Paulo Baldaia –
Diário de Notícias, opinião
Vivo do trabalho e
não oriento a minha vida para um dia poder ser considerado rico nem sonho com o
título de milionário, esse estatuto a que no último ano ascenderam mais 85
portugueses e que se começa a medir a partir dos 22,5 milhões de euros. Mas
tenho ambições e espero viver melhor no próximo ano e assim sucessivamente.
Não tenho nada
contra os ricos nem mesmo contra os milionários. Não espero que nenhum deles
tenha um dia de viver com os meus rendimentos, antes prefiro poder merecer
viver com um rendimento parecido com o deles.
Tenho, no entanto,
como certo que as minhas ambições pessoais devem sempre estar enquadradas com
uma justa distribuição da riqueza na sociedade de que faço parte. No meio da
maior crise de que há memória, existirem mais 85 milionários e a fortuna
conjunta dos 870 que detêm esse estatuto ter crescido este ano cerca de 11%
(vale 75 mil milhões de euros, quase metade do PIB anual do país), é coisa para
me deixar preocupado.
Tendo tão pouco, é
verdade que vários milhões de euros me parece muito dinheiro, mas admito que os
milionários saibam muito bem como gastar o dinheiro que acumularam. A questão,
insisto, não é pessoal, é mesmo política. Como é possível que menos de 0,01% da
população tenha ficado cerca de oito mil milhões de euros mais rica, enquanto a
maioria da população ficou bastante mais pobre? Onde estava o Estado? Onde
estavam os senhores e as senhoras que elegemos para governar o País?
O Estado faliu.
Pode ainda ter dinheiro para pagar pensões e ordenados e não faltar quem lhe
empreste para pagar as PPP e os juros dos empréstimos, mas faliu na sua
condição de garante de uma distribuição mais justa da riqueza produzida. A
democracia não pode servir apenas para legitimar um modelo de sociedade que se
assemelha na distribuição de riqueza à época feudal.
Os dados são do
banco suíço UBS e também mostram até que ponto boa parte da riqueza mundial
está concentrada num número reduzido de pessoas. Podemos berrar a esquerda e a
direita e eleger o A ou o B, enquanto a ambição pela riqueza pessoal não for
acompanhada em igual medida pela ambição de uma sociedade mais justa, não
haverá política que nos valha.
O Estado faliu. Sem
nenhuma vergonha na cara, os que nos representam continuarão a exigir dos mais
fracos o cumprimento de todas as obrigações, sem se mostrarem capazes de fazer
o mesmo com os mais fortes. Os mais ricos ficam mais ricos e os mais pobres
ficam mais pobres. E tudo acontece como se a responsabilidade não fosse de
ninguém. De que vale ser político, se se for totalmente incapaz nesta matéria?
Ambicionam o quê? As migalhas?
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1 comentário:
Portugal é um país muito belo!!!
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