quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Angolanos não são donos de Portugal – Donos são os fiéis homens do regime

 

Folha 8, 17 janeiro 2014
 
Jorge Cos­ta, Francisco Louçã e João Teixeira Lo­pes são os au­tores de um estudo apro­fundado do poder do re­gime angolano em Por­tugal e das ligações entre interesses económicos nos dois países, apresen­tado terça-feira em Lis­boa. Pelo sim e pelo não, na véspera o jornal “Eco­nómico” publicou uma entrevista com Daniel Proença de Carvalho, o advogado que vai liderar os interesses também angolanos na imprensa portuguesa (via Contro­linveste), em que este recusa a suposta discri­minação dos capitais an­golanos na comunicação social.
 
“Os Donos Angolanos de Portugal” inclui uma sé­rie de gráficos que apre­sentam as participações accionistas de figuras do regime angolano em empresas portuguesas ou em associação com grupos económicos por­tugueses.
 
O livro analisa o proces­so de acumulação primi­tiva em Angola e faz o inventário dos grandes articuladores do investi­mento em Portugal: Isa­bel dos Santos, Manuel Vicente, António Mos­quito, José Leitão, o ge­neral Kopelipa. Em cada caso, são apresentados os seus principais par­ceiros e investimentos. É ainda contada a história especial do grupo Espí­rito Santo, dos seus con­tactos chineses e russos e da sua turbulenta alian­ça com o regime de José Eduardo dos Santos.
 
“Os Donos Angolanos de Portugal” nasceu de uma investigação mais vasta, dos mesmo auto­res, sobre a formação da burguesia portuguesa, realizada na preparação de um outro livro, “Os Burgueses”, que será pu­blicado depois deste.
 
“Enquanto investigá­vamos e escrevíamos sobre a história, as for­mas de acumulação de capital e de organização do poder social em Por­tugal, fomos registan­do os indícios de uma transformação que, nos últimos anos, acentua as ligações internacionais, a cooperação e aliança entre capitais nacionais e particularmente capi­tais angolanos, brasilei­ros e chineses, além dos tradicionais parceiros europeus. De todas estas ligações, a angolana é a mais destacada. É tam­bém a mais desconheci­da”, lê-se na introdução ao livro.
 
“Há dois motivos para essa centralidade e para esse desconhecimento da relação angolana. Em primeiro lugar, do lado de Portugal, os capitais angolanos providenciam o financiamento de ne­cessidades imediatas, recapitalizando bancos e empresas, participan­do em privatizações ou multiplicando formas de cooperação bilateral, de que são exemplo as alianças de Isabel dos Santos com Américo Amorim ou, depois, com Belmiro de Azevedo. Em segundo lugar, do lado angolano, Portugal ga­rante uma porta aberta para investimentos e aplicações financeiras com regras e facilidades que nenhum outro país da União Europeia per­mitiria, nomeadamente através da compra de partes significativas da imprensa, da banca e de outros sectores decisi­vos. Por isso, apesar dos elementos de conflito latente ou expresso em choques comunicacio­nais, sustentamos que a ligação aos capitais angolanos não só foi a maior transformação na burguesia portuguesa nos últimos anos, como vai manter-se porque é estrategicamente indis­pensável para o próprio processo de acumulação de riqueza em Angola”, lê-se na obra.
 

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