Fernando Dacosta – Jornal
i, opinião
Tornaram-se
frequentes os queixumes dos defensores das famílias com muitos rebentos - por
elas estarem a deixar de os ter. Como os não produzem, os lamentos
generalizam-se: sem petizes não haverá no futuro tanta mão-de-obra barata para
tarefas e serviços, tanta carne fresca para canhões e camas, tantos
contribuintes para fiscos e rapinagens, tantas almas para pastoreios e
caridades, tantos votantes para partidos de engodo e ludíbrio.
Crescei e multiplicai-vos, exortaram durante séculos os poderosos do mundo, embandeirados pelas suas igrejas, aos miseráveis desse mundo. E os miseráveis cresceram e multiplicaram-se, obedientes no engendrar filhos e netos tão miseráveis como eles - agora ainda mais.
Agredida pelo excesso populacional (o homem é o maior poluidor do ambiente) a natureza reagiu, começando felizmente a emperrar a natalidade com a queda - na Europa, por exemplo - de nascimentos (sobretudo) de rapazes e com a diminuição da sua capacidade reprodutora, a que se juntaram os incentivos, lançados pelos mais lúcidos, à despenalização da interrupção da gravidez, ao uso do preservativo, à normalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, à mudança da estrutura familiar, etc.
Alimentar, acomodar, educar, vestir, assistir os milhões que não param de nascer, significa destruir irremediavelmente a atmosfera, a água, os solos, a agricultura, as florestas, o planeta - a vida.
Argumentar que se precisam de (mais) jovens para sustentar os idosos é inverdadeiro, pois dois terços deles só sobrevivem hoje por amparo, precisamente, dos pais, avós e afins.
“O ser humano apenas será dignificado quando escassear”, repetia Natália Correia, “isto é, quando se libertar da horrenda mentalidade coelheira que desgraçou a humanidade”.
Escreve à quinta-feira
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