Diário de Notícias,
editorial
O relatório sobre a
corrupção ontem divulgado pela Comissão Europeia não traz, infelizmente,
nenhuma novidade sobre Portugal. Dá conta de que os casos de corrupção
aumentaram, que a perceção da existência de corrupção por parte dos cidadãos
também não para de crescer e que os programas governamentais de combate a essa
corrupção têm sido ineficazes. Nenhum destes itens, negativos para a
credibilidade do País, surpreende. O que é surpreendente é que eles se repitam
sem que nada seja feito.
A corrupção em
Portugal ou ganha características de escândalo quando envolve figuras e
personalidades de renome, ou é quase aceite como uma simples e inofensiva
característica dos povos do Sul quando se resume à pequena cunha ou tráfico de
interesses. E é esse o grande erro. Tal como na teoria sobre o crime do
anterior mayor de Nova Iorque, Rudolf Giuliani (defendo tolerância zero para
quem parte hoje uma janela para evitar que se torne um assassino um dia mais
tarde), também na corrupção a "cunha" de hoje acaba sempre da pior
forma no futuro.
Mas em Portugal
essa evolução é desvalorizada. Das 60 queixas relativas a crimes de corrupção
reportadas ao Conselho de Prevenção da Corrupção e analisadas pela justiça em
2012, apenas em seis as decisões judiciais defenderam condenações, uns meros
10%. Mais de metade acaba arquivada. A estratégia nacional para prevenir este
fenómeno, que a Comissão Europeia exige a Portugal, já devia estar há muito em
prática. Mas provavelmente só daqui a um ano, quando o organismo europeu
elaborar o seu novo relatório, ouviremos falar de novo no tema. Porque a
corrupção em Portugal não tem sido uma prioridade. Basta analisar todos os
discursos feitos na abertura solene do ano judicial há uma semana. Nem um
tocou, ao de leve que fosse, num dos problemas que é transversal à sociedade
portuguesa.
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