Para que a memória
não se apague… Fez no passado dia 27 de Fevereiro, 60 anos.
Acordo de Londres
sobre as Dívidas Alemãs - Entre os países que perdoaram 50% da dívida alemã
estão a Espanha, Grécia e Irlanda.
O Acordo de Londres de 1953 sobre a divida alemã
foi assinado em 27 de Fevereiro, depois de duras negociações com representantes
de 26 países, com especial relevância para os EUA, Holanda, Reino Unido e
Suíça, onde estava concentrada a parte essencial da dívida. A dívida total foi
avaliada em 32 biliões de marcos, repartindo-se em partes iguais em dívida
originada antes e após a II Guerra. Os EUA começaram por propor o perdão da
dívida contraída após a II Guerra. Mas, perante a recusa dos outros credores,
chegou-se a um compromisso. Foi perdoada cerca de 50% (Entre os países que
perdoaram a dívida estão a Espanha, Grécia e Irlanda) da dívida e feito o
reescalonamento da dívida restante para um período de 30 anos. Para uma parte
da dívida este período foi ainda mais alongado. E só em Outubro de 1990, dois
dias depois da reunificação, o Governo emitiu obrigações para pagar a dívida
contraída nos anos 1920. O acordo de pagamento visou, não o curto prazo, mas
antes procurou assegurar o crescimento económico do devedor e a sua capacidade
efectiva de pagamento. O acordo adoptou três princípios fundamentais: 1.
Perdão/redução substancial da dívida; 2. Reescalonamento do prazo da dívida
para um prazo longo; 3. Condicionamento das prestações à capacidade de
pagamento do devedor.
O pagamento devido
em cada ano não pode exceder a capacidade da economia. Em caso de dificuldades,
foi prevista a possibilidade de suspensão e de renegociação dos pagamentos. O
valor dos montantes afectos ao serviço da dívida não poderia ser superior a 5%
do valor das exportações. As taxas de juro foram moderadas, variando entre 0 e
5 %. A grande preocupação foi gerar excedentes para possibilitar os pagamentos
sem reduzir o consumo. Como ponto de partida, foi considerado inaceitável
reduzir o consumo para pagar a dívida. O pagamento foi escalonado entre 1953 e
1983. Entre 1953 e 1958 foi concedida a situação de carência durante a qual só
se pagaram juros. Outra característica especial do acordo de Londres de 1953,
que não encontramos nos acordos de hoje, é que no acordo de Londres eram impostas
também condições aos credores - e não só aos países endividados. Os países
credores, obrigavam-se, na época, a garantir de forma duradoura, a capacidade
negociadora e a fluidez económica da Alemanha. Uma parte fundamental deste
acordo foi que o pagamento da dívida deveria ser feito somente com o superavit
da balança comercial. 0 que, "trocando por miúdos", significava que a
RFA só era obrigada a pagar o serviço da dívida quando conseguisse um saldo de
dívisas através de um excedente na exportação, pelo que o Governo alemão não
precisava de utilizar as suas reservas cambiais. EM CONTRAPARTIDA, os credores
obrigavam-se também a permitir um superavit na balança comercial com a RFA -
concedendo à Alemanha o direito de, segundo as suas necessidades, levantar
barreiras unilaterais às importações que a prejudicassem. Hoje, pelo contrário,
os países do Sul são obrigados a pagar o serviço da dívida sem que seja levado
em conta o défice crónico das suas balanças comerciais.
Marcos Romão,
jornalista e sociólogo
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