Diário de Notícias,
editorial
A Organização
Internacional do Trabalho (OIT) elaborou um relatório sobre a situação
portuguesa e recomenda ultrapassar a crise em que estamos mergulhados, que haja
um aumento do salário mínimo nacional e dos indexantes de apoios sociais, o reforço
do Rendimento Social de Inserção e do crédito às empresas, um programa especial
para desempregados jovens e a introdução do worksharing, uma fórmula em que o
Estado paga uma parte dos vencimentos aos trabalhadores que, por acordo com a
entidade patronal, aceitam receber menos mantendo assim o vínculo laboral. Além
disto, a OIT sugere também, embora de forma tímida, a necessidade de investimento
em infraestruturas.
No fundo, aquilo
que a OIT hoje defende não anda muito longe do pacote de estímulos orçamentais
da Comissão Europeia para fazer face ao pós-crise de 2008. Sucede porém que, em
2010, e perante o drama das dívidas soberanas, a Europa virou-se para uma
receita de austeridade que, se não fosse cega, até poderia ser vituosa. É evidente
que era necessário proceder a um reajustamento orçamental, sobretudo dos países
mais endividados. Mas isso não invalida que não se tenha em consideração a
necessidade imperiosa de haver crescimento. Sem ele não há economia, não há
emprego, não há consumo.
Como diz em
entrevista ao DN o diretor-geral da OIT, "um ajustamento feito à custa de
perdas de empregos é ineficaz". E é ineficaz porque assentar os processos
de ajustamento das economias na depreciação do trabalho e na destruição de
emprego tem como consequência a retirada de dinheiro à economia e, por
consequência, a retração ou a recessão.
Ou seja, quando o
ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar anunciou que era chegada "a hora do
investimento", era bom que assim tivesse sido mesmo. Se a troika tivesse
entendido isto, talvez a nossa curva económica fosse hoje bem mais saudável.
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