A poucos dias do
primeiro aniversário do segundo mandato, Barack Obama enfrenta uma crise de
confiança, tanto junto dos aliados internacionais devido ao polémico esquema de
espionagem norte-americano, como a nível interno, com alguns reveses políticos.
A 06 de novembro de
2012, o reeleito Obama anunciava aos norte-americanos, no discurso de vitória,
que acreditava que para os Estados Unidos (EUA) "o melhor ainda estava
para vir", sublinhando, na mesma ocasião, que nunca tinha estado "tão
esperançoso".
Doze meses depois,
o governante admite que o ano "foi difícil", numa referência ao braço
de ferro entre republicanos e democratas para alcançar um acordo orçamental no
Congresso norte-americano.
O confronto entre
as duas fações, em muito motivado pela reforma do sistema de saúde patrocinada
pelo líder norte-americano ('Obamacare'), culminou no início de outubro numa
paralisação parcial do Estado federal que durou mais de duas semanas e numa
séria ameaça de um eventual incumprimento por parte dos EUA.
Bernardo Pires de
Lima, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI),
afirmou à Lusa que este foi um dos três temas que "atormentaram" a
administração Obama em 2013, que revelou "extrema dificuldade em gerir
duas maiorias distintas no Congresso, a polarização partidária e o aumento da
dívida".
"As semanas de
'shutdown' puseram a nu estas condicionantes, alarmaram os mercados, diminuíram
a confiança económica e expuseram mais uma vez o exercício frágil da função
presidencial", indicou o especialista.
Para António Neto
da Silva, presidente da Associação de Amizade Portugal/EUA (AAPEUA), o atual
cenário político norte-americano revela "uma luta entre dois conceitos de
sociedade".
"Uma sociedade
mais livre, em que a iniciativa individual passa também pelas questões de
salvaguarda do futuro individual de cada um e dos cuidados de saúde que possa
vir a ter. (...) Em confronto com uma abordagem mais europeia, que é esta que o
Presidente Obama pretende, na qual o próprio Estado entende que também é da sua
responsabilidade garantir cuidados para as pessoas que porventura não se tenham
precavido para o futuro", realçou o antigo secretário de Estado do
Comércio Externo.
Na opinião de
Bernardo Pires de Lima, Obama tem vários desafios internos permanentes.
"Conseguir a
entrada em vigor do 'Obamacare', previsto para 2014, e reformar a lei de
imigração, cumprindo dois roteiros legislativos e fechando dois capítulos
basilares na doutrina do partido democrata", mencionou o investigador, que
não esquece as questões económicas.
"Aumentar o
crescimento económico, gerar emprego e encarrilar a estratégia de independência
energética em curso, a qual provocará a grande viragem geopolítica das próximas
décadas, reduzindo a dependência do Médio Oriente e provavelmente o
envolvimento dos EUA, em termos semelhantes, na região", destacou ainda.
Já Neto da Silva
identifica o desafio ambiental, acreditando que os Estados Unidos, "líder
mundial em praticamente todas as áreas", devem assumir o comando, criar
compromissos internacionais que sejam cumpridos de forma efetiva e
"definir como absolutamente prioritários (...) os valores do
planeta".
A nível
internacional, os últimos meses têm sido difíceis para Obama: a eventual
intervenção militar na Síria face a utilização de armas químicas e a revelação
do escândalo das escutas internas e externas realizadas pela Agência Nacional
de Segurança (NSA) norte-americana, envolvendo vários líderes mundiais como a
chanceler alemã Angela Merkel.
"O impacto que
a fuga de informação sobre estas escutas está a ter na relação entre líderes
europeus e Obama é incalculável, como é também o efeito provocado no
congelamento das negociações do indispensável acordo de comércio livre entre EUA
e União Europeia (UE)", sublinhou Bernardo Pires de Lima.
Sobre a Síria, o
investigador considerou que Obama assumiu uma "gestão errática".
"Obrigado a
responder às 'linhas vermelhas' (...), deu dois passos em frente para depois
recuar por falta de condições no Congresso, na NATO, no Conselho de Segurança
[da ONU] e na região", concluiu o investigador, numa referência ao acordo
para a destruição do arsenal químico sírio.
Neto da Silva
frisou, por seu lado, que a decisão de Obama demonstrou que os Estados Unidos
"procuravam uma alternativa" a uma intervenção militar, evitando as
memórias ainda vivas de outros conflitos.
A mais recente
sondagem NBC News/Wall Street Journal, divulgada na quarta-feira, indicou que
apenas 42% dos norte-americanos aprovam o desempenho governativo de Obama, o
valor mais baixo de sempre, mesmo durante o auge da crise económica no início
do seu primeiro mandato presidencial. O grau de desaprovação ronda os 52%.
Obama também não
resistiu na liderança da lista dos homens mais poderosos do mundo, elaborada
anualmente pela revista Forbes, e foi este ano destronado pelo seu homólogo
russo Vladimir Putin.
Lusa, em Notícias ao Minuto
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