Entrevista
O secretário-executivo
da CPLP diz que a Renamo exagerou ao tentar enveredar por processos não
legalmente autorizados, referindo-se aos ataques em Muxúnguè. Isaac Murargy vê
na acção de Afonso Dhlakama uma manifestação de protagonismo e visibilidade.
Moçambique tem
surpreendido o mundo com um nível elevado de descobertas de recursos minerais.
Quando é que o país irá usar este trunfo para fortificar o seu posicionamento
na CPLP?
Eu digo sempre que
países fortes, fortalecem a comunidade. A pujança que um país tem na sua região
acaba fortificando o grupo. Isto é importante, dado que é possível fazer com
que a CPLP sirva também os interesses do país e não apenas de outros países e,
porque a CPLP deve servir grande a todos os países que nela congregam, acredito
que a pujança de Moçambique, a pujança de Angola e dos outros, vai dar uma
força à própria CPLP. Mesmo para interagir com as outras visões internacionais.
Como é que a CPLP
tem reagido à actual situação político-militar de Moçambique?
Eu, como secretário
executivo da CPLP e não apenas como moçambicano, tenho a dizer que a CPLP ainda
não foi convocada para qualquer intervenção para este assunto. nós estamos a
acompanhar, mas sem grandes alarmes. Estamos convencidos de que o governo
moçambicano, sobretudo o presidente da república, vai gerir a situação como
está a gerir até agora, sem levantar grandes preocupações. Nós sabemos, agora
como moçambicano, que sempre que se avizinham eleições em Moçambique, a
posição, neste caso a Renamo, quer sempre dar a sua visibilidade, mas desta vez
exagerou ao tentar enveredar por processos não legalmente autorizados. O
governo moçambicano soube gerir a situação e de cabeça fria. Penso que a
situação está controlada, não há necessidade de intervenção da CPLP e não há
motivos de alarme, nem para realizar um Conselho de Ministros da CPLP ou uma
cimeira especial para analisar esta situação, porque não há necessidade.
A CPLP está a par
do diálogo político que está em curso?
Moçambique sempre
primou pelo diálogo desde os acordos passados. O diálogo que, aliás, faz parte
dos princípios da própria CPLP é sempre necessário.
Olhando para o
actual cenário de constante crescimento da economia moçambicana, que bloco é
que idealiza nos próximos tempos?
Os países que
compõem a nossa comunidade têm um grande potencial. Podemos pegar nos recursos
energéticos que estão a despontar, mas temos o Brasil que tem uma capacidade
energética em termos de petróleo, temos a Angola na mesma situação, o Timor, a
Guiné, pois fala-se que há petróleo, São Tomé e Portugal. portanto, nós temos
um bloco de países com enorme potencial energético. Temos países com um grande
potencial na agricultura, portanto, temos um grupo de países que pode suprir o
número desta crise alimentar que, em pouco tempo, vamos ter que enfrentar. O
nosso país tem a agricultura como base e com uma capacidade de alimentar, não
só os países da CPLP, mas os outros países também. Portanto, nós podemos ser um
bloco muito forte.
Supressão de vistos
Muitos blocos têm
pautado pela política de isenção de vistos, como uma das formas de garantir a
mobilidade. A CPLP já colocou este assunto em cima da mesa?
É um assunto que
não é fácil de resolver assim à vista, porque Portugal está ligado a outros
acordos. Para decidir abrir as portas, tem que consultar os seus cerca de 29
parceiros. Nós, na SADC, temos Moçambique e Angola, e temos os nossos
mecanismos de situação a nível de espaço. Estamos a caminhar para este nível em
que o mesmo visto de entrada para Moçambique poderá servir também para a SADC.
Portanto, são esses acordos que nós temos que tentar harmonizar para permitir
que todos estejamos de acordo. Como eu disse, temos que dar o primeiro passo,
faseado, em termos de selectividade.
Coloca-se a
hipótese de um dia ser uma comunidade livre em matéria de circulação?
Eu acredito que
sim. Tenho a confiança que isso vai acontecer um dia. Pode não ser durante o
meu mandato, mas eu acredito que isto irá acontecer, porque nós estamos a
construir uma comunidade e, entre médio e longo prazo, chegaremos lá. O que é
preciso é que haja uma vontade política dos Estados membros de afinar as suas
máquinas, porque isso implica que as nossas polícias, os nossos ministérios da
justiça, do interior têm que estar harmonizados e afinados como a mesma
máquina. porque se acontece algo protagonizado por um cidadão de um dos Estados
membros, temos que criar condições para que este cidadão seja detectado.
Portanto, temos que criar uma máquina capaz de localizar aquele que cometeu uma
infracção. Mas nós estamos ainda numa fase de protecção contra a imigração.
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