quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Portugueses não querem referendo à adopção e co-adopção – sondagem i/Pitagórica

 

Pedro Rainho – jornal i
 
Não é apenas uma questão de timing. Mas também. A maioria dos inquiridos mostra-se contra a realização de um referendo e mais de 50% dizem que o momento não é "nada oportuno"
 
Os portugueses não querem que a co-adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo seja levada a referendo. A opinião fica clara com o barómetro i/Pitagórica de Janeiro - 58,1% dos inquiridos mostram-se descontentes com a possibilidade de serem convocados a pronunciar-se sobre este tema.
 
Esta semana, o cenário proposto pelo PSD subiu a um novo patamar. Depois da aprovação na Assembleia da República - pelos deputados do PSD, obrigados a disciplina de voto - o Presidente decidiu enviar o projecto para o Tribunal Constitucional, afastando o cenário de um veto político prévio. Esta possibilidade não fica excluída, mas a realização do referendo ganhou, com o gesto, outra dimensão. Se decidir viabilizar a consulta popular, a escolha de Cavaco Silva agradará a não mais que 30% dos portugueses, quase metade daqueles que se opõem ao referendo.
 
De facto, apenas 3,9% dos inquiridos mostra convicção absoluta na auscultação dos portugueses ("concordo totalmente"). No outro extremo, são 28,3% aqueles que rejeitam por completo a proposta avançada pelo deputado social-democrata Hugo Soares ("discordo totalmente").
 
Nem mesmo o timing em que esta possibilidade é lançada para cima da mesa merece a aprovação da maioria dos inquiridos. Os próprios proponentes já reconheceram que este não é o tema mais importante com que os portugueses estão confrontados, numa altura em que o país se prepara para fechar três anos de programa de assistência financeira.
 
Nesse mesmo sentido pronunciam--se 72,6% dos inquiridos do barómetro. A esmagadora maioria considera que o momento está longe de ser o ideal para um referendo sobre a co--adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo. Desses portugueses, 50,4% dizem mesmo que o momento escolhido para alargar o debate - foi esse o argumento apresentado pelo presidente da JSD para justificar a proposta de referendo - não é "nada oportuno".
 
Maioria aprova adopção
 
A assertividade que os portugueses mostram sobre a realização do referendo esvai-se no exacto momento em que são confrontados com a questão fundamental: devem ou não os casais do mesmo sexo poder co-adoptar, ou mesmo adoptar, crianças?
 
À imagem daquilo que aconteceu na votação do diploma do PS na Assembleia da República, em Maio de 2013 - e ainda que aí se votasse apenas a possibilidade de abrir a porta à co-adopção -, os pesos da balança ficam repartidos em duas metades quase iguais, se considerada a margem de erro do barómetro.
 
De um lado estão todos aqueles que concordam com ambas as perguntas a que poderão ser chamados a responder em referendo - que no caso do barómetro é apresentada numa formulação única, ao contrário daquilo que acontecerá num futuro referendo. Ao todo, 43,5% dos inquiridos revêem-se no princípio consagrado no diploma apresentado pelo PS e gostariam de ver o conceito alargado à adopção plena.
 
Do outro lado, e à distância de pouco mais de três pontos, estão aqueles que se opõem ao alargamento total dos direitos parentais dos casais do mesmo sexo, deixando-os em pé de igualdade com a situação já em vigor para casais heterossexuais. São 41,9% - um pouco menos que a súmula das opiniões favoráveis - e rejeitam, quer a adopção, quer a co-adopção de menores por casais do mesmo sexo.
 
O tema deixa indiferentes - "não concordo nem discordo" - uma parcela significativa de inquiridos. Se forem considerados como tendo opiniões em aberto, passíveis de ficar fechadas até à realização do referendo, os 12,3% de elementos que compõem este grupo podem fazer pender a decisão da consulta popular - que, a concretizar--se, deverá acontecer já depois do Verão - para qualquer um dos lados da balança.
 
Ficha técnica
 
Objectivo: Estudo de opinião realizado pela Pitagórica – Investigação e Estudos de Mercado SA, para o jornal i, entre 20 e 24 de Janeiro de 2014.
 
Foram realizadas entrevistas telefónicas – Cati por entrevistadores seleccionados e supervisionados, com o objectivo de conhecer a opinião sobre questões políticas e sociais da actualidade nacional.
 
Universo: O universo é constituído por indivíduos de ambos os sexos, com 18 ou mais anos de idade, recenseados em Portugal e com telefone fixo ou móvel.
 
Recolha de informação: Foram validadas 506 entrevistas correspondendo a 73,02% das tentativas realizadas. Foi utilizada uma amostragem por quotas de sexo, idade e distrito: (homens- 236; mulheres – 270; 18-34 anos: 148; 35-54 anos: 187 e 55 ou mais anos: 171; Norte: 170; Centro 126; Lisboa: 128; Alentejo: 35; Algarve: 21 e ilhas: 26).
 
A geração dos números móveis a contactar foi aleatória e a dos números fixos seleccionada aleatoriamente por distrito nas listas telefónicas. Em ambos os casos o entrevistado foi seleccionado de acordo com as quotas estipuladas. No caso da intenção de voto, são considerados 404 inquiridos após tratamento da abstenção.
 
Na projecção de voto os indecisos (33,6%) foram distribuídos de forma proporcional.
 
Amostra e erro: O erro máximo da amostra é de 4,4%, para um grau de probabilidade de 95,5%. Um exemplar deste estudo de opinião está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
 
Ficheiros Anexos:
 

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