Afastada da estrada
nacional e do ambiente de conflito no centro de Moçambique, Mangunde, terra
onde Afonso Dhlakama nasceu há 60 anos, é uma pequena vila em paz, a meio de
uma longa picada de terra batida.
O líder da Renamo
estudou ali, na escola onde padres italianos continuam a ensinar técnicas de
agricultura, mas, depois, ainda jovem, foi-se embora.
"Não o
tornámos a ver, não voltou cá", diz Arone Ticutenae Tenana, tio direito de
Dhlakama e régulo da pequena vila no interior da província de Sofala, a cerca
de 100 quilómetros do local onde se têm registado mais ataques, que as
autoridades atribuem à Renamo.
Arone, 67 anos, 19
filhos e três mulheres, todos a morarem com ele "numa casa grande",
sentado numa mota chinesa Lifan, "oferecida por um muzungo" (branco)
é o símbolo da tranquilidade que se vive na aldeia.
"Estamos fora
da política, há uma convivência entre todos", diz este crente da
Assembleia de Deus.
A
"convivência" está à vista no caminho que conduziu até ao tio de
Afonso Dhlakama. Numa curva anterior, crentes da Zion Jacken-chen, uma seita
cristã originária do Zimbabué, que proíbe a construção de templos, dançavam ao
ar livre, no meio das árvores; e, junto à missão católica, o padre Giocondo
Pendi passeava entre os embondeiros, aproveitando a última luz de fim de tarde.
Afonso Dhlakama
está há uma semana "em parte incerta", depois do exército ter ocupado
a base em que vivia, em Sadjundjira, a 200 quilómetros de Mangunde.
"O
desaparecimento dele causa preocupação na família", admite o tio, que insiste
na sua neutralidade. "Não sou da Frelimo nem da Renamo, estamos a rezar
pela paz".
E perguntado, mais
uma vez, sobre a sua relação com o sobrinho, Arone usa a expressão com que os
moçambicanos dão o caso por arrumado: "Nada!"
Moçambique vive a
sua pior crise política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em
1992, na sequência de confrontos entre o exército e elementos armados da
Renamo, principal partido da oposição, devido a divergências em torno da lei
eleitoral.
As últimas semanas
têm sido marcadas por confrontos de parte a parte e o exército governamental já
ocupou algumas das principais bases do movimento, tendo colocado em fuga o
líder da Renamo.
Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário