quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Portugal: MENTALIDADE COELHEIRA

 

Fernando Dacosta – Jornal i, opinião
 
Tornaram-se frequentes os queixumes dos defensores das famílias com muitos rebentos - por elas estarem a deixar de os ter. Como os não produzem, os lamentos generalizam-se: sem petizes não haverá no futuro tanta mão-de-obra barata para tarefas e serviços, tanta carne fresca para canhões e camas, tantos contribuintes para fiscos e rapinagens, tantas almas para pastoreios e caridades, tantos votantes para partidos de engodo e ludíbrio.

Crescei e multiplicai-vos, exortaram durante séculos os poderosos do mundo, embandeirados pelas suas igrejas, aos miseráveis desse mundo. E os miseráveis cresceram e multiplicaram-se, obedientes no engendrar filhos e netos tão miseráveis como eles - agora ainda mais.

Agredida pelo excesso populacional (o homem é o maior poluidor do ambiente) a natureza reagiu, começando felizmente a emperrar a natalidade com a queda - na Europa, por exemplo - de nascimentos (sobretudo) de rapazes e com a diminuição da sua capacidade reprodutora, a que se juntaram os incentivos, lançados pelos mais lúcidos, à despenalização da interrupção da gravidez, ao uso do preservativo, à normalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, à mudança da estrutura familiar, etc.

Alimentar, acomodar, educar, vestir, assistir os milhões que não param de nascer, significa destruir irremediavelmente a atmosfera, a água, os solos, a agricultura, as florestas, o planeta - a vida.

Argumentar que se precisam de (mais) jovens para sustentar os idosos é inverdadeiro, pois dois terços deles só sobrevivem hoje por amparo, precisamente, dos pais, avós e afins.

“O ser humano apenas será dignificado quando escassear”, repetia Natália Correia, “isto é, quando se libertar da horrenda mentalidade coelheira que desgraçou a humanidade”.

Escreve à quinta-feira

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