Portugueses
residentes na Suíça manifestaram-se preocupados com o futuro depois do
resultado do referendo que hoje legitimou a introdução de restrições à entrada
de imigrantes na Federação Helvética.
O "sim"
ao endurecimento da política de imigração suíça, que prevê restrições que
abrangem cidadãos de países da União Europeia, ganhou com 50,34% dos votos, num
referendo em que a participação superou os 50%.
O conselheiro das
comunidades portuguesas na Suíça, Manuel Beja, disse à Lusa que o resultado do
referendo "não coloca unicamente em causa o acordo de livre circulação de
pessoas entre a União Europeia e a Suíça, mas é também um momento de grande
preocupação quanto ao futuro das comunidades emigrantes assim como da própria
economia suíça, tão dependente deste fluxo de mão-de-obra".
Marília Mendes,
responsável dos associados portugueses do sindicato suíço UNIA, está
"dececionada mas não surpreendida" dado que nos últimos dias a
tendência a favor da iniciativa era forte.
"As
consequências não serão imediatas (...), mas existirão. Os portugueses perderão
muitos dos direitos adquiridos com a entrada em vigor dos acordos com a União
Europeia" disse.
Alberto, 61 anos, é
eletricista, chegou à Suíça com a mulher e o filho há cinco anos e recebeu há
quatro anos uma autorização de residência temporária, válida por cinco anos.
Agora está à espera de uma autorização de residência permanente, mas receia
conseguir o documento.
"Quando cheguei
não imaginava isto. A Suíça é um país de imigrantes (...) mas agora devido à
crise já se esperava uma coisa parecida porque, entre os países de Europa, a
Suíça é que estava melhor. (...) Só espero que as pessoas que estão cá possam
ficar. Não sei como vai ser para pessoas que estão cá há pouco tempo, como
eu", disse à Lusa.
Maria, 57 anos, é
gerente de um restaurante, está na Suíça há 35 anos e conhece bem a situação
que agora ameaça muito imigrantes.
"Até me
arrepiei, nunca pensei que isto fosse acontecer. Nos primeiros anos em que vim
cá, as autoridades cancelaram as autorizações e ficámos sem papéis, sem
direitos. Muita gente perdeu seu emprego", disse Maria, que obteve a sua
autorização de residência permanente há 25 anos e está a gora a considerar
pedir a nacionalidade suíça.
"Tenho mais
vontade de pedir a nacionalidade porque tenho medo que um dia me tirem tudo o
que investi aqui", afirma.
Depois da
divulgação dos resultados do referendo, o Conselho Federal, o governo suíço,
anunciou o compromisso de "começar sem tardar os trabalhos para aplicar a
decisão do povo", apesar de ter recomendado o voto no "não".
A maioria dos votos
favoráveis às restrições à imigração concentrou-se nos cantões de língua alemã,
mas foi no cantão de Ticino, de expressão italiana, onde o "sim" teve
mais votos, 68,2%.
Os cantões de
Genebra, Basileia-cidade, Vaud e Neuchâtel rejeitaram a iniciativa com
respetivamente 60,9%, 61%, 61,1% e 60,7% dos votos expressos.
As novas
disposições pretendem limitar o número de autorizações de residência para
estrangeiros através de um sistema de quotas e contingentes anuais.
O próximo passo
para os políticos suíços será o de definir o número de estrangeiros que serão
aceites anualmente e os critérios de admissão para que a nova legislação entre
em vigor dentro de três ou quatro anos.
"O resultado
de hoje indica um mal-estar da população provocado pelas vagas crescentes de
imigração nestes últimos anos", refere um comunicado do Conselho federal
sobre o resultado do referendo.
O presidente da
Confederação Helvética, Didier Burkhalter, indicou que o Conselho Federal irá
examinar nos próximos dias a politica europeia da Suíça, já que o resultado de
hoje afeita as relações Suíça-União Europeia.
VYE // JMR – Lusa –
foto WALTER BIERI/KEYSTONE
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