João D' Espiney –
jornal i
Os cortes nas
despesas do Estado não são para todos. Ou melhor, não são em todas as rubricas.
Há pelo menos uma em que as despesas não só não estão a diminuir como até têm
vindo a aumentar. De acordo com a pesquisa do i aos procedimentos publicados no
portal Base dos contratos públicos ( http://www.base.gov.pt/base2/),
os vários organismos da administração central, local e regional assumiram
encargos de 33,3 milhões de euros em 859 contratos de aquisição de serviços
externos de consultoria/assessoria jurídica entre 2011 e 30 de Outubro deste
ano.
Só nos primeiros
dez meses deste ano já foram contratualizados 12 milhões em 302 contratos, o
que representa um acréscimo de 17,6% em relação ao total das despesas nesta
rubrica em todo o ano passado (10,2 milhões em 257 contratos). Estes números
até pecam por defeito na medida em que nem todos os organismos divulgam os seus
contratos e há procedimentos que só são publicados bastante tempo depois da
data da sua assinatura.
O montante dos
encargos com a contratação de serviços jurídicos externos, agora apurados pelo
i, é superior ao valor registado nos três anos anteriores. Num artigo publicado
a 28 de Outubro de 2010, a revista “Sábado” dava conta de que o Estado tinha gasto
25,9 milhões em 627 contratos com 166 escritórios de advogados entre 2008 e
2010. Nesta contabilidade entravam também as associações e outras entidades com
estatuto de utilidade pública. Um universo que o i não contabilizou agora. A
análise abrange os organismos da administração central, local, regional,
empresas públicas, municipais e regionais, algumas fundações e a Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa.
Banco central é o que mais gasta
Os montantes dos contratos, todos eles feitos por ajuste directo, variam entre os 75 euros que a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo pagou em 2011 ao escritório de Pedro Rebelo de Sousa por consultoria jurídica no âmbito de uma Parceria Público Privada. E os 650 mil euros que o Banco de Portugal adjudicou em cada um de cinco contratos, dois dos quais com a Vieira de Almeida: um em 2011 e outro já este ano para representar o banco central nos processos judiciais em litígios relacionados com o Banco Privado Português (BPP).
O Banco de Portugal
é mesmo o organismo público que mais recorre a este tipo de serviços. No
período em análise já assumiu encargos de 2,7 milhões de euros e lidera os
rankings dos contratos mais elevados nos três anos analisados.
Confrontado pelo i
com esta informação, o banco central não quis tecer nenhum comentário. Há duas
semanas, quando o “Mercado da República” se debruçou sobre os contratos
publicados pelo BdP desde o início do ano, o porta-voz do banco afirmou, a
propósito da contratação do escritório de Vieira de Almeida para o representar
nos processos do BPP, que “o valor publicitado não tem relação com o preço
efectivo dos serviços prestados, que só é conhecido no termo do contrato e é
normalmente muito inferior”. Aos contratos de aquisição de serviços externos
com preço/hora “é sempre atribuído o valor que corresponde ao limite superior
da competência do órgão adjudicante”, acrescentou o assessor, que não quis
justificar a necessidade de recorrer a serviços externos nem revelar o número
de elementos que integram o departamento jurídico interno.
Em segundo lugar do
ranking aparece a câmara de Oeiras com um total de 1,4 milhões. O relatório de
gestão de 2012 do município revela que “mais de metade dos processos judiciais
foi distribuída a advogados externos”. Só a sociedade de advogados Paulo de
Almeida & Associados ficou com 44% dos processos. De acordo com a pesquisa
do i, o contrato mais elevado tem o valor de 576 mil euros.
Sérvulo Correia é o que mais ganha
A Sérvulo & Associados foi a sociedade de advogados que mais dinheiro ganhou no período em análise. O escritório assinou 58 contratos por um total de 3,1 milhões. O principal cliente foi a Estradas de Portugal, com quatro contratos publicados por 870 mil euros. Dois deles (350 mil cada um) foram no âmbito da negociação dos contratos das SCUT. Ao i, a sociedade garante, no entanto, que o valor total dos ajustes directos disponibilizados no portal para o período em análise “é inferior” e que não tem “uma relação preferencial ou privilegiada com o Estado.” Fonte oficial do escritório revelou ainda que “o volume de serviços contratados pelo Estado decresceu significativamente nos últimos anos” e que “apresenta hoje uma relevância claramente secundária no conjunto da facturação da Sérvulo.”
Com efeito, e de
acordo com as contas da “Sábado” para o período entre 2008 e 2010, esta
sociedade chegou a contratualizar serviços por 6,2 milhões em 128 contratos.
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