MENOS UM...
Provavelmente antes foi segredo. O cancro caçou António Borges como caça os vulgares mortais. Afinal
ele era um vulgar motal que mesmo com os pés para a cova debitava presunção
sobre presunção em detrimento do povinho, dos trabalhadores, dos empresários que
com ele discordassem. Mesmo com os pés para a cova mantinha a sua soberba, o
narcisismo muito doentio a atirar para um neonazismo que demonstrava odiar a
ralé que mereceu sempre de sua parte trato de polé. Por tudo isso granjeou uns
quantos que se pudessem lhe chegariam a roupa ao pêlo. Afinal esses não o
caçaram, caçou-o o cancro no pâncreas. Por isso o viamos definhar, a
julgarmos que era da maldade.
Cavaco Silva,
Passos Coelho e outros das suas laias já vieram a público manifestar os seus
lamentos. É natural. Cães grandes e finórios com cães grandes e finórios.
Gananciosos com gananciosos. Rafeiros com rafeiros. Explorados com explorados. Será que o povinho lamenta a morte de António Borges ou
estaria mais depressa disposto a fazer uma festarola?
É sempre lamentável
quando alguém morre… Salvo exceções. Quem lamentou a morte de Hiter, de
Mussuline ou de Estaline? Só os seus correligionários – e mesmo assim muitos
deles até os queriam assassinar, como ficou provado com atentados a Hitler ou
com o efetivo linchamento e queima de Mussuline. Nem tanto ao mar nem tanto à
terra. Assassinar não. Deixemos essa ocorrência ao ritmo da natureza e que os
seus correligionários os lamentem e constatem que nestas circunstâncias o
dinheiro de pouco ou nada vale contra um cancro impiedoso. A ganância destes
atores algumas vezes redunda em cancros e outras doenças que os minam sem que o dinheiro os
salve. A natureza apresentou a fatura impagável a António Borges (tivesse ele a fortuna que tivesse) como a tantos
outros seres humanos que até nem sequer contribuiram em nada para o mal-estar
coletivo e global como é apontado que o fez a seu modo António Borges na Goldman Sachs, ou
no FMI, ou agora em Portugal quando vergastava portugueses com as suas “sapiências”
neofascistas que comprovavam estar do outro lado da barricada, do lado dos
opressores e exploradores globais de alto gabarito. A sua pandilha.
Haverá os que nem vão
chegar aqui a ler este aglomerado de palavras despretencioso porque consideram
que quando alguém morre (ao menos nesse momento) perdoa-se. Que o que possa ter
feito de mal já lá vai. É passado. Pois. Perguntem aos filhos e demais
familiares e amigos daqueles que se suicidaram ao confrontarem-se com a crise
provocada por certos “sábios” da economia e finanças se perdoam aos arquitetos
da crise ou se estão mais virados para dançar sobre as suas campas. Perguntem
aos que perderam as suas casas, as suas viaturas, os seus empregos, as suas famílias
e conheceram a miséria em que ainda sobrevivem no mundo dos sem-abrigo se perdoam aos tais arquitetos
da crise… Ou será que vão fazer festarola?
Siga mais em baixo um pouco do
que foi opinado sobre este "sábio" da economia e finanças de projeção global,
professor universitário que mostrou dispôr-se a chumbar os examinados que
discordassem dele, o democrata de pacotilha impampe, convencido, doentiamente
altaneiro, arrogante assumido que não se coibia de exibir publicamente o seu
desprezo (talvez ódio) pelos “estúpidos” que afinal lhe pagavam 225 mil euros
por mês – livres de impostos. Um vencimento de ouro para ele os achicalhar apesar de já estar com os
pés para a cova. Foi-se. O cancro caçou-o e mostrou-lhe que afinal era um
vulgar mortal, como vulgares somos todos nós se soubermos disso ter consciência.
Borges contribuiu
alguma coisa ou bastante para a vida negra e desgraças de muitos cidadãos deste
mundo mas devemos saber desejar o que ele não seria capaz em relação ao povoléu
estúpido que merece salários inferiores
aos que já hoje são um miséria ou até nem são, por via do desemprego. Que
descanse em paz… apesar de não o merecer. Menos um...
RIP... Ou raios que partissem? Escolham.
Redação PG – AV
O despedimento como
uma oportunidade
Daniel Oliveira –
Expresso, opinião - 5 de junho de 2012
Às vezes, para
perceber as políticas do Estado, é útil conhecer o percurso de alguns dos que
as aplicam. Raramente os que mais nos revelam alguma coisa são os atores
principais. Esses apenas dão a cara por uma determinada agenda. São as figuras
secundárias que mais contam.
Não, não estou a
falar de Miguel Relvas. Relvas faz apenas parte da nossa deprimente elite
política. Estou a falar de um homem que nem ministro é mas que tem, na
aplicação do programa deste governo, um enorme poder: dirige, de facto, o
processo de privatizações e a avaliação das parcerias publico-privadas.
António Borges
trabalhou para a Goldman Sachs. Apesar de não se saber ao certo o que lá fazia
- o que se faz naquele grupo financeiro dedicado ao tráfico de influências
nunca é muito claro -, sabe-se que o grupo teve um papel preponderante na nobre
tarefa de ajudar o governo grego a aldrabar as suas contas. E sabe-se que
depois de ter contribuído para a crise, tratou de colocar homens seus em
lugares chave. Na verdade, eles estiveram sempre nos principais centros de
decisão da Europa e do euro.
Recordo o que já
escrevi no "Expresso", em Novembro de 2011: Otmar Issing foi, como
membro da administração do Bundesbank e do Banco Central Europeu, um dos
principais arquitetos do Euro e da política monetária europeia. É um dos mais
importantes conselheiros da Goldman Sachs. Peter Sutherland,
ex-procurador-geral da Irlanda, foi comissário europeu para a concorrência e
teve um papel central no resgate à banca irlandesa. Até colapsar e ser
nacionalizado, foi diretor não executivo do Royal Bank of Scotland. É diretor
não executivo da Goldman Sachs. Mario Draghi é presidente do Banco Central
Europeu. Antes de regressar ao Banco de Itália foi, entre 2002 e 2005,
vice-presidente da Goldman Sachs. Mario Monti é o primeiro-ministro não eleito
de Itália. Foi conselheiro sénior da Goldman Sachs. O Banco Nacional da Grécia
(privado) foi quem tratou, com a Goldman Sachs, da maquilhagem das contas
públicas. E à sua frente estava Petros Christodoulou, que começou a sua
carreira na Goldman Sachs. Dirigiu, já depois da intervenção externa, a agência
governamental da dívida pública grega. E, por fim, o nosso António Borges: até
há pouco tempo, era o responsável do FMI para a Europa. Agora trata das nossas
privatizações. Foi vice-presidente da Goldman Sachs.
Dirão que serei
injusto se considerar que homem não tem credenciais, pata além desta
respeitável instituição financeira, para tratar desta empreitada. Que Borges
tem currículo. Coisa que a enorme responsabilidade que lhe foi dada no Fundo Monetário
Internacional prova. O bem informado correspondente do "Le Monde" em
Londres, Marc Roche, não concorda. Garante que Borges foi despedido por
incompetência. E, chegado a Portugal para lançar o seu livro "O Banco -
Como a Goldman Sachs dirige o Mundo" (que ainda não li), manifestou a sua
estupefação por ver que era este mesmo homem que estava a tratar das
privatizações.
António Borges
disse, a semana passada, que "a diminuição de salários não é uma política,
é uma urgência, uma emergência". Afirmou mesmo que os salários
portugueses, que tiveram, nos últimos dez anos, uma perda real quase
permanente, aumentaram de forma brutal e irresponsável. Isto num país onde a
maioria das pessoas vive com menos de 800 euros. E quando se prevê uma perda
salarial acumulada, entre 2011 e 2013, de 12,3%. Sabemos porque Borges acha que
a sua opinião "não é uma política", mas uma "urgência". É
assim que esta gente vende a sua agenda: tudo o que defendem é inevitável e
indiscutível. Mas de onde vem esta estranha ideia de que os portugueses ganham
bem? E percebemos: António Borges recebeu, em 2011, 225 mil euros livres de
impostos. E era incompetente para o lugar. Imaginem se fosse bom.
Se António Borges
fosse ministro, como tem de ser quem realmente decide o que se vai fazer com o
património público, teria muitas coisas para explicar. Primeira: o que andou a
fazer numa empresa financeira que se dedica ao tráfico de influência política e
que teve um papel central na crise económica internacional? Segunda: quais
foram as verdadeiras razões que levaram ao seu despedimento do FMI? E porque é
que, sendo mau para o FMI, há de ser bom para o Estado português. Terceira: com
que autoridade alguém que teve um excelente salário (para dizer o mínimo) e
dele não retirou qualquer valor para o pagamento de impostos em qualquer país,
diz aos portugueses com salários miseráveis ganham demais?
Acontece que Borges
não é ministro. Está por isso livre do escrutínio político, como o governo quer
que estejam as privatizações. É só um homem de negócios. E está a tratar de
fazê-los (ou de interferir neles, como se cheira no caso da CIMPOR) com o que a
nós todos pertence. António Borges não tem culpa. Foi apenas mais um português
despedido do seu emprego (não consta que tenha sido por extinção do posto de
trabalho). E, seguindo o conselho de Passos Coelho, viu o seu desemprego como
uma oportunidade.
O inteligente mais
estúpido
Rui Tavares - 2 de
Outubro de 2012
O mais perigoso
ignorante é aquele que ignora a sua ignorância.
Creio que é Mário
Soares quem costuma contar a história, passada na Lisboa salazarista, de um
amigo seu que ao ver passar pelo Chiado o filósofo e autor António Sérgio,
exclamou: “olha, ali vai o parvinho mais inteligente que eu conheço!”.
Vem a isto a
propósito de António Borges, o consultor do governo que decidiu chamar de
“completamente ignorantes”, torcendo o rosto num esgar de raiva, a todos os
empresários que decidiram criticar a medida da subida da TSU para os
trabalhadores e correspondente descida para os patrões. Borges é um homem com
currículo no Goldman Sachs, na escola de gestão europeia INSEAD e no Fundo
Monetário Internacional. Não deve ser, pois, nenhum ignorante: é apenas o
inteligente mais estúpido do país.
Digo isto, ou tento
dizer, sem insulto associado. Todos somos assim, espertos para umas coisas e
parvos para outras. O problema de António Borges está em que a excessiva
facilidade que tem em ver a ignorância dos outros o cega para a sua própria
ignorância.
O mais perigoso
ignorante é aquele que ignora a sua ignorância.
António Borges
disse ainda outras duas coisas que são dignas de menção.
A primeira é que os
ditos empresários não passariam no primeiro ano do seu curso na faculdade. Para
ele não é de considerar sequer a hipótese de haver críticas inteligentes à sua
ideia: aluno que discorde está chumbado. Além de mau consultor governamental,
Borges não parece ser bom professor.
A segunda foi a
repetição do lugar-comum de que “gastámos mais do que podíamos… e o programa de
ajustamento tem de ser doloroso”. Também aqui, António Borges pretende
circunscrever todas as opiniões discordantes sob o labéu da ignorância. Para
isso é essencial esquecer que, desde que a crise do euro começou, Portugal
perdeu mais de setenta mil milhões de euros em fugas de capitais, motivadas em
primeiro lugar pela incerteza sobre as possibilidades de manutenção do nosso
país na zona euro. Este número, calculado a partir da bitola dos desequilíbrios
no mecanismo “Target 2” do Banco Central Europeu, é equivalente ao montante do
nosso resgate pela troika. O que isto significa é que a falta de crescimento, e
o subdesenvolvimento da nossa economia, é o nosso principal problema. Mas a
nossa insolvência vem de Bruxelas, Berlim e Frankfurt.
O nosso problema
está em que esta ignorância arrogante está no poder. Pedro Passos Coelho é
nitidamente tributário da doutrina económica de António Borges e, tal como o
seu mentor, também o nosso primeiro-ministro não se apercebe da sua ignorância.
Como explicariam os
antigos, essa é a fronteira que separa o conhecimento da sabedoria, essencial
ao bom governo.
1 comentário:
COMO ESTE "CAVALHEIRO DE TRISTE FORTUNA" NÃO LEVOU A RIQUEZA CONSIGO, NECESSÁRIO SE TORNA SABER QUEM SÃO OS HERDEIROS!
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