Eugénio Costa
Almeida© - Pululu
Façamos uma nota
prévia; na passada semana um navio grego de pavilhão liberiano, carregado com
crude da Sonangol, foi dado como desparecido. Perspectivou-se, naturalmente,
que o referido petroleiro poderia ter sido sequestrado por eventuais piratas
marítimos com a agravante que a ter acontecido o facto teria ocorrido a cerca
de 7,5 milhas (cerca de 11 kms) da cidade de Luanda, ou seja, em plenas águas
territoriais angolanas (o limite é de 12 milhas, cerca de 19,5 kms, ao
contrário da zona económica exclusiva que é de 200 milhas).
Ora, no passado
domingo viemos a saber que o referido petroleiro teria, provavelmente,
desligado as suas comunicações e com o apoio de um rebocador externo e, segundo
me pareceu ter lido, já que não era clara a notícia, com o nome de um já
existente – ou seja, com o apoio de um rebocador clonado – o petroleiro teria
zarpado com destino à Nigéria o que se infere que haveria, em perspectiva, um
caso claro de fraude económica e de – não o deixa de ser – pirataria marítima.
Sabe-se que as
zonas do Corno de África (da Somália até perto de Moçambique) e do Golfo da Guiné
(aqui mais perto das águas territoriais nigerianas) são considerados como dois
polos onde a pirataria marítima fazem sentir a sua actividade. Isto, apesar de
haver quem considere que não são credíveis estes factos ou que não se
justifiquem que, academicamente, haja quem deseje estudar esta matéria no
âmbito da Comissão do Golfo da Guiné (CGG) e da Zona de Paz e Cooperação do
Atlântico Sul (ZOPACAS).
Recentemente,
candidatei-me a uma bolsa para o Pós-Doutoramento (em Portugal, mesmo que se
tenha um apoio de uma Universidade – para eles – estrangeira, no caso angolana,
para um Pós-Doc temos sempre de solicitar o apoio bolseiro àquela instituição
estatal, os avaliadores acharam que certos elementos de análise como, e passo a
citar, “pirataria marítima, petróleo e uma série de outras questões” não se
enquadravam no estudo o que tornavam “pouco claro o foco da análise”. Tudo isto
enquadrado num Pós-Doc que estudaria e analisaria a ZOPACAS e a CGG.
Ora António
Patriota, antigo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, na sessão de
abertura da ZOPACAS (ou ZPCAS) em Montevidéu, Uruguai, em Janeiro de 2013,
referia-se, precisamente, como indispensável e necessário que os Estados
ribeirinhos que formam a ZOPACAS e, por extensão a CGG, deveriam salvaguardar
os seus direitos económicos nas zonas económicas exclusivas, nomeadamente, a
defesa da extensão territorial, o petróleo, entre outros e combater por todos
os meios a pirataria marítima que se começa a sentir, e com certa intensidade,
no Golfo da Guiné (Almeida & Bernardino, 2013).
Só os avaliadores
da FCT é que não pensam assim…
Ora como se inicia
este texto há dias houve uma crise marítima nas águas territoriais angolanas
com o “desaparecimento” de um navio-tanque, o Kerala, da empresa grega DynaCom
Tankers (embora com pavilhão liberiano) que transportava no seu bojo crude da
Sonangol.
A empresa afirma e
atesta que houve um acto de pirataria! O Ministério da Defesa Nacional e a
Marinha de Guerra testemunham que o que houve foi um desvio do navio por parte
da tripulação, provavelmente – e isto sou eu que digo – para venderem o crude
no mercado negro. Em qualquer dos casos, houve, efectiva e claramente, um acto
de pirataria que deve ser frontal e com clareza combatido.
Para isso, é
necessário que a nossa marinha tenha os meios necessários para esse desiderato.
Recordo que já em
2007, o então Chefe de Estado-Maior da Marinha de Guerra angolana, o Almirante
Silva Cunha defendia que Angola precisava de reforçar os nossos meios
marítimos, defendidos no seu “Ensino e formação em aliança estratégica”, quer
com uma Escola Naval de Guerra, quer com a formação de novos oficiais
vocacionados para as novas estratégias marítimas (ver Almeida, Eugénio Costa,
2011). Ora nestas enquadram-se, naturalmente, as novas formas de pirataria marítima
e os danos que podem provocar numa economia emergente como é a nossa.
É certo que Angola
recebeu há tempos alguns patrulheiros chineses para vigia das nossas águas
territoriais. É igualmente verdade que vamos comprar alguns vasos de guerra à
Alemanha (barcos de patrulha, já acordados na visita de Merkel a Angola, em
2011, então no valor de 7 a 17 milhões de USdólares/cada mas que só agora
parece terem recebido ordem para avançar; será que os preços se mantem?).
Só que até estarmos
preparados e salvaguardados de surpresas como a ocorrida – ainda que não
devidamente justificada –, estaremos sempre sob o espectro da pirataria
marítima com os naturais nefastos condicionamentos ao desenvolvimento da nossa
economia e das nossas riquezas nacionais.
Salvo se estivermos
disponíveis para colocar as nossas costas e as nossas riquezas da zone
económica exclusiva sob a vigilância de terceiros, como, por exemplo, dos
submarinos sul-africanos (eles têm ou vão comprar três), de marinhas de guerra
da China, da Rússia, da Espanha, da França, dos submarinos portugueses ou dos
norte-americanos da AFRICOM, com os naturais custos a nos serem imputados…
Não se é porque se
quer, mas é-se porque temos condições para isso: refiro-me, naturalmente, em
sermos uma potência regional!
Fontes: Almeida,
Eugénio Costa & Bernardino, Luís M. Brás, “A Comissão do Golfo da Guiné e a
Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul”, in: Revista Militar, nº 2532, de
Janeiro/2013, pp: 43-61;
Almeida, Eugénio
Costa, “Angola potência regional em emergência”, (tese de doutoramento),
edições Colibri, 2011, pp. 159.
©Artigo de Opinião
publicado no semanário angolano Novo
Jornal, secção “1º Caderno” ed. 314 de 31-Janeiro-2014, pág. 22)
*Eugénio Costa
Almeida* – Pululu - Página de
um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações
Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -;
nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com
a actividade académica, social e associativa.
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