sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Portugal: VENHAM MAIS “BRIEFINGS”

 


Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião
 
Não, não concordo com o provedor do DN: a tentativa por parte de um governo (ou clube de futebol, empresa, etc.) de condicionar a cobertura jornalística transmitindo a sua mensagem e tentando até evitar perguntas incómodas não é fascista. É a coisa mais normal do mundo em democracia. Aliás, só em democracia é que esta questão se coloca nestes termos, porque nas ditaduras o condicionamento, pelos governos, do que é publicado e da própria atividade dos jornalistas - quando sequer existem -, efetua-se quer através da censura oficial, como ocorreu em Portugal no período a que chamamos, precisamente, fascismo, como da perseguição, prisão e até assassínio que sucederam e sucedem noutras paragens.
 
Claro que podemos, por exemplo, questionar se é fascismo o que fez Relvas quando ligou para o Público a ameaçar revelar a vida privada de uma repórter que lhe fazia perguntas de que ele não gostava. É abjeto, é intolerável (mesmo se, parece, o próprio jornal o tolerou), é de mafioso, pode até ser ilegal, demonstra uma total incapacidade de lidar com a liberdade de informação constitucionalmente consagrada e deveria ter determinado logo ali a demissão do ministro por clamor generalizado (que não houve). Mas será fascista? E, mesmo que possa ser como tal classificado, isso adianta alguma coisa para a compreensão e para a denúncia do facto e da personagem, para a consciencialização pública da necessidade de repudiar este tipo de atitude? Não me parece.
 
Ora se para o caso limite de Relvas devemos ter dúvidas em usar o termo fascismo, que dizer dos seus sucessores na pasta da comunicação social, que criaram a figura do briefing diário, agora bi-semanal, em que divertem, em direto, o País com as caras, gaguejos e saídas impagáveis do mestre de cerimónias Lomba (talento até agora insuspeito na sitdown comedy) e dos membros do Governo para ali arrastados? Sim, Oscar (Mascarenhas) tens toda a razão em te indignares com as tolices ignaras esportuladas por Lomba e Maduro, na senda, aliás, das de Sofia Galvão na célebre conferência do Palácio Foz, sobre on e off. Todos os motivos para te passares com o facto de estas coisas passarem sem nota nos media e na generalidade dos comentadores e para, citando o exemplo da Hungria e da Grécia, nos avisares para o facto de antes da serpente devermos ser capazes de divisar o ovo. E toda a autoridade, dever até, para admoestar os jornalistas e respetivas direções por comerem e calarem na saloiice do "lá fora também é assim".
 
Mas, Oscar, fascismo, o espetáculo de um secretário de Estado alegadamente da propaganda a dizer para as câmaras que o Governo vai averiguar o que é ou não verdade na versão de um colega seu, sem sequer perceber que o está a demitir (e a si próprio, se há por ali resquício de vida inteligente)? Por amor de deus, com tanto motivo de mágoa e tão poucas séries de jeito na TV, não nos queiras privar disto.
 

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