PACAVIRA QUE SE
RECLAMA HISTÓRICO DO MPLA ERA TOUPEIRA INFILTRADA DE SALAZAR
Folha 8 – 7 setembro
2013 – edição 1158
Manuel Pedro
Pacavira licenciou-se em Ciências Sociais pela Universidade de Havana, foi
Ministro da Agricultura e dos Transportes e representante de Angola na ONU,
Governador do Kwanza Norte. Foi também embaixador de Angola em Cuba e em
Itália. Foi, antes de tudo isso, colaborador da PIDE como consta da folha 84
do Processo Crime nº 554/66 existente na Torre do Tombo, em Lisboa.
Pacavira terá
começado a colaborar com a PIDE por volta de 1960, pois, quando, em Março
daquele ano, se deslocou a Brazzaville para se avistar com Lúcio Lara, que
vinha de Conakry mandatado pelo Comité Director do MPLA, já prestava serviços
à polícia portuguesa.
Por isso, no
trajecto até à fronteira do Congo, terá sido acompanhado pelo sub-inspector
Jaime de Oliveira da PIDE que ficou inteirado da documentação que levava. O
mesmo aconteceu, no regresso, já no mês de Maio.
Aquele oficial da
PIDE aguardava-o no posto de fronteira e ali mesmo tomou conhecimento de toda
a papelada trazida. Os papéis não foram retirados a Pacavira mas sim
reproduzidos. De modo que, a 8 de Março, na reunião do MINA realizada na sua
residência e em que esteve presente Agostinho Neto, os papéis foram exibidos
aos membros da direcção do MPLA. Entretanto, as cópias tinham passado a figurar
nos arquivos da PIDE.
No final de Maio
realizou-se uma segunda reunião, desta vez em casa do Fernando Coelho da
Cruz. Nessa altura, Joaquim Pinto de Andrade, membro da direcção, ter-se-á
apercebido da presença da PIDE nas imediações por sinais considerados suspeitos:
ao entrar na casa, foi ofuscado pelas luzes de um automóvel, o que o impediu de
ver fosse o que quer que fosse em seu redor. [Testemunho do próprio Joaquim
Pinto de Andrade, nos anos noventa, em Lisboa].
As detenções de
Joaquim Pinto de Andrade e de Agostinho Neto ocorreram no dia 8 de Junho. No
decurso dos interrogatórios e, principalmente, na sessão de acareação com
Pacavira, Joaquim Pinto de Andrade afirmava não ter a mínima dúvida de que o
denunciante de todos eles fora o “Pakassa”, nome de código de Pacavira [
Testemunho do próprio Joaquim Pinto de Andrade, nos anos 90, em Lisboa] .
Num processo
existente nos arquivos da PIDE depositados em Lisboa, na Torre do Tombo,
consta uma nota que reza o seguinte: “Por divulgação de Lourenço Barros [não
se sabe quem seja] teria sido o Patrício de Carvalho Sobrinho [outro desconhecido]
a pessoa que denunciou o dr. Agostinho Neto”.
Ora a folha do
processo com aquela nota é apenas uma fotocópia, em que o nome do informador
está expurgado. Conclusão: nem o Lourenço Barros nem o Patrício de Carvalho
Sobrinho devem ser figuras reais. E a nota em causa parece ser estratagema
frequentemente usado pela PIDE para encobrir os seus informadores. Claro que,
na folha original, deve constar o nome do Pacavira [Torre do Tombo, Lisboa,
Arquivos da PIDE, Processo nº 11.15, MPLA, pasta A].
Pacavira foi membro
fundador da «TRIBUNA DOS MECEQUES». A denúncia, feita por Nito Alves nas «Treze
Teses em Minha Defesa», pode ser confirmada nos arquivos existentes na Torre
do Tombo.
O jornal foi
programado por São José Lopes, o responsável máximo pela PIDE, num relatório em
que declara estar totalmente de acordo com as soluções apresentadas pelo
“grupo de trabalho” que estudara os vários aspectos sociais e políticos dos
muceques de Luanda.
No que respeitava à
propaganda, além da realizada pela rádio (que não alcançaria os objectivos
desejados pelos colonialistas), São José Lopes propunha que se lançasse um
jornal do muceque [Torre do Tombo, Lisboa, Arquivos da PIDE, Processo 7477
CI(2), Comando de Operações Especiais, pasta 22, fls. 4 ss.).
Aí está, pois, a
célebre «Tribuna dos Muceques», um jornal da PIDE, como afirma a Embaixada de
Angola na biografia do embaixador Adriano João Sebastião.
De resto, nas
declarações que faz e assina no dia 7 de Junho de 1966, Manuel Pedro Pacavira
diz estar “totalmente regenerado, com arrependimento sincero e completo, de
todos os seus erros” e oferece à PIDE “toda a sua colaboração, estando pronto
a obedecer, leal e cegamente, a tudo o que lhe for ordenado”.
E para provar a sua
lealdade afirma não se importar “de falar em público contra as organizações
subversivas que lutam pela independência de Angola”. E até “gostaria de
redigir e fazer publicar, sob a sua autenticidade, artigos de carácter
patriótico, em repulsa das falsas promessas dos pretensos libertadores de
Angola” [Torre do Tombo, Lisboa, Arquivos da PIDE, Processo Crime nº 554/66, f.
84].
Pacavira seria,
pois, um agente duplo, simultaneamente elemento do MPLA e informador da PIDE,
ora trabalhando para uns ora servindo outros. Mas a polícia não lhe perdoa a
duplicidade. De modo que, volta e meia, o mandam de novo para a cadeia.
Facto saliente
prende-se com a figura de Cândido Fernandes da Costa, que pertenceu ao elenco
directivo do MINA. Há muitos anos que, em Luanda, a morte de Cândido, ainda
antes da independência nacional, terá envolvido Pacavira, se bem que, neste
caso, possa ter agido a mando de alguém.
Mas Pacavira foi o
braço executor. Tal como no fuzilamento em praça pública do Virgílio Francisco
“Sotto-Maior”. Um e outro, ao que parece, seriam figuras muito incómodas,
especialmente Cândido Fernandes da Costa, executado numa tocaia.
Com efeito, em
1975, segundo se lê numa autobiografia do antigo embaixador Adriano
Sebastião, Pacavira mandou fuzilar um antigo companheiro de prisão, Virgílio
Francisco (Sotto-Mayor), com base numa falsa acusação [«Dos Campos de Algodão
aos Dias de Hoje»].
Fiel aos princípios
de denunciante, Pacavira terá sido “dos primeiros a denunciar a existência de
uma conjura “nitista” no interior do MPLA” (Mabeko Tali, O MPLA perante si
próprio, II, p. 202). E ter-se-á destacado depois como mandante do terror.
No dia 29 de
Outubro de 2008, Pacavira foi um dos presos angolanos a intervir no Colóquio
Internacional sobre o Tarrafal, colóquio este promovido pelo movimento “Não
Apaguem a Memória” e pela Associação 25 de Abril e realizado na Assembleia da
República Portuguesa.
É autor do livro “José
Eduardo dos Santos, uma vida dedicada à pátria” (2006).
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