Díli, 27 jan (Lusa)
- O procurador-geral australiano George Brandis impediu a presença de um
professor num julgamento em que o Governo da Austrália vai pedir ao juiz para
rejeitar o acesso a arquivos com informação sobre crimes de guerra indonésios
em Timor-Leste.
Segundo o Sydney
Morning Herald, George Brandis emitiu um certificado de interesse público que
vai impedir o professor associado da Universidade New South Wales, em Sydney,
Clinton Fernandes de estar presente num tribunal, na terça-feira, que deverá
rejeitar um pedido feito pelo docente.
Clinton Fernandes é
um académico australiano e antigo membro das forças armadas, que ensina na
Academia Australiana das Forças de Defesa, no campus da Universidade New South
Wales. Pesquisa sobre o interesse nacional australiano nas relações
internacionais.
Os arquivos
secretos podem revelar o conhecimento do Governo da Austrália sobre crimes de
guerra da Indonésia em Timor-Leste, refere o jornal.
Na terça-feira, o
Governo australiano vai argumentar que o juiz Duncan Kerr deve rejeitar o
pedido do professor para acesso a documentos diplomáticos e da inteligência
australianos sobre as operações militares indonésias em Timor-Leste há mais de
32 anos. A ocupação indonésia durou de 1975 a 1999.
Com a decisão de
George Brandis, o professor "não poderá ler, ouvir ou impugnar diretamente
os argumentos do Governo para o segredo continuar", acrescenta o jornal.
Clinton Fernandes
tenta há seis anos ter acesso a arquivos dos departamentos das Relações
Externas e Comércio do Governo, que têm relatos sobre uma grande ofensiva
militar indonésia em Timor-Leste ocorrida no final de 1981 e no início de 1982.
Na operação, os
militares indonésios utilizaram mais de 60 mil civis como escudos para expulsar
guerrilheiros de determinados locais. A operação terminou com um massacre de
centenas de civis timorenses.
O jornal lembra que
a utilização de civis como escudos humanos é um crime de guerra.
Clinton Fernandes
pediu para consultar registos de conversas entre diplomatas australianos em
Jacarta com um oficial da inteligência indonésia, assim como telegramas
diplomáticos australianos e relatórios dos serviços de inteligência.
O Departamento de
Defesa australiano já reconheceu que monitorizou comunicações de rádio de
militares indonésios em Timor-Leste, mas o Arquivo Nacional da Austrália disse
que o acesso a alguns registos solicitados pelo professor "contraria os
acordos da Austrália com os Estados Unidos sobre a proteção de informação
classificada".
O professor Clinton
Fernandes considera que "este sigilo desnecessário serve apenas para
evitar a compreensão do público sobre as relações internacionais da
Austrália".
"Após 32 anos,
as únicas pessoas que podem ter medo são os funcionários que sabiam de grandes
atrocidades e que as encobriam", acrescentou o professor.
Malcolm Fraser,
primeiro-ministro da Austrália entre 1975 e 1983, já afirmou que gostava de ver
desclassificados todos os registos do seu Governo sobre Timor-Leste.
MSE // VM - Lusa
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