portugal,
na Itália, nem na Espanha, colocando em risco a vida do presidente da Bolívia e
de seus colaboradores. Só não aconteceu uma tragédia, porque a Áustria concedeu
um "pouso vigiado" da comitiva presidencial.Vasculharam o avião e
Snowden havia se derretido.
A opinião pública internacional ficou indignada. A presidenta Dilma, em uma
nota oficial, se solidarizou com Evo Morales e expressou "repúdio e
indignação ao constrangimento imposto ao presidente. Considerou que a ação dos
europeus "compromete o diálogo entre os dois continentes e possíveis
negociações".
O que faltou dizer é que esses americanos são mesmo uns abestalhados. Gastam
bilhões de dólares com serviço de espionagem e contra-espionagem para nada. São
uns incompetentes. Dá vontade de rir na cara deles e gritar: - Otários,
babacas! Também quem manda acreditar no Onildo e no Vicente.
Ora, o que Onildo entende do assunto, se Evo não é uma micro ou pequena
empresa? O que é que ele sabe sobre a coca? De coca, só mesmo a cola, como
consumidor, mas com o Evo não cola. Recentemente, Evo subiu à tribuna da
Comissão de Estupefacientes das Nações Unidas, em Viena, com folhas de coca na
mão e com amostras de vários produtos:
“Peço a todos os países, a todas as organizações internacionais que corrijam um
erro histórico” - disse Evo Morales, apelando para excluir a coca da lista de
entorpecentes proibidos: “Fabricantes de folhas de coca não são
narcotraficantes, consumidores de folhas de coca não são viciados em drogas, e
a folha de coca no seu estado natural não é cocaína”.
A coca vem sendo utilizada há milênios como planta sagrada, milagrosa, alimento
cuja folha representa a força, a vida e que é oferecida aos deuses fazendo a
ponte entre os homens e a divindade. De qual legalidade fala Onildo? Quem
extraiu a cocaína da planta não foram os bolivianos, quem produz e consome
cocaína também não são os bolivianos. Cocaleros são os outros.
O Senado, que aprovou projeto transformando a corrupção em crime hediondo,
devia classificar algumas opiniões como "opinião hedionda, sórdida,
nauseabunda", como essa manifestada em relação a um presidente de uma
nação soberana eleito pelo voto popular.
Como escreveu uma historiadora, em outra postagem: "Evo Morales tem que
ser recebido porque é o presidente eleito de um país no caso a Bolívia. A
Itália, a Áustria e a França faltaram com respeito ao povo boliviano. Criaram
um problema diplomático. Em vez de se orgulharem de receber um Aymara que
chegou a presidência do seu país ficam com preconceito. Isso é coisa de
americanos que querem se meter na vida de todos os países. Por isso não consigo
ter pena quando acontece alguma reação contra os EUA".
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