Alfredo Manjate – Verdade (mz)
O Parlamento
moçambicano aprovou esta quarta-feira (07) o Estatuto dos Médicos na
Administração Pública. Este documento já vinha sendo esperado a cerca de 17
anos, porém, a sua aprovação não aliviou as expectativas dos médicos uma vez
que o mesmo ainda não responde de forma cabal aos anseios destes profissionais.
Segundo o
presidente da Associação Médica de Moçambique (AMM), Jorge Arroz, o
instrumento, ora aprovado na generalidade e em consenso pela Assembleia da
Republica (AR), está aquém das perspectivas da classe médica moçambicana. O
aspecto primordial de discórdia é relativo à sua abrangência, pois o mesmo
apenas veicula a actividades dos médicos pertencentes à Administração Pública,
sendo que os profissionais que se encontra afectos em instituições privadas
ainda continuam órfão deste dispositivo legal.
"Era nossa
expectativa termos um Estatuto dos Médicos mais abrangente ao nível do Sistema
Nacional de Saúde, mas o que vemos é, nesta primeira fase, ao nível da
Administração Pública”, disse Jorge Arroz, que ressalvou, contudo, que a
aprovação deste Estatuto representa um marco histórico para aquela classe e,
como tal, merece ser comemorado.
Um exemplo que dos
aspectos que não deixa acomodados os médicos é relativo ao artigo 28 que versa
sobre o “tempo de serviço a prestar ao aparelho do Estado após a Formação”, que
na opinião destes devia ser retirado. Este artigo determina no seu número um
que, “os médicos e médicos dentistas, formados nas Universidades Públicas estão
obrigados a prestar Serviço do Estado por um período equivalente ou superior ao
período da sua formação”.
O número seguinte
do mesmo artigo estabelece que “os médicos e médicos dentistas, funcionários ou
agentes do Estado que beneficiaram de uma bolsa de estudo são obrigados a
trabalhar por um período equivalente ou superior ao período da sua formação”. O
Estatuto estabelece ainda que “os médicos do Serviço Nacional de Saúde exercem
as suas funções em regime de ocupação exclusiva”, facto que não deixa
acomodados estes profissionais, uma vez que consideram que existem outros
regimes que o Governo podia adoptar de modo a satisfazer as necessidades das
partes.
A questão da
responsabilidade individual impostas ao médicos em caso de prejuízos a
terceiros também deixa desconfortáveis os médicos. Sobre este aspecto, Arroz
disse que a mesma consta do Estatuto da Ordem dos Médicos e do Código
Deontológico. Entretanto, “existe um Conselho Jurisdicional da Ordem dos
Médicos que está a trabalhar à volta da responsabilidade individual dos médicos
no exercício da sua profissão”.
CACDHL desaconselha
regime de exclusividade
Na apresentação do
seu parecer sobre a proposta do Estatuto dos Médicos, a Comissão dos Assuntos
Constitucionais, Direito Humanos e de Legalidade (CACDHL) mostrou-se
desfavorável ao regime de exclusividade previsto neste documento.
Segundo apresentou
o presidente da CACDHL, Teodoro Waty, permitir que os médicos exerçam outras
actividades fora deste serviço pode trazer algumas vantagens. “O médico do
Sistemas Nacional de Saúde que trabalhe igualmente, por exemplo, no sector
privado ou numa organização não governamental, pode, de certa forma, acumular
experiência e beneficiar de formação”, o que, por conseguinte, iria beneficiar
o próprio Estado.
Assim, aquela
comissão, no seu parecer, refere que “seria de admitir que os médicos do SNS
exerçam a função, uns em regime de exclusividade e outros sem esse regime,
podendo-se para o efeito, fixar um subsídio de dedicação exclusiva”.
Entretanto, o
ministro de Saúde, Alexandre Manguele, a quem coube a tarefa de apresentar em
Plenário a proposta do Estatuto em causa, tentou desestruturar o argumento
apresentado por Waty, afirmando que “até agora é no serviço público que se
formam os médicos, porque os privados querem já um médico em experiência”.
Porém, o ministro
disse ter acolhido todas as propostas levantadas tanto pelas comissões da AR
bem como as que vem dos parlamentares e que não ferem o espírito do Estatuto
proposto. O Estatuto dos Médicos estará novamente na agenda do Parlamento esta
sexta-feira (09), para ser apreciado na especialidade.
Consenso das
bancadas
As três bancadas
que compõem a Assembleia da República, num acto pouco comum, uniformizaram o
seu voto para a aprovação dos Estatuto dos Médicos, reconhecendo-lhe mérito e
pertinência.
Entretanto, a
deputada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Alcinda da Conceição
sublinhou o facto de este documento não responder aos anseios da classe médica
do país. A mesma posição foi defendida bancada da Renamo. Por sua vez, a
bancada maioritária, a Frelimo, considera que o instrumento vem responder à
longa espera dos médicos.
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