Corriere della
Sera, La Stampa, Il Giornale, La Repubblica
A demissão, em 28
de setembro, de cinco ministros do Povo da Liberdade do Governo dirigido pelo
democrata Enrico Letta provocou um sismo político em Itália. Esta decisão
pessoal de Silvio Berlusconi é criticada quase unanimemente pela imprensa
italiana.
O chefe do PDL,
Silvio Berlusconi, provocou esta crise governamental poucos dias antes de o
Senado votar a sua possível destituição, na sequência da sua condenação
por fraude fiscal. Motivo oficial: a recusa de aceitação de várias medidas
orçamentais, entre as quais o aumento do IVA.
O Corriere della
Sera apresenta-se como porta-voz dos “moderados”, que constituem o essencial
dos seus leitores, mas também do eleitorado de Silvio Berlusconi, que hoje se
mostra “indignado”. Para o seu diretor, Ferruccio
de Bortoli,
"a decisão
irresponsável de Berlusconi e dos seus fiéis aliados […] tem o gosto amargo dos
gestos impensados e desesperados. Não serve para nada. Não altera em nada o
destino judicial do Cavaliere, e empurra um país refém para a beira de um novo
precipício. O golpe desferido contra o Governo de Letta […] causa danos
incalculáveis, em especial ao eleitorado de referência de Berlusconi,
constituído por famílias e empresas. […] O argumento utilizado pelo Cavaliere –
uma reação instintiva ao excesso de impostos – não passa de um pretexto sem
sentido. O preço do “pronunciamiento” de Arcore [a residência de Berlusconi],
se for preciso realizar eleições antecipadas, é fácil de calcular: os modestos
sinais de retoma desvanecem-se, os grandes investidores internacionais passam a
desconfiar ainda mais de um país que não compreendem e no qual não querem
arriscar o seu dinheiro. O custo da dívida está destinado a aumentar. […] As
empresas continuam a morrer e muitas delas não conseguem tirar partido da brisa
do crescimento. […] O emprego continua a diminuir. O orçamento de 2014 […] é
ditado por Bruxelas. Os benefícios resultantes do facto de, em maio último, se
ter saído de um processo de défice excessivo desaparecem. O Governo que sair
das próximas eleições deverá ser obrigado a assinar uma capitulação
incondicional perante a troika UE-BCE-FMI."
O diretor do jornal
La Stampa, Mario Calabresi, também se empenha em dizer “basta” a uma
crise considerada “inútil e desastrosa”:
A decisão
inesperada de Silvio Berlusconi de forçar a demissão dos seus ministros, para
fazer cair o Governo representa um golpe muito duro contra o nosso país. Uma
humilhação que nos lança no caos, na falta de credibilidade; que volta a
colocar-nos sob vigilância, que confirma os piores preconceitos sobre os
italianos. Esta semana, durante a qual deveríamos discutir apenas o facto de a
primeira empresa de telecomunicações do país passar para as mãos de
estrangeiros ou o facto de a Alitalia ir em breve deixar de ser a nossa
companhia aérea nacional, somos arrastados para o turbilhão dos problemas
judiciais de um único homem. […] Dentro de 15 dias, será preciso apresentar o
orçamento para 2014, uma etapa chave para aqueles que, como é o nosso caso, têm
as contas públicas em risco; em 15 de novembro, realizar-se-ão as avaliações
europeias; a nossa dívida aumenta perigosamente; há apenas dois dias, o FMI
falou do risco da Itália. E nós, que precisávamos desesperadamente de um escudo
de proteção e de credibilidade, apresentamo-nos a juízo nus e desarmados.
Na imprensa próxima
de Berlusconi, o tom é diferente. Assim, o diretor de Il Giornale, Alessandro
Sallusti, acusa o primeiro-ministro,
Enrico Letta, e os seus impostos de terem “feito cair o Governo”. E defende a
decisão do Cavaliere de proteger os seus interesses, com vista às próximas
eleições:
"Mais uma vez, os
políticos e os comentadores não perceberam nada. Pensavam ou receavam, ou
talvez desejassem, – conforme os casos – que Berlusconi fizesse cair o Governo,
como reação aos seus problemas pessoais. Este não o fez por sentido de
responsabilidade […], mas sobretudo porque não quis pôr em risco o único
património, depois dos filhos, que lhe interessa verdadeiramente: os seus
eleitores. Qual teria sido o destino dos seus muitos votos, se o PDL tivesse
dado o seu aval a uma decisão que mete a mão no bolso dos italianos? […] Não
sabemos o que vai acontecer depois da queda de Letta. Mas, hoje, tivemos uma
confirmação: aqueles que querem mais impostos são incompatíveis com a Forza
Italia, o novo-antigo partido de Berlusconi."
Um partido cuja
refundação o Cavaliere anunciou recentemente e que
deverá apresentar-se às próximas eleições, em lugar do PDL, considerado
demasiado indisciplinado. Porque, salienta, no jornal La Repubblica, o
sociólogo Ilvo Diamanti,
"Berlusconi continua
a dispor de consenso político e, mais ainda, de poder económico e mediático. E
utiliza-os, se não para impor as suas opções, pelo menos para bloquear as de
terceiros. Ultimato após ultimato. E, sobretudo, para controlar as dissensões que
se verificam nas suas fileiras. É por isso que Berlusconi resiste. Até ao fim.
Porque luta pela sua sobrevivência política e pela da Forza Italia. […] É por
isso que quer ir para eleições o mais rapidamente possível. Porque, desde a sua
fundação, em 1994, até às últimas eleições, em fevereiro de 2013, o “partido
pessoal” de Berlusconi sempre deu o melhor de si nas legislativas. Por isso,
Berlusconi transformou a vida política numa campanha eleitoral permanente. E,
hoje, para resistir às ameaças externas e às tensões internas do partido,
precisa de novas eleições – o mais depressa possível."
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Presseurop
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