Para críticos da
política de espionagem, intervenção não sinaliza mudanças; para conservadores,
presidente não foi contundente em relação a 'manter EUA seguros'
Cristina Garcia
Casado – Rede Brasil Atual
Washington – As
reformas na Agência de Segurança Nacional (NSA) anunciadas
ontem (17) pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não
convenceram em seu país. Legisladores democratas e republicanos, empresas
tecnológicas e a grande mídia as consideraram pouco concretas. Obama, que
defendeu em um esperado discurso o equilíbrio entre segurança e privacidade,
não conseguiu agradar nem os que pedem para manter os programas de espionagem
da NSA intactos para evitar ataques aos EUA, nem os que acham que estes foram
longe demais.
O Congresso, para
quem Obama deixou a última palavra sobre o assunto, será portanto um terreno
complicado para o presidente conquistar, já que parlamentares de todas as
tendências se mostraram críticos a suas propostas sobre a NSA.
O presidente da
Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, disse que Obama “não
soube explicar de maneira adequada a necessidade desses programas”. “A câmara
analisará toda reforma legislativa proposta pela Administração. Mas não
minaremos a integridade operacional desses programas cruciais que ajudaram a
manter os EUA seguros”, sentenciou.
As duas grandes mudanças
propostas pelo presidente são o fim da espionagem a líderes de países aliados e
reformas na vigilância telefônica da NSA, entre elas que o governo deixe de
controlar esses dados e que uma corte especial autorize seu acesso.
A senadora
democrata Dianne Feinstein e o republicano Mike Rogers destacaram em comunicado
conjunto que a coleta de dados da NSA é “legal e efetiva”, e pediram à Casa
Branca que envie ao Congresso suas propostas em “linguagem legislativa” para
poder se pronunciar sobre elas.
Ainda mais crítico
foi o senador republicano Marco Rubio, que desponta como possível candidato às
eleições de 2016, ao assegurar que “algumas das propostas do presidente foram
longe demais”.
Além do Congresso,
outro protagonista no debate é o setor tecnológico do país, que está em pé de
guerra depois que as revelações do ex-técnico da NSA Edward Snowden sobre a
espionagem nos EUA enfraqueceram a confiança dos usuários nacionais e
estrangeiros.
Google, Microsoft,
Facebook, Yahoo! e outras empresas publicaram uma declaração conjunta após
conhecer as propostas de Obama. Consideram que “detalhes cruciais sobre este
assunto” não foram abordados. “Devem ser dados, além disso, passos adicionais
em outros importantes temas, por isso continuaremos trabalhando com a administração
e o Congresso para manter o impulso e defender reformas na linha dos princípios
que detalhamos em dezembro”, acrescenta a nota.
Alex Fowler, o
diretor de políticas globais da Mozilla, criadora do navegador Firefox,
defendeu que “internet merece mais”. “Sem uma mudança significativa, a internet
continuará por um caminho que leva à desconfiança, muito diferente de suas
origens de abertura e oportunidade”, acrescentou.
As reformas
anunciadas ontem pelo presidente Obama também não contentaram os principais
veículos de imprensa do país, que em linhas gerais as consideraram
insuficientes e pouco precisas.
O New York Times,
por sua vez, dedicou ao tema um editorial crítico no qual classifica as
mudanças propostos pelo presidente como “frustrantemente pouco específicas e
vagas em sua implementação”. O The Wall Street Journal considera que Obama
tentou “contentar a todos de maneira retórica” e critica que algumas de suas
novas propostas “farão muito pouco pela privacidade e talvez tornem o país
menos seguro”.
Além disso, Washington
Post e USA Today destacaram a abordagem superficial sobre conceito de
espionagem e a intenção de promover as mudanças na NSA.
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