Jornal de Angola,
editorial
Celebra-se hoje o
53 º aniversário do início da Luta Armada de Libertação Nacional, um marco que
figura nos anais das História de Angola como o princípio da construção de um
Estado livre e independente. A 4 de Fevereiro de 1961, centenas de patriotas
desencadearam ataques contra a esquadra da Polícia Móvel, na Estrada de Catete,
a cadeia de São Paulo e a Casa de Reclusão, em Luanda. Este movimento popular
revolucionário culminou com a proclamação da Independência de Angola, em 11 de
Novembro de 1975.
O 4 de Fevereiro é
um legado que temos que honrar e dar continuidade, porque representa o
aprofundar da democracia, a consolidação do Estado Social, a garantia da
justiça na repartição da riqueza gerada e a igualdade de oportunidades. A
revolta popular contra os símbolos da dominação colonial foi um marco que
precisa de ser estudado e divulgado para mostrar às gerações vindouras, os
sacrifícios consentidos pelas gerações passadas, para que hoje todos tenham
direito à liberdade e dignidade.
A comemoração deste acontecimento maior da História de Angola radica na necessidade de preservar feitos heróicos que dignificam todos os que lutaram pela Independência Nacional. A celebração do 4 de Fevereiro justifica-se igualmente pela necessidade de dotar as gerações mais novas e as vindouras de conhecimentos sobre os passos que foram dados para pôr fim à dominação colonial e construir um país que é hoje respeitado pela comunidade internacional, pelos contributos preciosos que tem dado à democracia, à paz no mundo e à promoção dos direitos humanos.
Os povos das colónias no continente africano lutavam desde o início da década de 50 pela independência. No dia 4 de Fevereiro de 1961 os ventos de liberdade sopraram fortíssimos em Angola. A conjuntura internacional favorecia a acção dos nacionalistas. A imprensa internacional estava em Luanda quando a revolução começou, para cobrir a chegada do paquete Santa Maria, tomado de assalto no mar alto, quando navegava com centenas de passageiros, de Lisboa para o Rio de Janeiro. O comandante da operação, o revolucionário português Henrique Galvão, anunciou que rumava à capital de Angola para aí declarar guerra aberta ao regime do ditador Salazar. As mulheres e homens do 4 de Fevereiro decidiram que tinha chegado a hora da acção. E escreveram com sangue e o sacrifício da liberdade, uma das mais belas páginas da História recente de Angola.
Os heróis do 4 de Fevereiro, apenas armado com paus e catanas, atacaram as cadeias de Luanda e a esquadra da polícia de choque na Estrada de Catete. O combate foi desigual pois o inimigo era numeroso e estava bem armado. Muitos revolucionários morreram dando o peito às balas. Centenas deles, foram presos.
Quem hoje ousa avaliar o sucesso ou insucesso do 4 de Fevereiro pelo número de baixas de ambos os lados está a cometer o mesmo erro que foi cometido pelos colonialistas. Quem usa paus e catanas contra um exército apoiado pela OTAN, polícia de choque e tropas especiais, sabe que vai perder a primeira batalha. Mas tem a certeza de que está a participar numa guerra que só tem fim quando a pátria for libertada. E entre o primeiro assalto e o objectivo final há centenas de batalhas para ganhar ou perder.
Esse é o exemplo extraordinário dos heróis do 4 de Fevereiro. Não agiram com calculismo nem pensaram nos seus interesses pessoais. Agiram exclusivamente em nome da pátria e pela sua libertação. Mas a consciência nacionalista ficou tão forte que nos meses seguintes a luta armada contra o colonialismo alastrou a todo o país com outros meios e uma organização mais eficaz. Em todo o país se forjou a certeza de que era falsa a ideia da invencibilidade do poder colonial. Afinal, através da luta armada era possível derrotar o colonialismo num momento em que as suas bases de sustentação ruíam fragorosamente.
A acção heróica do 4 de Fevereiro desencadeou a união dos angolanos à volta da luta pela Independência Nacional. Estava em marcha, na dimensão armada, o “amplo movimento” social e político que nasceu nos anos 50 para libertar a pátria da dominação colonial. O fim do caminho foi a Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975. Um percurso repleto de grandes vitórias e desbravado por milhares de angolanos que não hesitaram em sacrificar as suas vidas pela libertação do Povo Angolano. Passados que foram os anos de guerra, os angolanos souberam mais uma vez unir-se em torno da paz alcançada em Abril de 2002.
Nesta fase de consolidação da democracia, o povo angolano demonstra que é possível a conjugação de esforços nos desafios que se colocam a todos. O alcance da paz foi uma prioridade. E depois de conquistada, estamos a saber preservá-la para que seja a marca mais visível na vida de todos os angolanos. Neste momento de reconstrução de Angola é importante que as gerações mais novas e as vindouras saibam interpretar a importância histórica do 4 de Fevereiro e continuem a pugnar pelos valores que lhe deram expressão: unidade, reconciliação, tolerância, solidariedade e justiça social.
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