quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Portugal: NO CASO BPN “MEXE-SE NA TERRA E SAI MINHOCA”, diz Cândida Almeida

 

Paulo Luís de Castro - Expresso
 
Antiga responsável pelo DCIAP garante ainda que no caso Freeport não há nada que incrimine José Sócrates e diz que gostaria de ter tido mais apoio de Pinto Monteiro

No caso BPN, "mexe-se na terra e sai minhoca por todo o sítio". Quem o garante é Cândida Almeida, a antiga responsável e criadora do DCIAP (Departamento Central de ação e Investigação Penal) numa entrevista hoje publicada no "Diário Económico".
 
Apesar de já estar desligada do processo, por ter sido substituída e colocada no Supremo Tribunal de Justiça, a primeira mulher da magistratura portuguesa confia no sucesso da investigação criminal às fraudes cometidas no Banco Português de Negócios: "Os magistrados estão muito mais qualificados e direcionados para este tipo de investigação", garante, fazendo comparações ao tempo em que, sozinha, teve de lidar com o processo das FP-25, "porque não havia antecedentes nem precedentes".
 
Porém, Cândida Almeida alerta que só com "reforço de meios e apoio institucional se pode fazer alguma coisa" para apurar toda a verdade no caso BPN. "Aquilo é um mundo, um mundo...", insiste, dizendo ter sido "construído também com todo o à-vontade científico e cirúrgico".
 
Obstáculos "do interior da própria magistratura"
 
Cândida Almeida não esconde que o DCIAP "era, com todos os defeitos, uma criação minha" e que lhe trouxe mágoa separar-se do seu "filho", porque "queremos sempre estar perto dele e queremo-lo para nós". Hoje, diz tratar-se de "um departamento essencial para a justiça". E revela que na fase inicial e durante os 12 anos em que liderou o DCIAP teve de lutar contra muitos obstáculos, nomeadamente "um status quo muito difícil que está instalado em toda a sociedade portuguesa: o que é novo é olhado de soslaio".
 
Lamentando que alguns desses obstáculos fossem provenientes "do interior da própria magistratura", Cândida Almeida insiste na necessidade reforço das estruturas e meios de investigação, classificando de "absolutamente injustas" as críticas à morosidade das investigações enquanto esteve na liderança do DCIAP.
 
"Não há nada no Freeport, pedi para investigarem tudo"
 
Falando de um dos casos mais polémicos que teve de investigar, a magistrada garante que "não há nada no Freeport, pedi para investigarem tudo". Ao "Diário Económico", Cândida Almeida diz não ter detetado qualquer benefício do ex-primeiro-ministro José Sócrates em todo o processo, salientando que "uma coisa é o que lá está, outra o que dizem". E remata: "Aquilo que lá estava, por mais que se fizesse, não permitia noutra solução que não o arquivamento", sugerindo aos interessados a leitura do processo.
 
Dizendo-se também magoada por ter sido acusada de violar o segredo de Justiça, apesar de sair ilibada dessa suspeita, Cândida Almeida aborda também o relacionamento mantido com o antigo procurador-geral da República: "Não me deu apoio que eu achava que merecia", revela, embora reconheça também que em momento algum se sentiu pressionada por Pinto Monteiro.
 

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