Orlando Castro –
Folha 8, 21 dezembro 2013
Mais um ano
termina. Balanço? Tenho as certezas que já tinha e mantenho as dúvidas que
sempre me acompanharam. Continuo a achar que os nossos actuais governantes não
são uma solução para o problema mas são, isso sim, um problema para a solução.
Vamos por partes.
As (minhas) certezas... com certeza. Essas são, creio, quase unânimes entre os
que como eu não definem Angola porque, cada vez mais, apenas a sentem. Tantas
vezes com dor, muitas outras com uma lágrima no canto do olho, e sempre na
esperança de que o futuro há muito deveria ter nascido... assim soubéssemos
(sobretudo os que estão no poder) ter a noção de que quem não vive para servir
não serve para viver. Ou seja. Temos (quase) tudo para ser um grande país e até
uma grande nação.
Deus, seja Ele quem
for, deu a este espaço africano (tão mal dividido à régua e esquadro pelos
colonizadores europeus) tudo o que era preciso para ser o maior entre os
maiores. Também lhe deu, reconheça-se, um mosaico de povos capazes de valorizar
mais o que os une do que o que os divide. Tenho (tanto quanto isso é possível)
a certeza de que o que Angola não teve, nem tem, é bons amigos. Verdadeiros
amigos.
Americanos e
soviéticos (entre os dois venha o Diabo e escolha) apenas se prestaram a
ajudar-nos porque a troco de um chouriço recebiam um porco. A troco de armas
recebiam barris de petróleo. A troco de minas recebiam diamantes. Hoje será,
talvez, diferente. Mas todos os cuidados continuam a ser poucos.
Os nossos amigos
não são os que aparecem na Imprensa a oferecer próteses para os deficientes de
guerra. E não são porque, importa recordá-lo, esses são os mesmo que forneceram
as minas que provocaram toda essa catástrofe.
As minhas dúvidas.
Algumas... apenas. José Eduardo dos Santos, um presidente nunca nominalmente
eleito, continua a confundir a obra-prima do Mestre com a prima do mestre de
obras. Diz o Presidente que “honrar e declarar o nosso amor por Angola assume
um carácter solene e especial”. É verdade. Mas isso não basta. As crianças, por
exemplo, que mendigam e morrem à fome nas ruas de Luanda também amam Angola.
Amam-na e declararam esse amor. No entanto, Eduardo dos Santos, que tem pelo
menos três refeições por dia, continua a nada fazer para lhes dar um prato de
fuba.
“À força do povo
angolano e à riqueza dos recursos naturais do nosso país, podemos juntar agora
a serenidade que se instaura quando constatamos que nada mais pode pôr em causa
o esforço colectivo para a construção do bem comum”, afirmou Eduardo dos
Santos. Baixinho, creio eu, Eduardo dos Santos deverá ter acrescentado: olhai
para o que eu digo e não para o que eu faço. E o povo que aplaude, certamente
pensa: quem nos dera ter de comer.
Sem desculpas, o Governo
tem tudo, continua a ter tudo, ainda tem tudo, para mostrar do que é capaz. Não
vai chegar lá. Mal acabou com Jonas Savimbi virou-se para Cabinda. E como se
isso não bastasse, vira-se agora para todos os que apenas querem comida e
liberdade.
Os poucos que têm
milhões não vão abdicar de nada em favor dos milhões que têm pouco... se é que
têm alguma coisa. E assim não vamos lá. Assim não há Kalashnikoves que resolvam
o problema.
1 comentário:
Entristece muito ver o que se passa em Angola, mas preocupa ainda mais constatar que países irmãos como o Brasil, nada fazem para demover o José Eduardo dos Santos de permitir tanta roubalheira que começa exatamente com a filha dele que é considerada a mulher mais rica de África. Pode uma coisa destas? E Portugal? Pobre Portugal que vai tão mal.
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