Baptista-Bastos –
Diário de Notícias, opinião
Os dois principais
membros do Governo (a saber, para quem ignore: Passos e Portas) têm andado numa
maratona de encontros, reuniões, declarações, que fazem pensar, feita a soma,
de nada terem a dizer às pessoas. Um velho realejo de música encardida,
ressurgida com as banalidades do costume. Aos jotas da sua tribo, Portas
presenteou-os com um contador do tempo, que vai encolhendo os dias à medida que
se aproxima o fim da presença da troika em Portugal. A empresários do Norte,
num discurso emperrado por supressões contínuas da preposição, e pejado de
adjectivos cujo sainete e clareza são desconhecidos, Passos Coelho afirmou,
inconvicto e lúgubre como agora anda, que o Governo está atento. Não disse a
quê nem a quem. A António José Seguro não é, porque este desapareceu
completamente, sem brio nem timbre, deixando-o a ele, Passos Coelho, tão feliz
que já revelou ir recandidatar-se. Sabe que os seus inimigos estão no interior
do PSD, como a intriga larvar que rasteja no PS é ameaça de morte para
Seguro.Assim não vamos lá. Já avisou Soares, perante o vazio sem alma desta
oposição que se diz socialista, é raro falar em trabalhadores, e suprimiu dos
seus comícios o punho esquerdo cerrado. De vez em quando aparece um atrevido
expondo, timidamente, o velho símbolo de uma esquerda que se desfaz. Já se sabe
o que deseja este PSD: deixar-nos de mão mais estendida do que até agora,
esmoleres de uma ideologia feroz e sem detença. Mas o PS, o PS de almofadinha e
algodão em rama, que quer este PS? Soares sabe muito bem o que está em causa, e
que a debilidade do PS corresponde a uma perda de identidade que arrastará
consigo uma mais funda resignação nacional. Esperam-nos grandes desesperos e
liças terríveis.A inquietação de quem "veio da luta", de quem provém
de antigos combates foi salientada, igualmente, por Jerónimo de Sousa, no final
da reunião do Comité Central do PCP, o qual aludiu à linguagem intraduzível
utilizada pela Direita para induzir em erro os que crêem não haver
"alternativa." Jerónimo de Sousa expressou a ideia de que as teses
defendidas, com insistência de rataplã, pelos panegiristas deste sistema, têm
deixado, atrás de si, um rasto de fome, de desgraça e de miséria, mas que nada
está encerrado. O exercício de hipocrisia a que assistimos, tendo como
protagonistas os sorrisos de Portas e a gelada serenidade de Maria Luís
Albuquerque, ao falarem da décima "avaliação" da troika, não
convenceu ninguém. E chega a ser doloroso assistir aos comentários dos
habituais "analistas" e "politólogos" debruçados a escavar
palavras que justifiquem os estipêndios. Uns e outros equivalem-se. E a
encruzilhada política em que nos encontramos constitui uma espécie de charneira
entre duas visões do mundo e um conceito de sociedade de cuja defesa o PS
parece ter-se ausentado.
Sem comentários:
Enviar um comentário