Enquanto alguns
políticos alemães defendem asilo ao ex-agente da NSA no país, Berlim
preocupa-se com questões jurídicas e diplomáticas – ação seria um
"desastre" nas relações entre EUA e Alemanha, diz especialista.
As declarações
dadas pelo ex-consultor da Agência americana de Segurança Nacional (NSA) Edward
Snowden de que estaria disposto a ajudar a Alemanha nas investigações sobre a
espionagem dos EUA desencadearam certo alvoroço nos cenários políticos alemão e
americano.
Políticos dos
Partidos Social-Democrata (SPD), Verde e A Esquerda defendem que o informante
obtenha asilo no país, ou mesmo um salvo-conduto, caso ele conceda depoimento.
Já o governo em Berlim, apesar de demonstrar interesse no que Snowden tem a
dizer, mostra-se preocupado com as complicações jurídicas e diplomáticas que o
caso poderia causar. Por isso, Berlim pensa em tomar as declarações do
informante em Moscou.
"Uma viagem de
Snowden para a Alemanha seria problemática, pois é questionável se ele
receberia ou não asilo aqui", declarou o porta-voz da CSU para questões
internas, Hans-Peter Uhl, à edição deste sábado (02/11) do jornal alemão Berliner
Zeitung. "Se ele não receber asilo, então haverá um pedido de extradição
por parte dos americanos".
Na sexta-feira
passada, o ex-agente americano encontrou-se com o deputado verde alemão
Hans-Christian Ströbele, em Moscou, e disse estar disposto a colaborar com o
governo em Berlim nas investigações sobre a espionagem americana, que incluíram
escutas no telefone celular da chanceler federal alemã, Angela Merkel. Para
Ströbele, Snowden pode esclarecer muitas questões ainda em aberto, "pontos
que ainda não sabemos, ou não pudemos saber", disse o parlamentar ao canal
ARD. Ele ressaltou que o ex-agente "sabe muito mais" do que o que foi
divulgado até agora.
"Um
desastre"
"Seria um
desastre para as relações entre alemães e americanos se Snowden fosse à
Alemanha e testemunhasse diante do Bundestag (Parlamento alemão)", avalia
Stephen Szabo, diretor-executivo da Academia Transatlântica, vinculada ao
German Marshall Fund. Segundo ele, as expectativas do deputado verde seriam um
"pesadelo" para a Casa Branca.
Para o
especialista, as relações entre os dois países seguem o caminho "de uma
espiral descendente, profunda", e essa rota precisa ser freada. Szabo
alerta ainda que se Snowden for à Alemanha sob as bênçãos do governo em Berlim,
a situação poderá se escalar. Isso porque do ponto de vista de muitos
americanos – especialmente aos olhos do presidente Barack Obama – o ex-agente
da NSA é considerado um traidor.
A disposição de
Snowden em testemunhar contra a NSA na Alemanha, explícita em carta aberta
enviada pelo ex-agente, foi bem recebida pelo ministro alemão do Interior,
Hans-Peter Friedrich, que disse "estar contente em ouvir a notícia".
Apesar de a maioria dos especialistas americanos acreditar que Snowden não deve
ir à Alemanha, a declaração teria surpreendido Washington.
"Tapa na
cara"
Em entrevista à
Deutsche Welle, Caitlin Hayden, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos
EUA, não mencionou diretamente os comentários de Ströbele e Friedrich, mas
ressaltou que os Estados Unidos ainda tentam processar o ex-agente da NSA na
Justiça. Hayden não respondeu à questão se os Estados Unidos insistiriam em uma
extradição de Snowden, caso ele visite a Alemanha.
"Se isso
realmente acontecer, será um tapa na cara dos americanos, sem dúvida",
avalia Jackson Janes, diretor do Instituto Americano para Estudos Alemães
Contemporâneos na Universidade Johns Hopkins em Washington. "É o mesmo que
aconteceu com Moscou quando eles permitiram que Snowden ficasse . E isso
poderia significar: não confiamos em vocês", disse à DW.
Janes interpreta o
crescente interesse do governo e do Parlamento alemães em uma declaração do
antigo agente da NSA – onde quer que ele a dê – como um voto de não confiança
contra a administração Obama.
Já o ex-embaixador
americano em Berlim Phil Murphy tenta ser um pouco mais cauteloso em sua
avaliação. Para ele, a Alemanha tem todo o direito de estar preocupada com a
espionagem e, claro, como um país soberano, pode investigar a fundo. Mas ele
enfatiza que o primeiro país ao qual Snowden deveria ir seriam os Estados
Unidos.
Murphy entende que
os alemães precisam de "resultados tangíveis" para buscar uma
"solução para a crise". No entanto, o diplomata questiona se um
interrogatório com Snowden feito por autoridades e parlamentares alemãs seria a
forma correta.
MSB/dw/dpa/afp/rtr
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