Folha 8, 17 janeiro
2014
Jorge Costa,
Francisco Louçã e João Teixeira Lopes são os autores de um estudo aprofundado
do poder do regime angolano em Portugal e das ligações entre interesses
económicos nos dois países, apresentado terça-feira em Lisboa. Pelo sim e
pelo não, na véspera o jornal “Económico” publicou uma entrevista com Daniel
Proença de Carvalho, o advogado que vai liderar os interesses também angolanos
na imprensa portuguesa (via Controlinveste), em que este recusa a suposta
discriminação dos capitais angolanos na comunicação social.
“Os Donos Angolanos
de Portugal” inclui uma série de gráficos que apresentam as participações
accionistas de figuras do regime angolano em empresas portuguesas ou em
associação com grupos económicos portugueses.
O livro analisa o
processo de acumulação primitiva em Angola e faz o inventário dos grandes
articuladores do investimento em Portugal: Isabel dos Santos, Manuel Vicente,
António Mosquito, José Leitão, o general Kopelipa. Em cada caso, são
apresentados os seus principais parceiros e investimentos. É ainda contada a
história especial do grupo Espírito Santo, dos seus contactos chineses e
russos e da sua turbulenta aliança com o regime de José Eduardo dos Santos.
“Os Donos Angolanos
de Portugal” nasceu de uma investigação mais vasta, dos mesmo autores, sobre a
formação da burguesia portuguesa, realizada na preparação de um outro livro,
“Os Burgueses”, que será publicado depois deste.
“Enquanto investigávamos
e escrevíamos sobre a história, as formas de acumulação de capital e de
organização do poder social em Portugal, fomos registando os indícios de uma
transformação que, nos últimos anos, acentua as ligações internacionais, a
cooperação e aliança entre capitais nacionais e particularmente capitais
angolanos, brasileiros e chineses, além dos tradicionais parceiros europeus.
De todas estas ligações, a angolana é a mais destacada. É também a mais
desconhecida”, lê-se na introdução ao livro.
“Há dois motivos
para essa centralidade e para esse desconhecimento da relação angolana. Em
primeiro lugar, do lado de Portugal, os capitais angolanos providenciam o
financiamento de necessidades imediatas, recapitalizando bancos e empresas,
participando em privatizações ou multiplicando formas de cooperação bilateral,
de que são exemplo as alianças de Isabel dos Santos com Américo Amorim ou,
depois, com Belmiro de Azevedo. Em segundo lugar, do lado angolano, Portugal garante
uma porta aberta para investimentos e aplicações financeiras com regras e
facilidades que nenhum outro país da União Europeia permitiria, nomeadamente
através da compra de partes significativas da imprensa, da banca e de outros
sectores decisivos. Por isso, apesar dos elementos de conflito latente ou
expresso em choques comunicacionais, sustentamos que a ligação aos capitais
angolanos não só foi a maior transformação na burguesia portuguesa nos últimos
anos, como vai manter-se porque é estrategicamente indispensável para o
próprio processo de acumulação de riqueza em Angola”, lê-se na obra.
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