domingo, 10 de novembro de 2013

Portugal: O ESTADO FALIU

 


Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião
 
Vivo do trabalho e não oriento a minha vida para um dia poder ser considerado rico nem sonho com o título de milionário, esse estatuto a que no último ano ascenderam mais 85 portugueses e que se começa a medir a partir dos 22,5 milhões de euros. Mas tenho ambições e espero viver melhor no próximo ano e assim sucessivamente.
 
Não tenho nada contra os ricos nem mesmo contra os milionários. Não espero que nenhum deles tenha um dia de viver com os meus rendimentos, antes prefiro poder merecer viver com um rendimento parecido com o deles.
 
Tenho, no entanto, como certo que as minhas ambições pessoais devem sempre estar enquadradas com uma justa distribuição da riqueza na sociedade de que faço parte. No meio da maior crise de que há memória, existirem mais 85 milionários e a fortuna conjunta dos 870 que detêm esse estatuto ter crescido este ano cerca de 11% (vale 75 mil milhões de euros, quase metade do PIB anual do país), é coisa para me deixar preocupado.
 
Tendo tão pouco, é verdade que vários milhões de euros me parece muito dinheiro, mas admito que os milionários saibam muito bem como gastar o dinheiro que acumularam. A questão, insisto, não é pessoal, é mesmo política. Como é possível que menos de 0,01% da população tenha ficado cerca de oito mil milhões de euros mais rica, enquanto a maioria da população ficou bastante mais pobre? Onde estava o Estado? Onde estavam os senhores e as senhoras que elegemos para governar o País?
 
O Estado faliu. Pode ainda ter dinheiro para pagar pensões e ordenados e não faltar quem lhe empreste para pagar as PPP e os juros dos empréstimos, mas faliu na sua condição de garante de uma distribuição mais justa da riqueza produzida. A democracia não pode servir apenas para legitimar um modelo de sociedade que se assemelha na distribuição de riqueza à época feudal.
 
Os dados são do banco suíço UBS e também mostram até que ponto boa parte da riqueza mundial está concentrada num número reduzido de pessoas. Podemos berrar a esquerda e a direita e eleger o A ou o B, enquanto a ambição pela riqueza pessoal não for acompanhada em igual medida pela ambição de uma sociedade mais justa, não haverá política que nos valha.
 
O Estado faliu. Sem nenhuma vergonha na cara, os que nos representam continuarão a exigir dos mais fracos o cumprimento de todas as obrigações, sem se mostrarem capazes de fazer o mesmo com os mais fortes. Os mais ricos ficam mais ricos e os mais pobres ficam mais pobres. E tudo acontece como se a responsabilidade não fosse de ninguém. De que vale ser político, se se for totalmente incapaz nesta matéria? Ambicionam o quê? As migalhas?
 
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1 comentário:

aldec disse...

Portugal é um país muito belo!!!

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