Pedro Rainho –
jornal i
Não é apenas uma
questão de timing. Mas também. A maioria dos inquiridos mostra-se contra a
realização de um referendo e mais de 50% dizem que o momento não é "nada
oportuno"
Os portugueses não
querem que a co-adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo seja
levada a referendo. A opinião fica clara com o barómetro i/Pitagórica de
Janeiro - 58,1% dos inquiridos mostram-se descontentes com a possibilidade de
serem convocados a pronunciar-se sobre este tema.
Esta semana, o
cenário proposto pelo PSD subiu a um novo patamar. Depois da aprovação na
Assembleia da República - pelos deputados do PSD, obrigados a disciplina de
voto - o Presidente decidiu enviar o projecto para o Tribunal Constitucional,
afastando o cenário de um veto político prévio. Esta possibilidade não fica
excluída, mas a realização do referendo ganhou, com o gesto, outra dimensão. Se
decidir viabilizar a consulta popular, a escolha de Cavaco Silva agradará a não
mais que 30% dos portugueses, quase metade daqueles que se opõem ao referendo.
De facto, apenas
3,9% dos inquiridos mostra convicção absoluta na auscultação dos portugueses
("concordo totalmente"). No outro extremo, são 28,3% aqueles que
rejeitam por completo a proposta avançada pelo deputado social-democrata Hugo
Soares ("discordo totalmente").
Nem mesmo o timing
em que esta possibilidade é lançada para cima da mesa merece a aprovação da
maioria dos inquiridos. Os próprios proponentes já reconheceram que este não é
o tema mais importante com que os portugueses estão confrontados, numa altura
em que o país se prepara para fechar três anos de programa de assistência
financeira.
Nesse mesmo sentido
pronunciam--se 72,6% dos inquiridos do barómetro. A esmagadora maioria
considera que o momento está longe de ser o ideal para um referendo sobre a
co--adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo. Desses portugueses,
50,4% dizem mesmo que o momento escolhido para alargar o debate - foi esse o
argumento apresentado pelo presidente da JSD para justificar a proposta de referendo
- não é "nada oportuno".
Maioria aprova
adopção
A assertividade que os portugueses mostram sobre a realização do
referendo esvai-se no exacto momento em que são confrontados com a questão
fundamental: devem ou não os casais do mesmo sexo poder co-adoptar, ou mesmo
adoptar, crianças?
À imagem daquilo
que aconteceu na votação do diploma do PS na Assembleia da República, em Maio
de 2013 - e ainda que aí se votasse apenas a possibilidade de abrir a porta à
co-adopção -, os pesos da balança ficam repartidos em duas metades quase
iguais, se considerada a margem de erro do barómetro.
De um lado estão
todos aqueles que concordam com ambas as perguntas a que poderão ser chamados a
responder em referendo - que no caso do barómetro é apresentada numa formulação
única, ao contrário daquilo que acontecerá num futuro referendo. Ao todo, 43,5%
dos inquiridos revêem-se no princípio consagrado no diploma apresentado pelo PS
e gostariam de ver o conceito alargado à adopção plena.
Do outro lado, e à
distância de pouco mais de três pontos, estão aqueles que se opõem ao
alargamento total dos direitos parentais dos casais do mesmo sexo, deixando-os
em pé de igualdade com a situação já em vigor para casais heterossexuais. São
41,9% - um pouco menos que a súmula das opiniões favoráveis - e rejeitam, quer
a adopção, quer a co-adopção de menores por casais do mesmo sexo.
O tema deixa
indiferentes - "não concordo nem discordo" - uma parcela
significativa de inquiridos. Se forem considerados como tendo opiniões em
aberto, passíveis de ficar fechadas até à realização do referendo, os 12,3% de
elementos que compõem este grupo podem fazer pender a decisão da consulta
popular - que, a concretizar--se, deverá acontecer já depois do Verão - para
qualquer um dos lados da balança.
Ficha técnica
Objectivo: Estudo de opinião
realizado pela Pitagórica – Investigação e Estudos de Mercado SA, para o jornal
i, entre 20 e 24 de Janeiro de 2014.
Foram realizadas
entrevistas telefónicas – Cati por entrevistadores seleccionados e
supervisionados, com o objectivo de conhecer a opinião sobre questões políticas
e sociais da actualidade nacional.
Universo: O universo é
constituído por indivíduos de ambos os sexos, com 18 ou mais anos de idade,
recenseados em Portugal e com telefone fixo ou móvel.
Recolha de
informação: Foram validadas 506
entrevistas correspondendo a 73,02% das tentativas realizadas. Foi utilizada
uma amostragem por quotas de sexo, idade e distrito: (homens- 236; mulheres –
270; 18-34 anos: 148; 35-54 anos: 187 e 55 ou mais anos: 171; Norte: 170;
Centro 126; Lisboa: 128; Alentejo: 35; Algarve: 21 e ilhas: 26).
A geração dos
números móveis a contactar foi aleatória e a dos números fixos seleccionada
aleatoriamente por distrito nas listas telefónicas. Em ambos os casos o
entrevistado foi seleccionado de acordo com as quotas estipuladas. No caso da
intenção de voto, são considerados 404 inquiridos após tratamento da abstenção.
Na projecção de
voto os indecisos (33,6%) foram distribuídos de forma proporcional.
Amostra e erro: O erro máximo da
amostra é de 4,4%, para um grau de probabilidade de 95,5%. Um exemplar deste
estudo de opinião está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação
Social.
Ficheiros Anexos:
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