Milhares de pessoas
estão hoje a participar numa manifestação pacífica em Maputo, em protesto
contra a onda de raptos e o espetro da guerra que ameaça Moçambique, acusando o
Governo de estar "mudo" e a polícia de "corrupção".
"Pela primeira
vez, estamos a marchar contra o nosso Governo. Temos um líder-chefe que deve
cuidar de cada um de nós. Não deve existir nenhuma diferença no tratamento de
cada moçambicano que nós possamos ser", gritou, para as milhares de pessoas
presentes, Mohamed Asif, da organização do protesto, no interior de um veículo
ligeiro, na dianteira da manifestação.
A "Marcha pela
paz e contra os raptos" foi organizada pela Liga dos Direitos Humanos, em
conjunto com outras organizações da sociedade civil e confissões religiosas,
numa reação à onda de raptos e ao clima de instabilidade político-militar que
Moçambique atravessa.
"Depois de
terem sido raptadas a toda a hora, as pessoas são deixadas em pânico, apesar da
guerra já estar a acontecer. Isto é pior do que a Líbia. As pessoas não vão
viver nunca: com todos os chefes (de Estado) vamos ter de passar por guerras?
Não estamos para isso. Estamos para a paz", disse Asif, em declarações à
agência Lusa.
"É uma
manifestação contra o Governo (moçambicano) porque nós exigimos os nossos
direitos que não estão a ser cumpridos", acrescentou.
Trajando camisolas
brancas ou vermelhas, com frases como "abaixo a violência, o racismo, a
corrupção, os raptos", os manifestantes concentraram-se, ao inicio da
manhã, junto à estatua de Eduardo Mondlane, na avenida com o mesmo nome,
seguindo em direção à Praça da Independência.
"Abaixo a
polícia corrupta, abaixo o Governo mudo, abaixo o racismo", gritavam os
manifestantes.
Uma onda de raptos
assola a capital moçambicana, dirigida contra setores economicamente
favorecidos, habitualmente descritos na comunicação social e do discurso
oficial como "moçambicanos de origem asiática", conceito repudiado
pelos manifestantes.
"Cidadãos de
origem asiática não existem, existem cidadãos moçambicanos", contrapôs
Asif.
"Os raptores
usam as telefonias móveis para intimidar o povo moçambicano e, mesmo assim, as
telefonias continuam surdas. Os raptores usam os bancos para transferências
bancárias ilícitas e, mesmo assim, os bancos estão surdos", gritava-se na
manifestação.
A atividade
económica na cidade de Maputo está hoje a funcionar a meio gás, o que indicia a
solidariedade de muitas empresas - que estarão hoje encerradas total ou
parcialmente - com a marcha de protesto.
EMYP // ARA – Lusa –
foto António Silva
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