Paulo Luís de Castro - Expresso
Antiga responsável
pelo DCIAP garante ainda que no caso Freeport não há nada que incrimine José
Sócrates e diz que gostaria de ter tido mais apoio de Pinto Monteiro
No caso BPN, "mexe-se na terra e sai minhoca por todo o sítio". Quem o garante é Cândida Almeida, a antiga responsável e criadora do DCIAP (Departamento Central de ação e Investigação Penal) numa entrevista hoje publicada no "Diário Económico".
Apesar de já estar
desligada do processo, por ter sido substituída e colocada no Supremo Tribunal
de Justiça, a primeira mulher da magistratura portuguesa confia no sucesso da
investigação criminal às fraudes cometidas no Banco Português de Negócios:
"Os magistrados estão muito mais qualificados e direcionados para este
tipo de investigação", garante, fazendo comparações ao tempo em que,
sozinha, teve de lidar com o processo das FP-25, "porque não havia
antecedentes nem precedentes".
Porém, Cândida
Almeida alerta que só com "reforço de meios e apoio institucional se pode
fazer alguma coisa" para apurar toda a verdade no caso BPN. "Aquilo é
um mundo, um mundo...", insiste, dizendo ter sido "construído também
com todo o à-vontade científico e cirúrgico".
Obstáculos "do
interior da própria magistratura"
Cândida Almeida não
esconde que o DCIAP "era, com todos os defeitos, uma criação minha" e
que lhe trouxe mágoa separar-se do seu "filho", porque "queremos
sempre estar perto dele e queremo-lo para nós". Hoje, diz tratar-se de
"um departamento essencial para a justiça". E revela que na fase
inicial e durante os 12 anos em que liderou o DCIAP teve de lutar contra muitos
obstáculos, nomeadamente "um status quo muito difícil que está instalado
em toda a sociedade portuguesa: o que é novo é olhado de soslaio".
Lamentando que
alguns desses obstáculos fossem provenientes "do interior da própria
magistratura", Cândida Almeida insiste na necessidade reforço das
estruturas e meios de investigação, classificando de "absolutamente injustas"
as críticas à morosidade das investigações enquanto esteve na liderança do
DCIAP.
"Não há nada
no Freeport, pedi para investigarem tudo"
Falando de um dos
casos mais polémicos que teve de investigar, a magistrada garante que "não
há nada no Freeport, pedi para investigarem tudo". Ao "Diário
Económico", Cândida Almeida diz não ter detetado qualquer benefício do
ex-primeiro-ministro José Sócrates em todo o processo, salientando que
"uma coisa é o que lá está, outra o que dizem". E remata:
"Aquilo que lá estava, por mais que se fizesse, não permitia noutra
solução que não o arquivamento", sugerindo aos interessados a leitura do
processo.
Dizendo-se também
magoada por ter sido acusada de violar o segredo de Justiça, apesar de sair
ilibada dessa suspeita, Cândida Almeida aborda também o relacionamento mantido
com o antigo procurador-geral da República: "Não me deu apoio que eu
achava que merecia", revela, embora reconheça também que em momento algum
se sentiu pressionada por Pinto Monteiro.
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