quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CARTA ADVERTE PARA VIOLAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS NO REINO UNIDO

 
 

De acordo com signatários, resposta do governo aos casos de espionagem revelados por Edward Snowden está atingindo direitos fundamentais no país.
 
Marcelo Justo, de Londres – Carta Maior
 
Londres - Uma coalizão de 70 organizações de direitos humanos de todo o mundo escreveram ao primeiro-ministro David Cameron para adverti-lo que a resposta do governo britânico aos casos de espionagem eletrônica revelados pelo ex-agente da CIA Edward Snowden está atingindo direitos fundamentais no país. A carta publicada pelo jornal The Guardian é assinada por organizações de direitos civis como Liberty UK, Repórteres sem Fronteira, agrupações pela liberdade de informação dos Estados Unidos, Canadá, países da União Europeia, do Leste Europeus, da Ásia, grupos brasileiros, argentinos e peruanos. “Estamos alarmados pela maneira com a qual o governo britânico reagiu usando leis de segurança nacional contra todos aqueles que ajudaram a revelar fatos de interesse público para uma audiência global”, assinala a carta.
 
A carta, publicada em meio a uma nova ofensiva do governo britânico contra o The Guardian, destaca o uso da legislação antiterrorista de 2000 para deter o brasileiro David Miranda no último mês de agosto. Miranda, que foi detido durante 9 horas no aeroporto de Heathrow, levava material jornalístico para o The Guardian e é companheiro do jornalista Glenn Greenwald que revelou a espionagem eletrônica internacional praticada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido.
 
As organizações de direitos humanos também destacaram a pressão exercida sobre o jornal que incluiu a presença de funcionários dos serviços de inteligência nas dependências do Guardian para “destruir o disco rígido que supostamente continha informação fornecida por Snowden”. No dia 16 de outubro deste ano o governo solicitou ao Comitê Especial da Câmara dos Comuns que investigasse se o jornal havia prejudicado a segurança nacional ao publicar o material fornecido por Edward Snowden e um segundo comitê parlamentar, o de Assuntos Interiores, decidiu incluir o tema em sua própria investigação sobre antiterrorismo.
 
“Acreditamos que estas ações constituem uma clara violação do direito à liberdade de expressão que é protegido pela legislação britânica, europeia e internacional. O uso da segurança nacional tem graves consequências para o direito à liberdade de expressão e de informação no Reino Unido e no mundo, criando um ambiente hostil e intimidatório, e desestimulando aqueles que revelam verdades incômodas que questionam o uso e o abuso do poder”, assinala a carta.
 
Na semana passada, o primeiro ministro David Cameron intensificou a pressão com uma velada ameaça contra o Guardian e outros jornais que cobriram a história. “Não quero usar um mandado judicial ou outro tipo de medidas mais duras ainda. Creio que é melhor apelar ao senso de responsabilidade social dos jornais. Mas se eles não demonstrarem responsabilidade será muito difícil não adotar alguma ação em nível governamental”, indicou Cameron.
 
Segundo Thomas Hughes, do grupo Artigo 19, signatário da carta, o primeiro ministro está tentando matar o mensageiro. “Edward Snowden, David Miranda, Glenn Greenwald e o Guardian aparecem como os bandidos do filme e são alvo de ataque por chamar a atenção sobre um tema de interesse público. Isso parece uma conveniente distração do que, na verdade, é uma história sobre o abuso do poder estatal e a inadequada supervisão do mesmo”, disse Hughes ao The Guardian.
 
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
 

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