“O País” revela os meandros da caça furtiva e
alguns nomes envolvidos. Alugar arma a um caçador furtivo custa 300 mil
meticais e mais alguns quilos de corno.
Na noite do domingo
passado, 26 de Agosto em curso, as autoridades sul-africanas abateram
mortalmente um militar moçambicano, de nome Santos, afecto à brigada Radiotécnica,
em Massingir, na província de Gaza.
“Dá-nos o pau,
trazemos-te o produto” é uma frase com mensagem codificada. O pau e o produto a
que se referem não são, na verdade, aqueles objectos que conhecemos. São outros
com um valor comercial não acessível a qualquer um. Descodificada, a mensagem da
frase quer dizer “dá-nos a arma e trazemos-te o corno de rinoceronte”. Trata-se
de uma frase famosa e familiar no interior do Parque Nacional do Limpopo,
sobretudo nos meandros da caça furtiva. Um dos guardas do Parque Nacional do
Limpopo contou-nos que é assim como eles (guardas) são aliciados pelos
caçadores furtivos, por sinal colegas, com fortes ligações aos caçadores
furtivos.
“Eles vêm ter
connosco, através dos nossos colegas, alguns dos quais já expulsos e com
processos em curso nos tribunais e dizem-nos para lhes darmos o pau e que eles
nos trazem o produto”. Quer dizer, “dá-nos a arma e nós trazemos-te o corno de rinoceronte”.
O que “O País” sabe
dos guardas do parque é que o aluguer de uma arma de fogo para a caça de
rinoceronte custa 300 mil meticais para quem a aluga (cerca de 10 mil dólares
americanos). O valor não inclui os quilos de cornos de que tem direito o
locador (quem alugou a arma) após ter sido abatido o rinoceronte. É que além
dos 300 mil meticais, o agente que alugar a arma tem direito a alguns quilos do
corno, convertidos em dinheiro. Por exemplo, para além dos 300 mil meticais, o
agente terá outro valor adicional após a venda do corno, que pode ascender a
500 mil meticais, dependendo do peso. No fim, este agente pode chegar a receber
entre 700 mil meticais e 1 milhão de meticais (entre 23 e 30 mil dólares).
“Se eu quisesse
enriquecer com este negócio já estaria e nem estaria aqui. Tivemos colegas que
desertaram para se dedicarem ao negócio de abate de rinocerontes no Kruger
Parque. Outros já morreram”, revela a fonte.
Os depoimentos do
agente do Parque Nacional do Limpopo vem consubstanciar a decisão tomada pela
direcção daquela instituição, no princípio deste ano, de instaurar processos
disciplinares a 30 guardas e expulsar alguns por cumplicidade com os caçadores.
“É trágico saber que eles se tornaram o inimigo na luta pela protecção da
espécie”, disse António Abacar, administrador do Parque, revelando a sua
preocupação. “O grande problema que nos preocupa é que alguns dos nossos funcionários
estão envolvidos na caça furtiva”.
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