Mário Augusto
Jakobskind – Direto da Redação
Afinal, com quem
está a razão? A Presidenta Dilma Roussef garante que o leilão da bacia
petrolífera de Libra, do pré-sal, foi um sucesso absoluto e que o Brasil ficará
com 85% do valor das reservas. Ela, que na campanha eleitoral de 2010 prometeu
que não faria mais leilões de petróleo, por considerar a medida lesiva aos
interesses nacionais, foi mais adiante ao afirmar que os críticos da
participação estrangeira estão sendo xenófobos.
Já os que colocam
em dúvida os benefícios do leilão para o Brasil, como os especialistas Fernando
Siqueira, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet),
Ildo Sauer, engenheiro e ex-diretor da Petrobras, bem como Paulo Metri,
engenheiro e pesquisador há longos anos do setor petrolifero, questionam os números
apresentados pelo governo federal.
Há um terceiro
setor, mas este integra o lobie dos defensores da entrega total e absoluta da
nossas riquezas energéticas, querem a volta do regime de concessão da época do
chefe dos entreguistas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os
defensores da entrega total contam com o apoio irrestrito da mídia de mercado.
Já os defensores de
Dilma Rousseff são seguidores áulicos do governo, ou seja, antes de mais nada
defendem, sem pestanejar, qualquer medida adotada por ela. Já os nacionalistas
questionam as facilidades que, segundo eles, foram concedidas no leilão do
pré-sal aos que vão explorar o campo petrolífero.
Sauer vai mais
longe ainda e prevê que a China, com as duas empresas estatais (10% cada), além
de garantir o petróleo para o país pretende fazer com que o preço do barril
caia no mercado internacional, o que facilitaria não só os próprios chineses
como países ricos como os Estados Unidos e Grã-Bretanha, entre outros. A
francesa Total e a anglo holandesa Shell não perderam tempo e abocanharam
também 20% cada uma da riqueza.
O argumento segundo
o qual a Petrobras não teria recursos para bancar sozinha a exploração do
petróleo é no mínimo discutível, para não dizer pífia. É o que insiste em
repetir a mídia de mercado na defesa da entrega total e absoluta. Mesmo que a
Petrobras não tivesse caixa para explorar as reservas sozinha, quem tem ao
dispor para produzir petróleo uma reserva de 10 bilhões de barris, não teria a
mínima dificuldade em obter financiamentos, como argumenta Paulo Metri.
E Metri vai além ao
afirmar que com o super bônus, o governo trocou o benefício de satisfazer o
superávit primário, de curtíssimo prazo, por perdas que irão durar 35 anos.
Fernando Siqueira é
ainda mais contundente na crítica ao afirmar que o Brasil perdeu muito com o
leilão e que o regime de partilha tão defendido pelo governo na prática se
equipara ao da concessão em matéria de prejuízo
Siqueira insiste
também em argumentar que a Presidente está mentindo ao dizer que o Brasil ficará
com 85% do lucro de Libra e que arrecadará 1 trilhão de dólares em 35 anos.
Para ele, o cálculo não se sustenta porque “os 15 bilhões de dólares pagos à
vista, para cobrir o pagamento de juros extorsivos causaram a redução da oferta
no óleo/lucro , que seria o mais importante e que caracteriza a partilha”.
E prossegue
Siqueira afirmando que “a cada 0,5% ofertando a menos no óleo/lucro, a União
perde um bônus, ou seja, perde mais de 15 bilhões de barris, a 100 dólares por
barril, o que leva a um valor de 1,5 trilhão de dólar, ou cerca de 3.3 trilhões
de reais. E assim, 0,5% de 3,3 trilhões de reais é mais do que um bônus”.
Como se pode
verificar, a aritmética é complicada e se não for explicada convenientemente
pode dar margem a outras interpretações, como a de que o Brasil está lucrando.
Mas uma coisa é
clara e não dá margem a dúvidas: a nomeação de Osvaldo Petrosa para dirigir a
empresa estatal do Pré-Sal. Ele foi o primeiro brasileiro a defender o fim do
monopólio do petróleo e é também um personagem vinculado a David Zilberstajn, o
ex-genro que ao se reunir com representantes das multinacionais do setor
energético quando dirigia a Agência Nacional do Petróleo avisou que “o petróleo
é vosso”. Zilberstajn, por sinal, voltou à tona ao ser convocado inúmeras vezes
pela mídia de mercado para analisar o leilão. E o fez, claro, como sempre,
defendendo os grupos internacionais.
De quebra, Dilma
ainda nomeou Antônio Claudio, que joga no mesmo time dos defensores das
empresas estrangeiras. Ou seja, a Presidenta que considera os defensores de
interesses nacionais “xenófobos”, precisa explicar melhor porque nomeou estes
senhores entreguistas para a empresa do pré-sal. Nomeações, por sinal,
aplaudidas pelos de sempre.
Dilma precisa
explicar também porque o Palácio do Planalto pressionou parlamentares que eram
contra o leilão a mudarem de posição. O que teriam a dizer o Deputado
Garotinho, o Senador Lindemberg Faria e outros menos votados?
Em suma: se
estivesse por aqui, Barbosa Lima Sobrinho lembraria que entrega de mão beijada
de riquezas do país e a preço de banana é algo que se alinha ao partido de
Silvério dos Reis, ou seja, da traição.
*É correspondente no
Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros,
de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
Sem comentários:
Enviar um comentário