Verdade (mz) - Editorial
Dizem que o
Presidente da República, Armando Guebuza, não quer a guerra. Contudo, pelo seu
discurso constitui um exercício hercúleo acreditar nessa crença veiculada por
muito boa gente. Alegam, nas televisões e na Imprensa fiel ao regime, que o
problema reside na intransigência da Renamo. É uma opinião e, por isso, deve
ser respeitada. Mas o bom senso indica que é preciso questionar um pouco mais.
É preciso olhar
para o desenrolar do conflito. E, para não parecermos oportunistas, vamos
contornar aquele pensamento fácil de que foi Guebuza quem ordenou que se
atacasse a “residência” de Dhlakama em Sathunjira. É um argumento fácil demais
para explicar um conflito bem mais complexo de compreender. No entanto, o
discurso de Guebuza, no último informe do PR na Assembleia da República pode
conceder algumas pistas.
Ou seja, é um ponto
de partida para aferir a sua responsabilidade. Recordem-se de que Guebuza
desqualificou o conflito e alegou que o mesmo não estava a ocorrer na zona
centro, mas sim num espaço circunscrito daquela região do país. O que o PR
disse era, naquela ocasião, uma verdade rotunda. Porém, depois daquele
pronunciamento o conflito alastrou-se como que a transmitir ao PR que o
problema poderia, se a Renamo compreendesse, ser nacional.
Aqui, por exemplo,
não vale o argumento de Mazanga segundo o qual as coisas assim se deram para
aumentar o raio de segurança de alguém que se encontra em parte incerta. A
responsabilidade, das mortes de civis, não é exclusiva do Chefe de Estado. A
Renamo também tem a sua quota-parte. Isso é inegável. Na verdade, nada
justifica uma guerra. Portanto, os discursos devem, neste momento, ser
cuidadosos. Não podemos, agora, dizer que as FADM vão reagir aos ataques dos
homens da Renamo.
Nem sequer adianta
continuar com aquela pouca vergonha no Centro de Conferências Joaquim Chissano,
até porque o povo moçambicano já percebeu que se trata de um teatro mal
encenado. Obviamente não se pode, em nome da racionalidade, estabelecer uma
relação de causa e efeito entre o pronunciamento do PR e o alastramento do
conflito. Contudo, é preciso compreender que as coisas não se dão por acaso.
O conflito esteve
vários meses circunscrito ao espaço determinado pela Renamo. Presentemente, a
situação tem vindo a ganhar proporções alarmantes. O silêncio por parte dos
dois principais protagonistas desses acontecimentos cruentos é de uma
brutalidade indescritível. Sem nenhuma réstia de sentimento ou compaixão pelo
povo, o PR prossegue pendurado no altar da sua arrogância.
Não tuge nem muge.
O que está, todavia, claro, é que se trata de um jogo de xadrez com o sangue do
povo a ser usado como peão no tabuleiro do orgulho de uns e outros. Trata-se de
um jogo de paciência do qual ambos pretendem ficar com o maior quinhão.
Esperamos, contudo, que quando o jogo terminar o país não seja um amontoado de
escombros. Pelo andar da carruagem, somos levados a acreditar que não estamos
longe disso. Caminhamos, a passos largos, para um abismo sem precedentes.
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