terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Portugal: A PRIORIDADE À CORRUPÇÃO

 

Diário de Notícias, editorial
 
O relatório sobre a corrupção ontem divulgado pela Comissão Europeia não traz, infelizmente, nenhuma novidade sobre Portugal. Dá conta de que os casos de corrupção aumentaram, que a perceção da existência de corrupção por parte dos cidadãos também não para de crescer e que os programas governamentais de combate a essa corrupção têm sido ineficazes. Nenhum destes itens, negativos para a credibilidade do País, surpreende. O que é surpreendente é que eles se repitam sem que nada seja feito.
 
A corrupção em Portugal ou ganha características de escândalo quando envolve figuras e personalidades de renome, ou é quase aceite como uma simples e inofensiva característica dos povos do Sul quando se resume à pequena cunha ou tráfico de interesses. E é esse o grande erro. Tal como na teoria sobre o crime do anterior mayor de Nova Iorque, Rudolf Giuliani (defendo tolerância zero para quem parte hoje uma janela para evitar que se torne um assassino um dia mais tarde), também na corrupção a "cunha" de hoje acaba sempre da pior forma no futuro.
 
Mas em Portugal essa evolução é desvalorizada. Das 60 queixas relativas a crimes de corrupção reportadas ao Conselho de Prevenção da Corrupção e analisadas pela justiça em 2012, apenas em seis as decisões judiciais defenderam condenações, uns meros 10%. Mais de metade acaba arquivada. A estratégia nacional para prevenir este fenómeno, que a Comissão Europeia exige a Portugal, já devia estar há muito em prática. Mas provavelmente só daqui a um ano, quando o organismo europeu elaborar o seu novo relatório, ouviremos falar de novo no tema. Porque a corrupção em Portugal não tem sido uma prioridade. Basta analisar todos os discursos feitos na abertura solene do ano judicial há uma semana. Nem um tocou, ao de leve que fosse, num dos problemas que é transversal à sociedade portuguesa.
 

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