terça-feira, 8 de outubro de 2013

Brasil: MÉDICOS CUBANOS FAZEM SUCESSO NO SERTÃO NORDESTINO

 

Pragmatismo Político
 
Médicos cubanos atendem em regiões isoladas do sertão nordestino. Em menos de 15 dias, os profissionais conquistaram a confiança e o reconhecimento dos moradores que vivem em localidades onde nunca havia atendimento médico ambulatorial regular
 
Os médicos cubanos, inscritos na primeira etapa do programa Mais Médicos do Ministério da Saúde, chegaram a 11 cidades do Interior do Ceará levando consultas de atenção básica à população de áreas isoladas na zona rural. Em menos de 15 dias, os profissionais conquistaram a confiança e o reconhecimento dos moradores que vivem em localidades onde nunca havia atendimento médico ambulatorial regular.
 
Acopiara
 
Um exemplo vem da localidade de Calabaço na zona rural de Acopiara. Localizada no alto sertão cearense, entre os municípios de Quixelô e Solonópole, a comunidade, desde segunda-feira passada, dispõe dos serviços do médico Ivan Rodriguez, originário da província de San Tiago de Cuba.
 
Avaliação
 
Dedicado, atencioso e com 20 anos de experiência em atenção básica de saúde em Cuba e na Venezuela, Ivan Rodriguez recebe avaliação positiva dos moradores. “Aqui nunca veio um médico e construíram esse posto há cinco anos, mas só tinha profissional de Enfermagem”, disse o agricultor Valdemar Felipe de Souza.
 
A Unidade Básica de Saúde (UBS) da localidade de Calabaço, distante 75km da sede de Acopiara, apresenta boa estrutura e passa por adaptações com investimentos de R$ 34 mil do Ministério da Saúde. Os consultórios dispõem de aparelhos de ar condicionado, há salas de imunização, para exames ginecológicos, farmácia, cantina, área de serviço e sanitários.
 
Em média, nesta primeira semana de trabalho, o médico Ivan Rodriguez atendeu 20 pacientes por dia. “É a demanda espontânea”, conforme ele mesmo frisou. “Depois vamos fazer reuniões e palestras sobre educação em saúde”.
 
A UBS de Calabaço possui área de abrangência de 500 famílias de oito localidades rurais, que têm por característica casas isoladas e terras áridas. O tempo seco e quente nessa época do ano despertou a atenção de Ivan Rodriguez. “A gente estuda sobre a cultura, a geografia e a história do Brasil, mas vê de perto assim essa vegetação seca é bem diferente”, disse. “O calor está muito intenso”.
 
Os médicos cubanos cumprem carga horária de 40 horas semanais. Isto é, são oito horas diárias. Esse fato surpreende os moradores. Os médicos brasileiros que atendem em postos do Programa Saúde da Família não passam mais do que uma hora e meia. Outro aspecto diferencial é o tempo de consulta. “É bem mais demorada”, observa a enfermeira, Thaís Araújo de Souza. “Ele pergunta muito, no intuito de conhecer a história do paciente”, afirmou.
 
Superação
 
O obstáculo inicial do idioma estrangeiro está sendo superado rapidamente. Os médicos cubanos estudaram cerca de seis meses a língua portuguesa.
 
Os que vieram para os municípios de Acopiara e Catarina conseguem se expressar de forma compreensível. Falam devagar, e repetem as palavras até se fazerem entender. A adaptação, como diz a comunidade, ocorre pela dedicação.
 
A dona de casa, Nara Raquel Macedo, foi taxativa: “Deu para entender tudo que ele disse, ele insiste até a gente entender e pergunta muitas coisas”. Antes da consulta, os moradores mostram-se apreensivos por temor de não ser estabelecida uma comunicação compreensiva.
 
O agricultor Benevides Vieira fez a primeira consulta com queixa de dor de cabeça e incômodo na garganta. “Gostei muito e entendi tudo”, disse. “Agora ficou bem melhor porque antes a gente tinha que ir para Quixelô, atrás de um médico”.
 
No início da tarde desta quinta-feira, Ivan Rodriguez fez duas visitas domiciliares. É a quinta em apenas uma semana. “Aqui na comunidade nunca trabalhou um médico e imagina vir um aqui na minha casa. Meu Deus, isso é muito bom, nunca imaginei que isso pudesse acontecer”, disse a aposentada, Francisca Moreira de Carvalho que foi consultado no alpendre de casa. Diariamente, os médicos cubanos percorrem centenas de quilômetros entre a sede do município e a UBS. Chegam por volta das 9 horas e só saem às 17 horas. Não há limite de consultas. “Nós cubanos somos prestativos e viemos aqui para trabalhar, para atender as pessoas pobres, que necessitam dos nossos serviços”, disse Ivan Rodriguez. Esses profissionais deixaram família, mulher e filhos, em Cuba, e vieram ser solidários ao povo brasileiro.
 
O secretário de gestão do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, por ocasião da entrega simbólica do registro do CRM aos médicos cubanos que estão trabalhando em Acopiara e Catarina frisou que os profissionais são dedicados e compromissados com a população pobre. “Eles trabalham com muito zelo e atenção”, disse. “No Brasil, faltam médicos. Os brasileiros não vão para essas áreas isoladas, distantes porque enfrentam elevada demanda por seus serviços”, frisou. “Estamos trazendo mais profissionais e a população vai reconhecer o esforço do governo”, ressaltou.
 
Mais informações: Mais Médicos - Secretaria de Saúde de Acopiara - Fone: (88) 3565. 1755 - Escola de Saúde Pública do Ceará - Telefone: (85) 3101. 1412
 
Estrangeiras atuam em Quiterianópolis
 
Quiterianópolis. Este é o único município desta região, dos Sertões de Crateús, a receber médicos da primeira etapa do Programa Mais médicos. Duas médicas cubanas, Irma Collazo e Isabel Dolores, já estão atendendo a população desde a última terça-feira, atuando em unidades de saúde, uma na localidade de Santa Rita e a outra na sede. A população se diz satisfeita com o atendimento atencioso e as condutas médicas. De início, porém, a dificuldade tem sido a língua.
 
Cinco equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) atendem atualmente a uma população de quase 20 mil habitantes, na sede e zona rural. A meta é estender para oito equipes, número que possibilitará a completa cobertura na atenção básica do município.
 
A localidade de Santa Rita, inclusive é a mais nova ESF de Quiterianópolis, criada e composta graças ao Programa, já que o município nunca conseguia compor a equipe, devido à falta do profissional médico. A cubana Irma Collazo é a primeira médica da nova equipe, cujos demais profissionais esperam que seja uma longa experiência de três anos, tempo previsto pelo Programa.
 
“A nossa expectativa é que com o Programa agora haja a criação de vínculo da equipe e continuidade dos tratamentos junto à comunidade. Devido a dificuldade de fixação e a rotatividade de profissionais médicos aqui no município, isso não era alcançado”, analisa a enfermeira da equipe de Santa Rita, Lurdes Soares.
 
Obstáculos
 
Para ela, os obstáculos com a compreensão da língua das médicas estão menores do que ela esperava e as duas têm o cuidado de falar de forma pausada a fim de serem melhor compreendidas. “Procuro estar sempre perto dela e do paciente para auxiliar na comunicação e considero que está ocorrendo direitinho, sem muitas dificuldades”, frisa a enfermeira.
 
Os pacientes, porém, não são da mesma opinião com relação à língua. Enfatizam logo, de pronto, que não entendem bem o que a médica está falando ou recomendando. Quanto ao atendimento são unânimes em destacar a consulta demorada, a atenção, paciência e os exames corporais (toque, apalpar e escuta). “A consulta foi boa, me examinou, apalpou aqui na minha barriga que é onde me queixo de dor; me examinou todo, muito bem e só com isso já me senti melhor”, observa alegre o idoso Francisco Pereira, de 80 anos, residente na localidade de São Miguel, que se consultou pela primeira vez com a cubana Irma, médica com 25 anos de experiência.
 
“Gostei muito do atendimento, ela é muito atenciosa, mas não entendi bem o que disse. Então perguntei várias vezes para poder entender”, dia a dona de casa Luísa Gonçalves, que foi atendida na unidade de saúde.
 
Ajuda
 
O dia para as duas médicas é bem atarefado. Trabalham oito horas e uma delas chegou a atender 40 pessoas em um dia. Os atendimentos se dividem em consultas na unidade e visitas domiciliares aos pacientes acamados. Segundo as médicas, nada muito diferente do que faziam em seu país. O clima, a cultura, os costumes também não estão sendo obstáculos para elas, que expressam com naturalidade que vieram para ajudar o povo brasileiro.
 
“Vim para atender o povo que estava precisando de médicos. No nosso país, é tradição ajudar aos outros povos. Já passei dois anos e meio na África e agora vim para cá com prazer”, diz Isabel, que tem 25 anos de experiência em medicina e deixou dois filhos em seu país. “O difícil está sendo a saudade dos filhos, que é muito forte e o esforço para falar o português e ser compreendida, mas as pessoas são muito acolhedoras aqui”, acrescenta.
 
ENQUETE
 
Como avalia a atuação dos profissionais?
 
“Gostei demais da consulta, porque o doutor Ivan perguntou sobre muitas coisas e insistiu várias vezes se eu estava compreendendo o que ele falava e deu para entender tudo. Foi uma consulta demorada e boa” – (Nara Raquel Macedo / Dona de casa)
 
“Quando estive no consultório do posto não entendi quase nada do que ele falou porque estava um pouco nervosa, mas depois ele veio aqui em casa e já achei melhor. É muito bom ter um médico aqui” (Francisca Moreira de Carvalho / Aposentada)
 
 
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