terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Australia impede acesso a arquivo sobre crimes de guerra da Indonésia em Timor-Leste

 


Díli, 27 jan (Lusa) - O procurador-geral australiano George Brandis impediu a presença de um professor num julgamento em que o Governo da Austrália vai pedir ao juiz para rejeitar o acesso a arquivos com informação sobre crimes de guerra indonésios em Timor-Leste.
 
Segundo o Sydney Morning Herald, George Brandis emitiu um certificado de interesse público que vai impedir o professor associado da Universidade New South Wales, em Sydney, Clinton Fernandes de estar presente num tribunal, na terça-feira, que deverá rejeitar um pedido feito pelo docente.
 
Clinton Fernandes é um académico australiano e antigo membro das forças armadas, que ensina na Academia Australiana das Forças de Defesa, no campus da Universidade New South Wales. Pesquisa sobre o interesse nacional australiano nas relações internacionais.
 
Os arquivos secretos podem revelar o conhecimento do Governo da Austrália sobre crimes de guerra da Indonésia em Timor-Leste, refere o jornal.
 
Na terça-feira, o Governo australiano vai argumentar que o juiz Duncan Kerr deve rejeitar o pedido do professor para acesso a documentos diplomáticos e da inteligência australianos sobre as operações militares indonésias em Timor-Leste há mais de 32 anos. A ocupação indonésia durou de 1975 a 1999.
 
Com a decisão de George Brandis, o professor "não poderá ler, ouvir ou impugnar diretamente os argumentos do Governo para o segredo continuar", acrescenta o jornal.
 
Clinton Fernandes tenta há seis anos ter acesso a arquivos dos departamentos das Relações Externas e Comércio do Governo, que têm relatos sobre uma grande ofensiva militar indonésia em Timor-Leste ocorrida no final de 1981 e no início de 1982.
 
Na operação, os militares indonésios utilizaram mais de 60 mil civis como escudos para expulsar guerrilheiros de determinados locais. A operação terminou com um massacre de centenas de civis timorenses.
 
O jornal lembra que a utilização de civis como escudos humanos é um crime de guerra.
 
Clinton Fernandes pediu para consultar registos de conversas entre diplomatas australianos em Jacarta com um oficial da inteligência indonésia, assim como telegramas diplomáticos australianos e relatórios dos serviços de inteligência.
 
O Departamento de Defesa australiano já reconheceu que monitorizou comunicações de rádio de militares indonésios em Timor-Leste, mas o Arquivo Nacional da Austrália disse que o acesso a alguns registos solicitados pelo professor "contraria os acordos da Austrália com os Estados Unidos sobre a proteção de informação classificada".
 
O professor Clinton Fernandes considera que "este sigilo desnecessário serve apenas para evitar a compreensão do público sobre as relações internacionais da Austrália".
 
"Após 32 anos, as únicas pessoas que podem ter medo são os funcionários que sabiam de grandes atrocidades e que as encobriam", acrescentou o professor.
 
Malcolm Fraser, primeiro-ministro da Austrália entre 1975 e 1983, já afirmou que gostava de ver desclassificados todos os registos do seu Governo sobre Timor-Leste.
 
MSE // VM - Lusa
 

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