sábado, 24 de agosto de 2013

CAPITALISMO PARA TÓTÓS

 

 
Tiago Mota Saraiva – Jornal i, opinião
 
Há poucos anos as bombas de gasolina em self-service generalizaram-se. Dizia-se que eram mais rápidas e esperava-se que pudessem vir a vender mais barato. Contudo, o progressivo desaparecimento dos gasolineiros não confirmou nem uma nem outra ideia. Hoje “o sistema” tende a atrasar com o pré-pagamento, ainda que só emita factura válida após o fornecimento da gasolina – condenando os novos gasolineiros a um idiota entra e sai da estação de serviço – e a liberalização derrubou as expectativas da diminuição do preço – condenando os novos gasolineiros a um pateta jogo de acumulação de cartões de desconto entre supermercados e estações de serviço.
 
Mas este não é caso único de substituição do trabalhador não pela máquina mas pelo próprio consumidor.
 
No caso da empresa IKEA, a ausência de quem possa servir à mesa ou recolher os pratos das suas áreas de restaurante é assumida em cartazes espalhados pelas suas zonas de refeição e transmitida ao comprador como uma se se tratasse de regras de boa educação. No IKEA “deixar a mesa limpa no final é uma das razões para pagar menos” e assim “os nossos colaboradores terão mais tempo para cozinhar e para o servir melhor”. Dois argumentos difíceis de aceitar, dado que ninguém imaginará as cozinhas desta multinacional pejadas de fantásticos cozinheiros dispostos a fazer arte das bolas de carne e salmão congelados que chegam da Suécia – com tudo rigorosamente enquadrado por directivas comunitárias feitas à medida – ou que as funestas iguarias constantes do seu cardápio não serão vendidas mais caras porque o IKEA acha que somos bem educados.
 
É sempre com o engodo do preço que, nestes e noutros caso, vamos assistindo em silêncio à progressiva eliminação de postos trabalho em prol do lucro vendedor.
 
Escreve ao sábado
 
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