Díli, 27 jan (Lusa)
- O antigo chefe da diplomacia australiana Alexander Downer criticou, numa
carta publicada hoje, a "imprudência" e "política
irrefletida" de Timor-Leste sobre o tratado para exploração de gás e
petróleo do mar de Timor, que Díli quer ver anulado.
Na carta, publicada
no jornal 'Melbourne Review', Downer, que foi ministro dos Negócios
Estrangeiros entre 1996 e 2007, diz que "a Austrália está a ser acusada de
forma injusta e a ser acusada de ser desonesta e gananciosa em relação às
receitas de gás e petróleo".
Timor-Leste acusou
formalmente a Austrália, no final de 2012 junto do tribunal arbitral de Haia,
de alegada espionagem quando estava a ser negociado, em 2004, o Tratado sobre
Certos Ajuste Marítimos no Mar de Timor (CMATS).
O governo de Díli
insiste que devido à espionagem os australianos tiveram acesso a informação
confidencial sobre o petróleo e o gás no Mar de Timor que prejudicou o país
durante as negociações do CMATS, que foi assinado em 2006.
Com a arbitragem
internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo negociar a
limitação das fronteiras marítimas e, assim, tirar todos os proveitos da exploração
do campo 'Greater Sunrise'.
Alexander Downer
afirma na carta que que "uma minoria virulenta de anticapitalistas pensa
que Timor-Leste deve renegar os acordos que fez, acordos que dá grandes
quantias de dinheiro".
"É, numa
palavra, imprudência. Timor-Leste vai ganhar a reputação de não ser de
confiança por causa da sua política irrefletida. Como pessoa que fez tanto para
conseguir a independência dos timorenses, fico triste", adianta Downer,
atual enviado especial do secretário-geral da ONU para o Chipre.
"Em 2002 eu
dei-lhes 90 por cento das receitas e desde então acumularam cerca de 15 mil
milhões de dólares num fundo soberano. Em 2006, fechou-se um acordo com os
timorenses: Nós dar-lhes-íamos 50 por cento da receita, porque eles eram pobres
e nós éramos ricos. Para eles, como admitiram na altura, foi um bom
negócio", disse.
"Mas, o atual
governo timorense quer rasgar esse tratado porque é injusto e alegam que os
espiámos durante as negociações", acrescentou.
O antigo chefe da
diplomacia australiana refere ainda que dada a estrutura do 'Greater Sunrise',
que apenas tem uma pequena parte dentro da Área Conjunta de Desenvolvimento,
Timor-Leste apenas receberia 20 por cento das receitas.
Para Alexander
Downer, "uma coisa é Timor-Leste pedir mais ajuda aos países
desenvolvidos, incluindo a Austrália, outra coisa é Timor-Leste assinar
tratados e depois, mais tarde, dizer que não gosta deles e que não os vai
honrar", salientou.
"Se eles
precisarem de dinheiro além do seu fundo soberano de 15 mil milhões de dólares
então é bom que peçam - desde que definam como querem que o dinheiro seja
gasto. Afinal de contas, todos nós sabemos um pouco de dólares desperdiçados em
ajuda", disse ainda o ex-ministro australiano.
Alexander Downer
lembra na carta que herdou "uma situação desagradável", quando
assumiu a pasta da diplomacia por causa da luta pela restauração da
independência de Timor-Leste.
Lembrando o apoio
dado pela Austrália à realização do referendo que permitiu a restauração da
independência, em agosto de 1999, o antigo ministro salienta que o seu país
enviou "uma força de paz para salvar vidas" e ajudou os
"timorenses a construir um novo país".
"Como me disse
o chefe do governo da transição da ONU em Timor-Leste, Sérgio Vieira de Mello:
'Nenhum país tem feito mais para ajudar Timor-Leste do que a Austrália'",
recorda também na carta.
MSE // JMR - Lusa
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