sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Moçambique: DESCANSA EM PAZ…

 

Verdade (mz) - Editorial
 
Sangra o país por todos os lados. Não há medicamentos e também segurança. Na Beira uma criança de 13 anos foi raptada, torturada e abandonada sem vida. Como um animal. O retrato do país é macabro. Porém, facílimo de desenhar. É melhor começarmos por aquilo que ninguém vê, mas que resulta nefasto ao futuro dos 22 milhões de cidadãos que preenchem este rochedo à beira-mar. É um facto que no país não há medicamentos. O que é grave, mas mais grave ainda, é compreender que os medicamentos, para chegarem aos hospitais, centros e postos de saúde, precisam de circular pelas estradas nacionais.
 
A retórica oficial que dá conta da distribuição de medicamentos não procede. @Verdade entrou em contacto com 113 distritos e atestou, através dos médicos e enfermeiros, que não existem medicamentos e que, dizem, devido ao exaltar das armas na zona centro é melhor esquecer os hospitais, postos e centros de saúde. Portanto, quando se fala de vítimas civis destes ataques no centro é preciso engordar os dados e analisar profundamente o problema. O condicionamento do tráfego obriga a uma engenharia de distribuição de medicamentos que o país, por força da rotina, se desabituou de trilhar. É preciso contar estes mortos.
 
A falta de medicamentos não é assunto dos dias que correm. É tão antigo como o teatro de enganos que teve lugar no Centro de Conferências Joaquim Chissano. Portanto, é um facto que o país não só não tem medicamentos como também não goza de estrutura logística para os distribuir. Mas a ausência de fármacos causa apenas mortes invisíveis, aquelas que nem a Renamo, nem a Frelimo e muito menos a sociedade civil contam.
 
Esses continuam anónimos num país e numa sociedade que trilham por outros caminhos e escolheram prioridades igualmente outras. Esses permanecem na vala comum do nosso esquecimento. Contamos um, dois, três e 58 mortos e julgamos que o sangue derramado é muito pouco. Ignoramos os desterrados quando urdimos, aqui e ali, de que lado mora a razão. O povo moçambicano não pode continuar a fazer o papel de África na reedição de uma conferência de Berlim neste teatro da arrogância que montaram na zona centro do país.
 
Se um eventual conflito político-militar só tem como vítimas os paupérrimos civis de um país onde ser pobre é o mais normal é porque as coisas estão realmente pretas. É isso que nos transmite a morte de um miúdo de 13 anos na cidade da Beira. Vítima de raptores que habitam covis e movem-se nas sombras e morto da forma mais cobarde por esta cambada de biltres. Uma morte que, na verdade, representa o cartaz da inoperância das instituições de justiça e da falência de um país, 38 anos depois do seu nascimento.
 
Descansa em paz, Moçambique.
 

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