Slate.fr,
Paris – Presseurop – imagem Alex
Ballaman
Com uma fraca
posição nas sondagens, criticado pela esquerda e pela direita e a enfrentar uma
forte vaga de protestos sociais, o Presidente francês está encostado à parede.
A sua única saída é “desmarxizar” finalmente a esquerda, considera um
editorialista. Excertos.
Já aconteceu.
Chegámos ao momento-chave do movimento estratégico iniciado por François
Hollande. Este encontra-se sob fogo cruzado, vindo do seu próprio campo e da
direita. Conseguirá sobreviver?
Penso que é tarefa
de François Hollande reagir finalmente à conversão do socialismo francês à
social-democracia. Deve desmarxizar a esquerda. Mas [Hollande] herdou um
partido que, por culpa de todos os dirigentes socialistas – entre os quais ele
próprio –, faz uma análise da crise invertendo os seus termos: uma análise que
apela ao regresso da luta de classes! O trabalho “contra” o capital! O Partido
Socialista (PS) não avançou para o século XXI: refugiou-se no século XIX. Para
ele, a questão central é a desigualdade: é preciso tributar os ricos. O Hollande
eleito está rodeado de conselheiros e ministros que pensam isso. Tem um
Parlamento no qual muitos deputados pensam isso.
Como candidato,
percebeu que a crise era sem dúvida mais complexa do que estes raciocínios
ociosos. Fez poucas promessas. Ousou dizer que o começo do mandato seria duro e
que os frutos só poderiam ser distribuídos depois, na segunda parte. Foi
prudente; hesitante,
diriam alguns.
O problema de
François Hollande é não ser um intelectual. É esse o seu drama fundamental.
Falta-lhe uma visão. Como é realista e pragmático, compreendeu rapidamente que
o motor socialista está morto. Mas, para o substituir, não há nada além de um
processo de tentativa e erro e o seu gosto pelos compromissos. Vai tateando as
relações de força. Homem de sínteses modestas, falta-lhe uma grande Síntese
entre socialismo e modernidade.
Vocabulário
político do séc. XIX
É essa falta que
explica que, apesar do seu programa prudente, tenha seguido em duas direções
erradas. Rodeado por um aparelho socialista que clama contra as desigualdades,
os bancos e o CAC40, não viu de imediato que o principal problema da França era
a sua fraca competitividade. As empresas não ganham demasiado dinheiro: ganham
demasiado pouco!
No entanto, emendou
rapidamente a mão, no verão de 2013, com o relatório
Gallois [sobre a competitividade da indústria francesa]. O PS engasgou-se!
Muitos não se recompuseram e ainda encaram essa “política da oferta” como um
“presente” que foi dado ao patronato. Um vocabulário do século XIX.
O outro erro é de
ordem orçamental. No início, o mesmo motor PS levou a que se aumentassem os
impostos, os dos ricos, para reduzir o défice. Tributar os ricos, dar aos
outros e tudo iria correr melhor! Além disso, em matéria de redução das
despesas, a outra possibilidade de uma política de austeridade, o Presidente
tinha pouca margem de manobra. Sendo socialista, não queria atingir os seus
eleitores funcionários. E, por outro lado, os economistas aconselhavam-no a
agir delicadamente. Com um crescimento nulo em 2012, algumas considerações
keynesianas justificadas preconizavam que não se reduzisse demasiado a despesa
pública. A França correria o risco de, à semelhança da Itália, cair na
recessão. O pedido de um prazo a Bruxelas para regressar às regras de
Maastricht era legítimo e foi aceite.
Esta política, em
que se misturam uma base de preconceito contra os ricos, uma ideologia
keynesiana e eleitoralismo, produziu o “choque fiscal” de 2012: 30 mil milhões
de impostos. Mas, num país com um recorde de taxas e impostos, acendeu-se a
chama da revolta
fiscal. Em 2013, um terço dos esforços incidiram sobre a redução das
despesas, mas dois terços continuaram a dizer respeito à tributação e, desta
vez, não apenas dos ricos, mas de toda a gente, incluindo a classe média.
Em 2014, o Governo
espera a chegada da retoma, as considerações keynesianas terão menor peso e 80%
dos esforços incidirão sobre as economias e 20% sobre os impostos. Em 2015,
prometeu Hollande, 100% do rigor orçamental recairá sobre a despesa.
Ausência de pedagogia
viragem seria total
em três anos, mas é demasiado tempo. François Hollande acabaria por chegar a
uma linha de política económica sã: a competitividade e a redução estrutural da
despesa. Contudo, a “ambiguidade” teria durado demasiado tempo e a “pedagogia”
estaria ausente. Temos, por um lado, uma maioria que protesta e vocifera, de
manhã à noite, na televisão, contra um Presidente social-democrata, e, por
outro, um clima de saturação fiscal que raia a insurreição.
Que pode fazer
François Hollande? Com risco de atacar pelas costas o PS e a sua maioria,
deveria acelerar no novo rumo tomado. A competitividade
francesa não foi restabelecida, longe disso, e é preciso ir mais longe. A
redução das despesas deveria constituir uma oportunidade de obter ganhos de
eficácia nos serviços públicos.
Queria ser social-democrata?
Que o seja abertamente. Os políticos e os contribuintes já não aguentam mais.
Visto da Alemanha
Um clima de revolta
A França “está na
véspera de uma revolta”, adianta o Frankfurter Allgemeine
Zeitung, que considera o país “ingovernável”:
Os socialistas no
poder em Paris não conseguiram impor as suas decisões. Quer se trate da
introdução de um imposto ecológico, a tributação dos seguros de vida e da
poupança-habitação ou o aumento da fiscalidade das empresas, não foi preciso
esperar muito até que uma onda de contestações abalasse o país e, poucos dias
depois, o Governo renunciasse às suas medidas. Além de ser acusado de
incompetência passou a transmitir uma imagem de fraqueza.
O diário alemão
estima que o Presidente “François Hollande paga hoje em dia o preço de uma
vitória presidencial obtida com a ajuda de um programa totalmente utópico, que
prometia que a França iria superar a crise financeira e económica sem exigir
sacrifícios aos seus cidadãos.” Existe o risco, acrescenta o FAZ, de os socialistas, que
estão na maioria das Câmaras Municipais das grandes cidades, serem esmagados
[nas eleições municipais]. [E] nas eleições europeias, a Frente Nacional de
Marine Le Pen corre o risco de ocupar a primeira posição, à frente do UMP, o
partido de direita da oposição. Os socialistas só viriam depois, segundo as
atuais previsões.
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