'Tropa do Braço' da
PM-SP bate em jornalistas e usa extinta tática de polícia alemã para cercar
manifestantes
Pragmatismo
Político
A manifestação
contra a Copa que aconteceu em São Paulo, no sábado (22), terminou com 260
feridos. O ato foi organizado através da internet e contou com pouco mais de
mil manifestantes.
Desde o início da
manifestação esteve presente um forte aparato policial, em número igual ou
superior ao número de manifestantes. Antes do ato, o governador do Estado,
Geraldo Alckmin (PSDB), havia anunciado que iria utilizar uma nova tropa para
acompanhar as manifestações, a “tropa do braço”. Segundo a corporação, os policiais
deste destacamento são treinados especificamente para combate corpo a corpo, e
não atuam com balas de borracha ou bombas de gás.
Segundo
manifestantes e jornalistas que estavam presentes, depois de um começo de
manifestação pacífico, a polícia utilizou bombas de gás para dividir o grupo de
pessoas que marchavam pelo centro e começou a cercar indistintamente os grupos
que se dispersavam. Os policiais utilizaram uma tática conhecida como “Caldeira
de Hamburgo”, utilizada pela primeira vez em manifestações na Alemanha em 1986.
Caldeirão
A tática consiste
em prender os manifestantes dentro de um cordão de policiais para retirá-los e
detê-los aos poucos. Na Alemanha ela foi utilizada pela primeira vez em uma
manifestação contra as usinas nucleares no país. Na época, a ação foi
justificada porque o governo entendia que o grupo de manifestantes compunha-se
de “indivíduos com passado de violência”, “simpatizantes da Fração do Exército
Vermelho” e “integrantes do movimento de ocupação urbana da Hafenstraße e os
tais autônomos”. Hoje a polícia justifica sua necessidade pela presença de
“mascarados”, “vândalos” e “Black Blocs”.
Na Alemanha, os
manifestantes chegaram a ficar presos durante 17 horas sem poder comer, beber,
o que levou os policiais que coordenaram a ação a serem processados por cárcere
privado e a própria ação a ser considerada ilegal. Em São Paulo, no entanto, a
conclusão foi bem diferente e a polícia comemorou o que considerou uma ação bem
sucedida: “A operação foi um sucesso. Houve menos danos, menos policiais e
civis feridos e menos confrontos”, afirmou o coronel Celso Luís Pinheiro. O
governador também fez uma avaliação positiva: “A operação ‘tropa do braço’ foi
muito bem sucedida. Nós tivemos menos confronto, menos violência, menos
depredações, menos pessoas feridas, menos estragos de uma maneira geral.
Acredito que a tática usada pela Polícia Militar teve êxito sim”.
Antecipação
O coronel também
afirmou que a polícia agiu por antecipação, “antes que a ordem fosse quebrada”.
Além das imagens de agressão gratuita com cassetadas e chaves de braço, o ato
também foi marcado pela obstrução do trabalho dos jornalistas, e muitos dos repórteres
que estavam no local foram impedidos de filmar o que acontecia ou até mesmo
detidos.
Os manifestantes
saíram às ruas contra os gastos com a Copa do Mundo e contra a situação
precária do transporte, moradia, saúde e educação no Brasil. O grupo que organiza
as manifestações pelo Facebook, “Contra a Copa 2014″, convocou uma nova
manifestação contra a Copa para o dia 13 de março.
Foto: Tática
conhecida como “Caldeira de Hamburgo” foi utilizada pela primeira vez em
manifestações na Alemanha em 1986 (Reuters)
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