Gabriela Néspoli,
São Paulo – Opera Mundi
Harmonização
financeira e em questões de segurança é desafio para comunidade duas décadas
após fundação do bloco
Nesta sexta-feira
(01/11), a União Europeia completa 20 anos de existência imersa na maior crise
de sua história. Passadas duas décadas, o processo de união monetária do bloco
está sendo questionado, principalmente após os desdobramentos da turbulência econômica
de 2008.
Segundo Thiago
Rodrigues, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal
Fluminense, o momento atual do bloco é não só de crise financeira, mas, também,
de tensão política. Para ele, os dois pilares que mantêm a coesão da União
Europeia, as políticas financeiras e de defesa, estão fragilizados, uma vez que
os principais atores do bloco divergem em termos que vão desde o apoio à
Aliança Atlântica, em parceria com os Estados Unidos, até o suporte à invasão
norte-americana no Iraque ou na Síria.
“As diferentes
políticas de defesa e de relações exteriores dos Estados membros acendem um
alerta para os otimistas que acreditavam na crescente harmonização do bloco”,
afirma o especialista, ressaltando as decisões individuais de cada país, em
detrimento das resoluções conjuntas.
Rodrigues aponta
para o fato de a crise atual fazer florescer algumas práticas, como o racismo
latente e os discursos protecionistas. “Há uma securitização extrema de temas
como o da imigração, e políticas xenófobas que já existiam vem ganhando espaço
justamente por unirem as diferentes nacionalidades do bloco no temor ao
estrangeiro, ao extracomunitário”, relata o professor.
Ele também ressalta
a existência de uma divisão interna à própria unidade. Romenos e búlgaros, por
exemplo, são tratados como “sub cidadãos” dentro da comunidade da qual seus
países de origem são membros legítimos, sofrendo preconceito e se submetendo a péssimas
condições trabalhistas.
Desde 2008, a taxa
de desemprego da União Europeia disparou, atingindo a marca de 10,6% em
setembro de 2013. Na Grécia, um dos países mais afetados com o colapso
financeiro, o contingente de desempregados chega a ultrapassar 25%, de acordo
com o Eurostat.
O país é palco de
diversos levantes sociais, nos quais os jovens questionam as políticas de
austeridade impostas pela Alemanha, no comando da União, e aceitas passivamente
pelo governo grego.
“Os levantes gregos
explicitam a fissura existente no bloco, pois estes jovens estão questionando
não apenas as políticas de austeridade, mas o próprio modo de organização da
grande união liberal-capitalista”, afirma Rodrigues.
Bloco
O bloco foi constituído em 1º de novembro de 1993, a partir da CEE (Comunidade Econômica Europeia), criada após a Segunda Guerra Mundial, e é constituído atualmente por 28 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Romênia e Suécia, sendo que somente 17 deles adotam o euro como moeda.
O livre-comércio é
adotado desde 1968 entre os países da CEE. No entanto, somente após a
assinatura e a vigência do Tratado de Maastricht o grupo passou a se chamar
“União Europeia”. O Tratado estabelece normas relativas à política externa, à
segurança e à cooperação em assuntos internos ao grupo, além de fornecer
diretrizes para a moeda única.
Cartoon de Carlos
Latuff - Tempos de crise: Xenofobia, racismo e discursos protecionistas se
alastram pela União Europeia
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