quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Portugal: O PS NÃO ESTÁ CÁ

 


Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião
 
Os dois principais membros do Governo (a saber, para quem ignore: Passos e Portas) têm andado numa maratona de encontros, reuniões, declarações, que fazem pensar, feita a soma, de nada terem a dizer às pessoas. Um velho realejo de música encardida, ressurgida com as banalidades do costume. Aos jotas da sua tribo, Portas presenteou-os com um contador do tempo, que vai encolhendo os dias à medida que se aproxima o fim da presença da troika em Portugal. A empresários do Norte, num discurso emperrado por supressões contínuas da preposição, e pejado de adjectivos cujo sainete e clareza são desconhecidos, Passos Coelho afirmou, inconvicto e lúgubre como agora anda, que o Governo está atento. Não disse a quê nem a quem. A António José Seguro não é, porque este desapareceu completamente, sem brio nem timbre, deixando-o a ele, Passos Coelho, tão feliz que já revelou ir recandidatar-se. Sabe que os seus inimigos estão no interior do PSD, como a intriga larvar que rasteja no PS é ameaça de morte para Seguro.Assim não vamos lá. Já avisou Soares, perante o vazio sem alma desta oposição que se diz socialista, é raro falar em trabalhadores, e suprimiu dos seus comícios o punho esquerdo cerrado. De vez em quando aparece um atrevido expondo, timidamente, o velho símbolo de uma esquerda que se desfaz. Já se sabe o que deseja este PSD: deixar-nos de mão mais estendida do que até agora, esmoleres de uma ideologia feroz e sem detença. Mas o PS, o PS de almofadinha e algodão em rama, que quer este PS? Soares sabe muito bem o que está em causa, e que a debilidade do PS corresponde a uma perda de identidade que arrastará consigo uma mais funda resignação nacional. Esperam-nos grandes desesperos e liças terríveis.A inquietação de quem "veio da luta", de quem provém de antigos combates foi salientada, igualmente, por Jerónimo de Sousa, no final da reunião do Comité Central do PCP, o qual aludiu à linguagem intraduzível utilizada pela Direita para induzir em erro os que crêem não haver "alternativa." Jerónimo de Sousa expressou a ideia de que as teses defendidas, com insistência de rataplã, pelos panegiristas deste sistema, têm deixado, atrás de si, um rasto de fome, de desgraça e de miséria, mas que nada está encerrado. O exercício de hipocrisia a que assistimos, tendo como protagonistas os sorrisos de Portas e a gelada serenidade de Maria Luís Albuquerque, ao falarem da décima "avaliação" da troika, não convenceu ninguém. E chega a ser doloroso assistir aos comentários dos habituais "analistas" e "politólogos" debruçados a escavar palavras que justifiquem os estipêndios. Uns e outros equivalem-se. E a encruzilhada política em que nos encontramos constitui uma espécie de charneira entre duas visões do mundo e um conceito de sociedade de cuja defesa o PS parece ter-se ausentado.
 

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