quarta-feira, 17 de julho de 2013

VOANDO COM EVO




José Ribamar Bessa Freire – Pátria Latina

Diga lá: quem informou aos americanos que Edward Snowden estava no avião de Evo Morales? Descobrimos, enfim, o mistério que tanto intrigou a opinião pública internacional. Mora em Manaus, no bairro D. Pedro, o blogueiro que fez essa denúncia. Esse é um furo que dou aqui no Diário do Amazonas, passando a perna no The Guardian e no The New York Times.

Tudo começou no Brasil, quando Glenn Greenwald, jornalista americano, residente na Gávea, Rio de Janeiro, entrevistou Edward Snowden, que revelou como a CIA controla diretamente a internet e as redes sociais em todo o planeta. A entrevista, feita há um mês em Hong Kong, teve repercussão na mídia do mundo inteiro.

Edward Snowden, 29 anos, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) subordinada ao Pentágono e vinculada à CIA, é hoje o homem mais caçado do planeta. Ele denunciou corajosamente o governo americano, que criou um programa chamado PRISM para bisbilhotar a vida de qualquer cidadão em todos os recantos da terra. Esse esquema de vigilância monitora, além das contas telefônicas, informações do Yahoo, Microsoft, Google, AOL, YouTube, Apple, Skype, PalTakl, Facebook e The devil on four, ou seja, o diabo a quatro.

Foi justamente xeretando uma mensagem no facebook que os serviços de espionagem dos EUA tomaram conhecimento de que Snowden, estava no avião do Evo. Conto como foi. A coisa funciona assim. Uma simples mensagem familiar, como a que postei ontem, pode ser lida pelo Obama na Casa Branca. Escrevi: "Pão Molhado, não faz terrorismo com a Giza". A palavra "terrorismo" foi o suficiente para alertar os espiões que capturaram a postagem e, em um milionésimo de segundo, sabiam o que meu sobrinho, conhecido pela CIA como Wet Bread, fazia com sua esposa.

Um micropaís

Foi uma dessas mensagens, postada no facebook pelo paraense de Santarém, Onildo Elias Castro Lima, ex-Secretário Municipal de Finanças de Manaus, que alertou a CIA sobre a presença de Snowden. Ele escreveu:

"A Bolívia com seus "cocaleros" têm suas ações internacionais sob suspeição há muito tempo! Um país que exerce práticas produtivas à margem da legalidade pode exigir respeito de alguém?"

Os espiões americanos desconfiaram. Eles descobriram, bisbilhotando, que o economista Onildo é sócio proprietário na empresa Instituto de Consultoria e Pesquisa S/C Ltda - CEAG. Oferece consultoria na área de gestão empresarial como ele mesmo diz no seu perfil do face:

"Coloco-me à disposição dos organismos nacionais e internacionais com minha experiência profissional com mais de 30 anos na área da Micro e Pequena Empresa".

Ora, a CIA acredita que a Bolívia é um micropaís e, portanto, que Onildo tem legitimidade para opinar sobre o tema. Aproveitou a consultoria oferecida por Onildo, com mais de trinta anos de experiência, cruzando-a com outra informação proporcionada por Vicente Pinheiro, também do Amazonas, que postou colocando a mãe de Deus no meio da história:

"Mas não adianta. O Brasil não é, e nem NUNCA VAI SER mais uma republiqueta bolivariana, como a pobre Venezuela chavista, a Bolivia do índio cocalero e o Equador, assim que Deus e Nossa Senhora Aparecida continuem nos protegendo e livrando das garras desse pessoal.

A CIA matou a charada. O "índio cocalero" Evo Morales estava na Rússia, em uma reunião para celebrar um acordo bilateral com o presidente Vladimir Putin. Acontece que Snowden, caçado como ratazana pela CIA, por "pura coincidência" estava também no aeroporto de Moscou. Depois da reunião, o avião de Evo Morales decolou para a Bolívia. É evidente que Snowden entrou no avião do "cocalero à margem da legalidade".

Opinião hedionda

A partir daí aconteceu o que foi noticiado. Os americanos deram a ordem e os governos europeus, apesar de serem também vítimas da espionagem, botaram o rabinho entre as pernas e obedeceram. O avião de Evo, que precisava reabastecer para cruzar o Atlântico, não teve a permissão para aterrissar na França, em Portugal, na Itália, nem na Espanha, colocando em risco a vida do presidente da Bolívia e de seus colaboradores. Só não aconteceu uma tragédia, porque a Áustria concedeu um "pouso vigiado" da comitiva presidencial.Vasculharam o avião e Snowden havia se derretido.

A opinião pública internacional ficou indignada. A presidenta Dilma, em uma nota oficial, se solidarizou com Evo Morales e expressou "repúdio e indignação ao constrangimento imposto ao presidente. Considerou que a ação dos europeus "compromete o diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações".

O que faltou dizer é que esses americanos são mesmo uns abestalhados. Gastam bilhões de dólares com serviço de espionagem e contra-espionagem para nada. São uns incompetentes. Dá vontade de rir na cara deles e gritar: - Otários, babacas! Também quem manda acreditar no Onildo e no Vicente.

Ora, o que Onildo entende do assunto, se Evo não é uma micro ou pequena empresa? O que é que ele sabe sobre a coca? De coca, só mesmo a cola, como consumidor, mas com o Evo não cola. Recentemente, Evo subiu à tribuna da Comissão de Estupefacientes das Nações Unidas, em Viena, com folhas de coca na mão e com amostras de vários produtos:

“Peço a todos os países, a todas as organizações internacionais que corrijam um erro histórico” - disse Evo Morales, apelando para excluir a coca da lista de entorpecentes proibidos: “Fabricantes de folhas de coca não são narcotraficantes, consumidores de folhas de coca não são viciados em drogas, e a folha de coca no seu estado natural não é cocaína”.

A coca vem sendo utilizada há milênios como planta sagrada, milagrosa, alimento cuja folha representa a força, a vida e que é oferecida aos deuses fazendo a ponte entre os homens e a divindade. De qual legalidade fala Onildo? Quem extraiu a cocaína da planta não foram os bolivianos, quem produz e consome cocaína também não são os bolivianos. Cocaleros são os outros.

O Senado, que aprovou projeto transformando a corrupção em crime hediondo, devia classificar algumas opiniões como "opinião hedionda, sórdida, nauseabunda", como essa manifestada em relação a um presidente de uma nação soberana eleito pelo voto popular.

Como escreveu uma historiadora, em outra postagem: "Evo Morales tem que ser recebido porque é o presidente eleito de um país no caso a Bolívia. A Itália, a Áustria e a França faltaram com respeito ao povo boliviano. Criaram um problema diplomático. Em vez de se orgulharem de receber um Aymara que chegou a presidência do seu país ficam com preconceito. Isso é coisa de americanos que querem se meter na vida de todos os países. Por isso não consigo ter pena quando acontece alguma reação contra os EUA".

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