Ferreira Fernandes –
Diário de Notícias, opinião
Aquilo do Blatter
com Cristiano Ronaldo? Não, não vou lá por indignação patriótica. Sim, suspeito
que os países menos ricos como Portugal sejam desprezados pela multinacional
FIFA. É a vida, sorte a nossa não sermos o Burundi, ainda mais desprezado. Não,
o que retiro da cena de Joseph Blatter, falando entre universitários de Oxford,
é outra coisa. Um homem barrigudo levanta-se e permite-se mimar um jovem que
quando tira a camisola faz suspirar milhões de mulheres. Um careca permite-se
criticar os gastos no cabeleireiro de um ídolo mundial. Um incompetente que
marca um evento desportivo para o Qatar com temperaturas a 60 graus, esse (cuja
única desculpa à tolice só pode ser o suborno), permite-se criticar um tipo que
não sei se é o primeiro ou quarto dos melhores, mas que é, seguramente, um
admirável profissional com ganas de perfeição (tudo o diz quando joga,
sobretudo quando falha)... Então, porquê, o desaforo de Blatter? Aí já não são
suspeitas que tenho, são certezas. Um dia, Marilyn, lindíssima e trágica,
cantou no Madison Square Garden uma canção ao seu amor. À volta de John
Kennedy, hoje esquecidas dondocas sorriam, julgavam saber de tudo e
desdenhavam. A mesma coisa com Blatter. A história mundial da infâmia está
cheia de poderosos sem qualidades, que não querem reconhecer a sorte de
privarem com gente que sabe, faz bem e fascina. No fundo é bem prudente essa
ingratidão: sem ela, como aguentariam a sua inferioridade?
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