quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Portugal: PROVAVELMENTE A MELHOR NOTÍCIA...

 

Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
 
A ideia de que o 1,1% redime o Memorando da troika é falaciosa
 
O aumento do PIB é provavelmente a melhor notícia que um país dentro de um poço podia receber. Se 1,1% de crescimento fica abaixo dois pontos dos resultados do ano passado por esta época (e o PS tem razão em acentuar que Portugal está hoje pior do que estava em 2012), a taxa de crescimento de 1,1% abre uma luz no fundo do poço. O que nos diz este número é que estamos no poço, mas nos foi lançada uma corda, uma vez que a tendência de queda da economia é, pela primeira vez em dois anos e meio, invertida. E até o cauteloso ministro da Economia, António Pires de Lima, arriscou ontem que "provavelmente estamos num momento de viragem económica". Mas provavelmente a Carlsberg nem é a melhor cerveja do mundo.
 
O problema com a corda que nos foi atirada para dentro do poço é que não é suficientemente sólida para que, na festa do Pontal que vai acontecer sexta-feira, o primeiro-ministro proclame novamente o fim da crise para o ano que vem (já a tinha prometido para este ano). Infelizmente, o risco de a corda se partir é enorme: os cortes de 4 mil milhões que o Orçamento do Estado para 2014 vão contemplar significam, como apropriadamente o ministro da Administração Interna lhes chamou, "meter o Rossio na Rua da Betesga" - mais vítimas, mais desempregados, menos rendimento disponível, menos investimento. Era a altura certa para inverter a marcha alucinada da santa aliança entre troika e governo e travar a fundo. O país é insustentável com uma taxa de desemprego de 17% - e os números terríveis do desemprego de longa duração ajudam a explicar como o governo e a troika se empenharam a criar uma segunda geração perdida, a par dos jovens.
 
A ideia de que o número de 1,1% - que apanhou de surpresa vários economistas, já que as previsões admitiam um cenário muito mais grave - é um factor de redenção do Memorando da troika é falaciosa. Um país que disparou no desemprego, mandou os seus jovens emigrarem, pontapeou reformados, despede sumariamente funcionários públicos, corta à bruta nas prestações sociais, não é seguramente uma prova da validade do Memorando. Até aqui, as políticas europeias em curso encarregaram-se de rebentar com a Europa - com a Alemanha como excepção. Se mudarem, Portugal pode ter esperança de que 1,1% de crescimento se reflicta na vida das pessoas - em mais emprego. A corda a que nos agarramos é de uma grande fragilidade.
 

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