Ricardo Araújo Pereira – Visão, opinião
Juro por minha
honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender,
cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, a menos que o
FMI não aprecie a nossa lei fundamental e, por isso, seja melhor fingir que ela
não existe. Nesse caso, optarei por engonhar em vez de pedir a fiscalização
preventiva de orçamentos obviamente inconstitucionais, para não arreliar os
senhores da troika e o próprio Durão Barroso.
Creio em um só
Deus, os Mercados todo-poderosos, criadores do céu e da terra, de todas as
coisas visíveis e invisíveis, e também das incompreensíveis, como a flutuação
das taxas de juro da dívida pública e o rating do País. Creio em um só Senhor,
o Capital, filho unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos,
cujos caminhos são misteriosos, uma vez que há operações financeiras que
ninguém percebe exactamente como funcionam, como os swaps e os contratos das
PPP. Por Ele todas as coisas foram privatizadas. E por nós, devedores, e para
nossa salvação desceu dos Céus para nos levar 20% do salário e da reforma, o
subsídio de férias e a pensão de sobrevivência. Ámen.
Juro, como
português e como militar, guardar e fazer guardar a Constituição e as leis da
República, servir as Forças Armadas e cumprir os deveres militares, contanto
que o funcionamento dos nossos órgãos de soberania não irrite o Presidente José
Eduardo dos Santos. Juro defender a minha Pátria e estar sempre pronto a lutar
pela sua liberdade e independência, mesmo com o sacrifício da própria vida,
excepto quando o regime angolano se incomodar com a extensão da nossa liberdade
e independência, altura em que pedirei desculpa por existir.
Prometo solenemente
consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade, se o ministro da Saúde assim
mo permitir. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade nos poucos
serviços de urgência que se mantiverem abertos. A Saúde do meu Doente será a
minha primeira preocupação, desde que os tratamentos não sejam demasiado
onerosos. Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres
tradições da profissão médica, junto de enfermeiros sub-contratados e pagos a
menos de 4 euros à hora. Não permitirei que considerações de religião,
nacionalidade, raça, partido político ou posição social se interponham entre o
meu dever e o meu Doente. Já bastam as horas extraordinárias motivadas pela
escassez de pessoal a perturbarem-me o raciocínio. Guardarei respeito absoluto
pela Vida Humana, desde que o titular dessa Vida Humana tenha dinheiro para
suportar o aumento das taxas moderadoras e a diminuição da comparticipação de
medicamentos e exames de diagnóstico.
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