Verdade (mz)
Quando os ricos se
sentem inseguros até nas suas torres de marfim é porque as coisas estão feias.
Aliás, muito feias. Os raptos começaram na cidade de Maputo e rapidamente
atingiram as urbes da Beira e Nampula. A sempre pronta Polícia da República de
Moçambique (PRM) apresentou, para mostrar trabalho, uns rostos escanzelados de
um bando de zés-ninguém, mas deixou sair do país, da forma mais ridícula
possível, um dos prováveis cérebros do problema. Os raptos não tardaram a
voltar a semear medo e insegurança no seio de uma das classes que mais dinheiro
movimentam no país, como que a desmentirem retumbantemente a eficácia da PRM no
combate ao crime.
Em surdina as
pessoas contam que tudo o que diziam aos “investigadores” chegava aos ouvidos
dos malfeitores. Foi, aliás, por isso que as vítimas deixaram de colaborar com
a Polícia. Com o andar do tempo, aquilo que parecia ser problema de uma
comunidade alastrou-se a todos os que aparentam ter algum dinheiro. Os novos
factos deitam por terra a convicção segundo a qual estávamos diante de um
problema de uma ou duas comunidades. Os raptos vieram para ficar e a PRM
mostra-se incapaz de apresentar um antídoto para estancar a sangria. Esse é,
diga-se, o grande problema.
Porém, o mais
vergonhoso é a possibilidade de termos uma Polícia subserviente e controlada
por uma quadrilha de malfeitores. Aquando das manifestações de 1 de Setembro o
Governo inventou, para conter novos focos, o registo dos cartões SIM. Ou seja,
foram tão rápidos para proteger a integridade do Estado e a manutenção do poder
nas mesmas mãos, mas incrivelmente lentos para resolver um problema que afecta
milhares de cidadãos.
O surgimento de
novos grupos é uma coisa inevitável. O normal mesmo será que apareçam
empreendedores nesta área. Ou seja, indivíduos com vocação para o negócio que
terão de começar da base. Isto é, raptando por quinhentas. Por este andar e
nível grotesco de impunidade não nos devemos espantar quando começarem a
ocorrer raptos por 500 meticais.
O fenómeno começou
com exigências ao nível do um milhão de dólares e desceu até aos cinquenta. Uma
quantia que muitos pobres conseguem arranjar num abrir e piscar de olhos. Em
2008, quando um jovem do bairro Triunfo foi o cérebro de um sequestro que
rendeu cerca de 5.000 dólares a acção da Polícia foi tremendamente rápida e
produziu resultados. O jovem está preso e continua a pagar pelo que fez. Os
raptores da nova era, esses, continuam impunes e acima da lei e da justiça.
Enquanto a Polícia
for cúmplice desta gentalha viveremos num país que não oferece segurança. A
crueldade e a impunidade é tanta que agora até raptam crianças indefesas. Que
éramos um país sem cidadãos isso já sabíamos, mas que não devemos e nem podemos
confiar nas instituições que zelam pela defesa e segurança tornou-se mais nítido
agora...
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