CONDIÇÃO IMPOSTA
PELO NÚCLEO-DURO DO MPLA
Folha 8 – 26 outubro
2013
O órgão oficial do
regime, sempre cumprindo ordens, diz em título “Adeus lusofonia” e acusa
Portugal de “uma verdadeira agressão a Angola”. Não explica, contudo, como é
que sendo o regime de José Eduardo dos Santos um dos mais corruptos do mundo
pode acusar o seu congénere luso que, aliás, é apenas o terceiro país mais
corrupto da Europa.
“A cúpula em
Portugal, Presidência da República, Assembleia da República, Governo,
Tribunais, tem pesadas responsabilidades no actual clima de agressão a Angola,
que recrudesceu nas últimas semanas e atingiu níveis inaceitáveis”, escreve o
JR (Jornal do Regime, também conhecido por Jornal de Angola), acrescentando
que “a postura actual do Estado português representa uma verdadeira agressão a
Angola”.
Mas, ao que tudo
indica, o regime vai alargar o leque dos países agressores, incluindo todos
aqueles que, como o Brasil, publicaram a versão brasileira da Forbes onde, entre
outras coisas, se diz que Isabel dos Santos fez fortuna pelo nepotismo.
Ninguém vai escapar
e não haverá parcerias estratégicas para ninguém. Todos quantos digam, ou
permitam que se diga, que Isabel dos Santos é a primeira bilionária africana e
lhe chamem a “Menina do Papá”, entram para a lista negra (ou será lista
branca?) do regime.
E tem razão. Alguém
tem alguma coisa a ver com o facto de a fortuna de Isabel dos Santos ser
superior a 3.000 milhões de dólares? Ou de a mesma se dever ao nepotismo do
seu pai, o presidente José Eduardo dos Santos? Ou de a maioria dos angolanos
viver com menos de dois dólares por dia? Ou de uma fatia de qualquer empresa
que aqui se queira estabelecer ser para a “Menina do Papá” que, aliás, tem de
assinar a autorização?
Um dos exemplo que
a Forbes dá, e que é um crime contra a segurança do Estado, é o de Isabel dos
Santos aparecer de um momento para o outro com 24,5% por cento da companhia de
diamantes Ascorp através de uma companhia baseada em Gibraltar, a Transafrica
Investiment Services, TAI. A Ascorp foi formada para fazer parceria com a ENDIAMA
na venda de diamantes. Mais tarde a TAI foi transferida para controlo da mãe
de Isabel dos Santos. O Conselho de Ministros, presidido pelo presidente
Eduardo dos Santos, aprovou a parceria.
Isabel dos Santos
controla também 25% da UNITEL, a primeira operadora de telecomunicações
privada em Angola. Isso, diz a Forbes, partiu de um decreto presidencial
garantindo licenças sem concurso público. E então? Quem parte e reparte e não
fica com a maior parte, ou é burro ou não tem arte, diz um provérbio que os
portugueses ensinaram ao MPLA. Portanto…
A entrada de
interesses privados estrangeiros em Angola terá sido feita também de forma
“escura” com 25% controlado por um “veiculo de investimento controlado por
Isabel dos Santos”.
Refira-se, para que
não restem dúvidas quanto à impoluta honorabilidade de um regime que lidera a
lista dos mais corruptos, que um representante de Isabel dos Santos disse que
todos os seus investimentos são transparentes e têm sido conduzidos com
“reputadas firmas de advogados e bancos”.
Respeitando o que
aprenderam, como muito bem recorda o Procurador-Geral da República, com os
mestres portugueses, os dirigentes angolanos limitam-se também a seguir os
exemplos africanos onde os responsáveis políticos e financeiros transferem enormes
fortunas para os filhos.
Perspectiva-se que,
a todo o momento, seja criado em África o “Clube Isabel dos Santos”, entidade
que visará integrar os filhos dos dirigentes que fizeram fortunas enormes,
sendo condição sine qua non para admissão que as respectivas populações
sobrevivam na miséria.
Um dos membros
fundadores será o filho do célebre dono da Guiné-Equatorial, Teodoro Nguema
Obiang, que comprou um avião a jacto, uma mansão em Malibu e um relógio que
custou quase quatro milhões de dólares.
Todos os dados são
relevantes para entrar do “Clube Isabel dos Santos”. O presidente Denis
Sassou-Nguesso referiu na candidatura que, em 2006, ele e a sua comitiva
gastaram mais de 150 mil dólares em serviço de hotel durante as cinco noites de
visita à Assembleia Geral da ONU.
Embora a patrona do
clube tenha angariado a sua fortuna exclusivamente graças ao trabalho árduo e
a decisões comerciais audazes, serão admitidos sócios que não tenham um tão
ilustre curriculum. É que se assim não fosse, Isabel dos Santos não teria quem
a acompanhasse.
Arvinda Ganesan, da
Human Rights Watch, tem passado muito tempo a estudar algo que não existe na
Guiné-Equatorial nem em Angola, a corrupção. Daí a sua dificuldade.
“O que é admirável
nestas duas dinastias é que a riqueza vem à luz, através de processos legais
como no caso dos Obiang ou através de trabalho de investigação, ou do anúncio
de que Isabel dos Santos é agora a mulher mais rica de África, tem de se olhar
para a história. O que a história demonstra é que em virtude do relacionamento
com o governo, eles são capazes de obter investimentos lucrativos ou acesso a
receitas lucrativas para poderem construir as suas riquezas”, diz Arvinda
Ganesan.
Por outro lado,
investigadores franceses desde há muito que analisam a família Sassou-Nguesso,
da República do Congo, preocupados em esclarecer como é que ela angariou
muitas residências luxuosas em França.
Também o
Departamento da Justiça dos EUA tentou apreender o avião a jacto de Obiang,
argumentando que fora adquirido por meios ilícitos. Falharam. Não havia provas.
Dizem os idealistas
que a Europa e os EUA deveriam impedir a entrada de dinheiro sujo, congelando
os bens das autoridades corruptas. Aventam até a hipótese de os bancos
prestarem mais atenção à proveniência do dinheiro dos investidores.
É claro que todas
estas ideias estão a leste da realidade. Se, tal como a droga e a venda de
armamento, as lavandarias são um dos negócios mais lucrativos do mundo, não
faz sentido que – a troco de uma falsa moralidade – se queira agora acabar com
elas.
Por alguma razão os
principais utilizadores das lavandarias são os donos de países onde, desde
logo, as riquezas naturais (petróleo, diamantes, etc.) estão ao dobrar de
qualquer esquina. E quando assim é, o mundo sabe que os cães ladram mas a
caravana passa. Impávida e serena.
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