Tiago Mota Saraiva –
Jornal i, opinião
Há poucos anos as
bombas de gasolina em self-service generalizaram-se. Dizia-se que eram mais
rápidas e esperava-se que pudessem vir a vender mais barato. Contudo, o
progressivo desaparecimento dos gasolineiros não confirmou nem uma nem outra
ideia. Hoje “o sistema” tende a atrasar com o pré-pagamento, ainda que só emita
factura válida após o fornecimento da gasolina – condenando os novos
gasolineiros a um idiota entra e sai da estação de serviço – e a liberalização
derrubou as expectativas da diminuição do preço – condenando os novos
gasolineiros a um pateta jogo de acumulação de cartões de desconto entre
supermercados e estações de serviço.
Mas este não é caso
único de substituição do trabalhador não pela máquina mas pelo próprio
consumidor.
No caso da empresa
IKEA, a ausência de quem possa servir à mesa ou recolher os pratos das suas
áreas de restaurante é assumida em cartazes espalhados pelas suas zonas de
refeição e transmitida ao comprador como uma se se tratasse de regras de boa
educação. No IKEA “deixar a mesa limpa no final é uma das razões para pagar
menos” e assim “os nossos colaboradores terão mais tempo para cozinhar e para o
servir melhor”. Dois argumentos difíceis de aceitar, dado que ninguém imaginará
as cozinhas desta multinacional pejadas de fantásticos cozinheiros dispostos a
fazer arte das bolas de carne e salmão congelados que chegam da Suécia – com
tudo rigorosamente enquadrado por directivas comunitárias feitas à medida – ou
que as funestas iguarias constantes do seu cardápio não serão vendidas mais
caras porque o IKEA acha que somos bem educados.
É sempre com o
engodo do preço que, nestes e noutros caso, vamos assistindo em silêncio à
progressiva eliminação de postos trabalho em prol do lucro vendedor.
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