Garrido Fragoso* -
Jornal de Angola
A visita de Estado
a Angola do Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, começou ontem com a
reafirmação, pelos dois países, da disponibilidade em elevarem para novos
níveis a sua cooperação bilateral.
No almoço oferecido
ao seu homólogo cabo-verdiano no Palácio da Cidade Alta, o Presidente da
República José Eduardo dos Santos manifestou o desejo de que a cooperação com
Cabo Verde “continue a ser exemplar e de excelência”.
José Eduardo dos Santos assegurou que esta visita vai “seguramente reforçar a
amizade, a solidariedade e os laços históricos existentes entre os dois povos
irmãos”, assentes em “afinidades políticas, culturais, afectivas e mesmo
consanguíneas” que “constituem a base sólida” essa cooperação de “excelência”.
O Presidente de Cabo Verde disse que as relações com Angola são “excelentes” e acrescentou que “há condições para impulsionar mais as acções de cooperação em todos os sectores”. Jorge Carlos Fonseca pediu que a cooperação na área empresarial, económica, financeira, da ciência e tecnologia e dos transportes reúnem “todas as condições” para acompanharem a “dinâmica que conhece a vertente política e diplomática”.
O Chefe de Estado afirmou que a cooperação entre os dois países já existe em domínios identificados e com vantagens recíprocas, mas que “há sempre espaço para a alargar e elevar a outros patamares, no interesse comum dos dois povos”.
José Eduardo dos Santos declarou “ser do maior interesse que os empresários dos sectores públicos e privados dos dois países desenvolvam negócios e parcerias, no respeito das respectivas legislações, e sempre na perspectiva da criação de sociedades democráticas, inclusivas e prósperas”.
Os dois presidentes recordaram os laços comuns forjados pelos dois países durante a luta pela independência e Jorge Carlos Fonseca convidou o seu homólogo a visitar Cabo Verde, como “um sinal de grande honra” para o seu país.
O Presidente José Eduardo dos Santos salientou, como símbolo da amizade entre os dois países, a presença em Angola de uma numerosa comunidade cabo-verdiana, que partilham os bons e os maus momentos do processo de reconstrução e desenvolvimento e pelas várias famílias angolanas que comungam, em Cabo Verde, os sonhos e uma vida fraterna com os cabo-verdianos.
Violência em Moçambique
No discurso feito durante o almoço com o Chefe de Estado cabo-verdiano, o Presidente José Eduardo dos Santos condenou os actos de violência levados a cabo pela Renamo em Moçambique e apelou a Afonso Dlakama para que regresse à via do diálogo, “para a discussão dos problemas nacionais no seio das instituições do Estado democrático, existentes em Moçambique”. O líder cabo-verdiano também falou desta questão, apelando “à comunidade internacional e às partes envolvidas para que sejam procurados os caminhos do diálogo susceptíveis de conduzir à paz, tão essencial aos anseios mais profundos dos moçambicanos”.
Em relação à Guiné-Bissau, o Presidente José Eduardo dos Santos saudou a marcação da data das eleições gerais no país e exprimiu “a convicção de que serão garantidas as condições de segurança para que os actores políticos participem livremente nesse processo” e Jorge Fonseca pediu que as eleições “contribuam para o regresso a normalidade constitucional”. Depois do encontro privado com o Chefe de Estado, o Presidente de Cabo Verde foi ao plenário Assembleia Nacional, onde falou da importância desta sua visita “histórica” e dirigiu aos deputados uma mensagem muito positiva sobre o rumo que está a seguido por Angola.
Discurso no Parlamento
O Presidente de Cabo Verde saudou, ontem, em Luanda, o esforço que as Assembleias Nacionais dos dois Estados desenvolvem para “consolidar as jovens democracias nos respectivos países” e para que assumam o seu verdadeiro papel.
Jorge Carlos Fonseca discursou durante a sessão especial na Assembleia Nacional, por ocasião da visita oficial que efectua desde sábado a Angola, na presença de líderes dos Parlamentos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que reúnem hoje em assembleia.
O Chefe de Estado cabo-verdiano falou das relações de amizade entre os Parlamentos de Angola e do seu país e sublinhou o facto de ser a segunda vez, desde que assumiu o cargo há dois anos, que se dirige ao Parlamento de um país, apesar de ter estado em mais de uma dezena, em diferentes contextos. O presidente da Assembleia Nacional disse que Angola e Cabo Verde são países com um “inegável passado comum”, forjado na luta pela Independência Nacional profundamente comprometidos na luta contra o subdesenvolvimento.
“A apreensão desta exigência é um acto que se reveste, em primeiro lugar, de carácter estratégico, pois a nossa cooperação, no período pós-guerra colonial, visava a nossa afirmação como povos livres de todas as formas de alienação e exploração”, afirmou o líder do Parlamento.
Fernando da Piedade Dias dos Santos destacou o dinamismo que caracteriza as relações inter-parlamentares de âmbito multilateral ao nível da CPLP, com destaque para a Assembleia Parlamentar da organização lusófonas.
O protocolo de cooperação entre a Assembleia Nacional de Angola e de Cabo Verde foi celebrado em Maio de 1999. Fernando da Piedade Dias dos Santos lembrou que, por via deste instrumento, foi instituído o quadro formal das relações entre os dois Parlamentos visando dinamizar a troca de experiências no domínio político e parlamentar.
Economia pujante
O Presidente Jorge Carlos Fonseca considerou a economia angolana “um dos motores da economia regional e continental” e que exerce grande atracção sobre os investidores e empresas. “O crescimento da economia angolana é incontestável. Angola cresce a um ritmo importante, gerando recursos susceptíveis de tornar mais fácil a concretização do sonho de um desenvolvimento económico, social e ambiental”, afirmou o Chefe de Estado cabo-verdiano.
Jorge Fonseca disse que um apreciável número de quadros e empresas cabo-verdianas prestam o seu “modesto contributo” no processo de desenvolvimento angolano, salientando que outros quadros e empresas preparam-se para seguir o mesmo exemplo.
O Presidente de Cabo Verde apelou ao uso dos instrumentos para a promoção das relações económicas, empresariais e humanas entre os dois Estados, e criação de condições para facilitar a circulação e promover o investimento.
“Cabo Verde e Angola sairão a ganhar com o reforço das relações a nível de quadros, empresas, universidades e agentes de cultura”, disse o Chefe de Estado, para quem “cabe apenas aos políticos e instituições a criação de condições ideais para que a cooperação bilateral se fortaleça e fortifique com benefícios mútuos”.
Jorge Carlos Fonseca sublinhou que a concretização dos interesses bilaterais pode ser reforçada e potenciada através das regiões naturais em que os dois países estão inseridos: África Austral e do Oeste. “Podemos estar a inaugurar uma nova etapa nas nossas relações, que se têm pautado por uma boa cooperação, solidariedade e grande amizade”, disse o Chefe de Estado.
Jorge Carlos Fonseca garantiu tudo fazer para que os laços de amizade e cooperação entre Angola e Cabo Verde se fortifiquem cada vez mais nas esferas política, económica e financeira aos níveis bilateral e multilateral.
Jorge Fonseca sublinhou que, passados dois anos após a sua eleição para o cargo de Chefe de Estado de Cabo Verde, o seu discurso no Parlamento angolano foi a sua “segunda intervenção numa instituição parlamentar de um país amigo, um país africano, apesar de ter estado em mais de uma dezena de Estados em diferentes contextos” e referiu-se a Angola como um país “importante, pujante e dinâmico”.
* com ANGOP – foto Rogério Tuti no JA
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