sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

HAITI – UM PAÍS INVISÍVEL



REDESCOBRIR A HISTÓRIA

Martinho Júnior, Luanda (ler parte antecedente - HAITI – A APOSTA PELA VIDA

4 – De entre as coisas que a contra revolução liberal pretende ocultar, em função das ideologias e das práticas por que se nutre no âmbito do “mercado global” dominado pelos oligopólios, pelos cartéis e pelos seus cada vez mais mercenários instrumentos de opressão, está a própria história!

Interessa à ditadura do capital e ao fascismo concomitante que por seus decretos a história seja abolida, para ser esquecida tal qual ela é e, em sua substituição, seja inventada a mentira na base de seus exclusivos interesses e de suas egoístas conveniências!

Para o caso do Haiti não é preciso decreto: esquecer a sua história é o que tem acontecido desde a sua independência… mais um feito glorioso da “civilização ocidental”!

Daí que o Haiti, conforme ainda Eduardo Galeano, é um “país invisível”, em relação ao qual de há muito vêm apagando a memória!...

5 – É evidente que a história de Haiti é importante para África, desde os tempos da escravatura!

É uma história que deveria figurar nos compêndios escolares do continente-berço, que se deveria ensinar desde logo às crianças, para que os adultos estivessem minimamente avisados… mas África é precisamente um dos continentes em que a epopeia do povo haitiano é menos lembrada… não vá a memória contagiar e fazer mexer com os povos, que se querem adormecidos, anestesiados e… submissos!

É só constatar a proliferação das religiões “importadas” por África, surgidas em tempo de “mercado”: o tempo que a atenção a elas é devotadamente entregue por tantos milhões de cordeiros… e comparar com a ignorância completa em relação ao Haiti, cuja história deveria estar presente em África, para se poder avaliar da oportunidade dos resgates contemporâneos que há que realizar em nome da paz, do aprofundamento da democracia, do equilíbrio e da justiça social imprescindíveis!

Por isso Eduardo Galeano ao fazer ao seu jeito peculiar a recuperação da memória relativa ao Haiti, tem imenso mérito no seu reparo que não pode ser mais um acto singular, por que essa memória é um património inalienável para toda a humanidade… para os encontros e reencontros que deveremos assumir em toda a humanidade:

… “De todo eso sabemos poco o nada.

Haití es un país invisible.

Sólo cobró fama cuando el terremoto del año 2010 mató más de 200 mil haitianos.

La tragedia hizo que el país ocupara, fugazmente, el primer plano de los medios de comunicación.

Haití no se conoce por el talento de sus artistas, magos de la chatarra capaces de convertir la basura en hermosura, ni por sus hazañas históricas en la guerra contra la esclavitud y la opresión colonial.

Vale la pena repetirlo una vez más, para que los sordos escuchen: Haití fue el país fundador de la independencia de América y el primero que derrotó a la esclavitud en el mundo.

Merece mucho más que la notoriedad nacida de sus desgracias”…

6 – A “civilização ocidental” só se lembra do Haiti, precisamente por causa de nele subsistirem as velhas religiões africanas, tirando partido também do Haiti se ter tornado num beco, num acantonamento, em relação ao qual o império tira partido das condições físico-geográficas no terço ocidental da Hispaniola:

… “El cruce de la frontera entre la República Dominicana y Haití se llama El mal paso.

Quizás el nombre es una señal de alarma: está usted entrando en el mundo negro, la magia negra, la brujería...

El vudú, la religión que los esclavos trajeron de África y se nacionalizó en Haití, no merece llamarse religión. Desde el punto de vista de los propietarios de la civilización, el vudú es cosa de negros, ignorancia, atraso, pura superstición. La Iglesia Católica, donde no faltan fieles capaces de vender uñas de los santos y plumas del arcángel Gabriel, logró que esta superstición fuera oficialmente prohibida en 1845, 1860, 1896, 1915 y 1942, sin que el pueblo se diera por enterado.

Pero desde hace ya algunos años las sectas evangélicas se encargan de la guerra contra la superstición en Haití. Esas sectas vienen de Estados Unidos, un país que no tiene piso 13 en sus edificios, ni fila 13 en sus aviones, habitado por civilizados cristianos que creen que Dios hizo el mundo en una semana.

En ese país, el predicador evangélico Pat Robertson explicó en la televisión el terremoto del año 2010. Este pastor de almas reveló que los negros haitianos habían conquistado la independencia de Francia a partir de una ceremonia vudú, invocando la ayuda del Diablo desde lo hondo de la selva haitiana. El Diablo, que les dio la libertad, envió al terremoto para pasarles la cuenta”…

Essa é também uma das razões da implantação da base militar de Guantánamo, tornada prisão por parte do império, num dos recantos mais orientais de Cuba: é simultaneamente um constante “aviso” em relação à revolução cubana e ao tradicionalmente insurgente Haiti, que lhe fica tão próximo!

Guantánamo tem seu próprio poder “sugestivo e persuasivo” enquanto prisão: contribui para que o império mantenha a pretensão de tornar Cuba e o Haiti como países bloqueados e, na medida do possível, “invisíveis”!!!

Gravura: Quadro dum pintor haitiano contemporâneo e não referenciado.

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